Descrição de chapéu copom juros Selic

BC vê impacto do choque de juros no 'aumento moderado' da inadimplência, mostra ata

Na última reunião, Copom manteve taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano

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Brasília

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central já vê os impactos do choque de juros nas concessões de crédito para as famílias e no aumento moderado da inadimplência, conforme ata divulgada nesta terça-feira (1º).

Os efeitos da política monetária sobre a atividade econômica também já são perceptíveis, diz a autoridade monetária, embora reconheça que o período da pandemia tenha dificuldado a remoção dos ajustes sazonais das estatísticas.

"Nota-se um impacto nos dados recentes referentes tanto à composição das concessões de crédito para as famílias quanto ao aumento moderado da inadimplência, em parte associados a uma dinâmica na renda real disponível que sugere retração", disse o BC no documento.

Fachada do Banco Central, em Brasília - Antonio Molina - 11.jan.22/Folhapress

Na última quarta-feira (26), às vésperas do segundo turno das eleições, o Copom manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano.

Foi a segunda reunião seguida em que não houve alteração no patamar da Selic. No encontro anterior, em setembro, o colegiado do BC interrompeu o seu mais intenso ciclo de aperto monetário desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999.

Segundo levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) divulgado em outubro, a inadimplência manteve um elevado ritmo de alta em setembro. No mês, o volume de consumidores que atrasaram o pagamento de dívidas atingiu 30%, o maior desde o início da série histórica.

Foi o terceiro recorde consecutivo do índice, que evoluiu 0,4 ponto percentual em relação ao mês de agosto. Em um cenário econômico marcado pelos juros altos, os débitos já contraídos encarecem e apertam o orçamento das famílias, especialmente as de menor renda.

"Quase 80% das concessões mais recentes têm sido concentradas no cartão de crédito e também teve aumento das concessões no cheque especial, que são modalidades com taxas de juros mais altas no mercado. Isso denota um crédito muito de curto prazo com uma qualidade que não é das melhores", disse Izis Ferreira, economista da CNC.

A especialista alerta que preços muito altos tiram espaço dos orçamentos e reduzem poder de compra, e as pessoas acabam precisando do crédito para sustentar seu nível de consumo. "A inadimplência tem mantido tendência de alta e esse é, sim, um problema mais latente entre as famílias de menor renda", afirmou.

Na ata, o BC também destacou que houve redução da ociosidade da economia –parâmetro que indica se a economia está rodando acima ou abaixo de seu potencial– e que continuará avaliando a evolução da inflação de serviços.

"O Copom reforça que incorpora, em sua projeção, um aumento da ociosidade ao longo do horizonte de política monetária, como reflexo do ajuste monetário empreendido nos últimos trimestres", disse.

"O comitê segue acompanhando, com especial atenção, a evolução da inflação de serviços, que depende tanto da inércia inflacionária quanto do hiato do produto, e cuja trajetória ficará mais clara ao longo do tempo", continuou. O hiato do produto mede a diferença entre o crescimento potencial da economia e o efetivo.

Segundo o colegiado do BC, o conjunto de indicadores sinalizou um ritmo mais moderado de crescimento, acrescentando que o efeito defasado da política monetária sobre a economia aponta para o arrefecimento da atividade econômica à frente.

"Por um lado, o ímpeto da reabertura da economia no setor de serviços e os estímulos fiscais ainda impulsionam o crescimento do consumo, embora esses impulsos devam arrefecer. Por outro, o impacto da política monetária e suas defasagens aponta para uma redução do ritmo da atividade econômica, que tende a se acentuar nos próximos trimestres", afirmou.

O BC voltou a fazer alertas sobre a questão fiscal na ata da última reunião, ressaltando que avalia que o aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre a trajetória fiscal a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco do país e as expectativas de inflação.

"O comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação", disse.

Em junho, governo Jair Bolsonaro (PL) havia aprovado uma PEC (proposta de emenda à Constituição) liberando benefícios sociais turbinados à população em meio à corrida presidencial. No segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), eleito presidente do Brasil pela terceira vez no último domingo (30), fez promessas que terão impacto nas contas do governo em 2023.

A questão fiscal também esteve presente em sua análise do ambiente externo, em uma referência indireta ao cenário no Reino Unido. O gatilho para a renúncia de Liz Truss ao cargo de primeira-ministra foi um ousado programa econômico de corte de impostos e novos auxílios, para combater a alta no custo de vida e a crise de energia desencadeadas pela Guerra da Ucrânia.

"O comitê notou uma maior sensibilidade dos mercados a desenvolvimentos que afetem os fundamentos fiscais, inclusive em países avançados", disse. Segundo o BC, essa sensibilidade deve ser motivo de atenção para países emergentes, como o Brasil.

"A conjunção de taxas de juros mais altas com endividamentos soberanos em patamares historicamente elevados suscita questionamentos sobre a sustentabilidade do endividamento público em diversos países. Além disso, a menor liquidez presente nos mercados de títulos soberanos eleva a percepção de riscos e demanda monitoramento", acrescentou.

Para Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, a ata do Copom reforça a mensagem de que o BC manterá a estratégia de juros estáveis por tempo prolongado. "Esperamos que o comitê mantenha a taxa básica no nível atual até meados de 2023, quando deve iniciar um ciclo de afrouxamento gradual", escreveu no relatório.

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