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Eleições 2022 indústria

Lula promete nova política industrial sem rever erros do passado

Em encontro na Fiesp, petista enalteceu políticas de seus governos e se enganou ao falar da China

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São Paulo

Na campanha eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promete reerguer a indústria brasileira com uma aposta no futuro, apoiando projetos inovadores que permitam ao Brasil competir no desenvolvimento de fontes de energia limpa e na economia digital.

Na terça-feira (9), em seu encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o líder petista conclamou os industriais a identificar os nichos em que o país deveria investir e se comprometeu a ajudá-los. "A gente faz", afirmou. "Eu quero fazer."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o empresário Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp. - Marlene Bergamo/Folhapress

Não se sabe de onde virá o dinheiro, nem como serão feitas as escolhas, mas Lula deixou claro que, se voltar a governar o país, quer repetir a receita adotada em seus dois mandatos como presidente, quando usou bancos oficiais e estatais para estimular a indústria nacional.

O líder petista apontou várias iniciativas de seu governo como exemplares, lamentou seu abandono pelos presidentes que o sucederam e culpou até a timidez dos empresários por alguns insucessos, mas em nenhum momento examinou os erros que levaram várias a fracassar.

Lula prometeu reerguer o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que os governos petistas turbinaram com empréstimos bilionários do Tesouro e seus sucessores esvaziaram, fazendo a instituição devolver os recursos antes do prazo previsto.

Lula disse que o banco foi essencial para amortecer o impacto da crise internacional de 2008 e sustentar investimentos, mas as estatísticas mostram que eles voltaram a perder fôlego em dois anos, depois que o pior da crise externa passou e a economia voltou a dar sinais de fraqueza.

O petista afirmou também que era preciso "fazer justiça" ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que desonerou vários setores da indústria durante o governo Dilma Rousseff (PT), com a intenção de preservar empregos e ajudar as empresas a manter sua competitividade.

Mas a própria Dilma apontou a política como um erro após ser afastada da Presidência, dizendo numa entrevista que muitas empresas aproveitaram o alívio nos impostos para aumentar margens de lucro, em vez de investir. Lula também criticou as desonerações no passado.

O ex-presidente enalteceu seu programa de incentivo à indústria naval e as exigências de conteúdo nacional adotadas nos governos petistas para equipamentos destinados à exploração do petróleo da camada pré-sal, mas também evitou discutir as dificuldades que elas criaram.

Até a Petrobras se insurgiu contra a política, recorrendo à Justiça para se livrar de exigências que tornariam inviável a exploração do campo de Libra, o maior do pré-sal. A disputa entre a estatal e seus fornecedores nacionais atrasou em dois anos a contratação da plataforma.

"É para isso que existe o BNDES, é para ensinar essas empresas a fazerem as coisas", disse Lula na Fiesp, após descrever o programa da indústria naval como um caso de sucesso. O setor entrou em colapso após a Operação Lava Jato e a redução dos investimentos da Petrobras.

Navios cuja construção no estaleiro Mauá, no Rio de Janeiro, foi paralisada depois da deflagração da Operação Lava Jato. - Ricardo Borges/Folhapress

O líder petista manifestou preocupação com o avanço da China na fabricação de eletrodomésticos, máquinas, componentes eletrônicos e outros produtos, mas errou ao apontar dados globais como se indicassem a penetração da indústria chinesa no mercado brasileiro.

"A gente tem a ilusão de que a China está ocupando a África, a China está ocupando a América Latina", disse aos empresários. "Não, ela está ocupando o Brasil. Ela está tomando conta do Brasil. Eu achei muito grave isso. Coisa que a gente fazia, coisa que a gente sabe fazer."

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a importação de produtos da China representou metade das importações do setor no ano passado, e foi equivalente a metade da produção nacional —bem menos do que Lula sugeriu com seus números.

Muitas indústrias brasileiras foram prejudicadas pela competição com os chineses, mas muitas também aproveitaram oportunidades criadas pela maior integração da economia mundial para encontrar novos fornecedores, se tornar mais competitivas e conquistar mercados.

Ao responder a uma pergunta de Dan Ioschpe, presidente do conselho de administração da Iochpe-Maxion, sobre o declínio da indústria brasileira, Lula criticou um empresário que teria recebido apoio do BNDES em seu governo e depois contratado na China parte de sua produção.

Lula não deu nome aos bois, mas não era preciso ir longe para achar um caso parecido. Líder mundial na produção de rodas para carros, a Iochpe-Maxion sobreviveu à derrocada do setor de autopeças no Brasil e hoje tem fábricas em 14 países, incluindo duas na China.

Pouco depois, o petista fez um afago no presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, ao lembrar seu pai, José Alencar, fundador da empresa da família, a Coteminas, e vice de Lula em seus dois mandatos: "O único empresário que falava grosso: 'Eu não tenho medo da China'."

"As coisas mudam", brincou Josué. Perto do fim do governo Lula, a tradicional fabricante de artigos de cama, mesa e banho se uniu a um gigante do setor têxtil nos Estados Unidos e criou a Springs Global, para enfrentar a concorrência chinesa e acessar novos mercados.

Controlado pelos brasileiros, o grupo fechou todas as fábricas que tinha nos EUA e concentrou a maior parte da sua produção no Brasil, onde os custos de mão-de-obra são menores. Há alguns anos, Josué cogitou abrir uma fábrica na China também, mas o projeto não avançou.

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