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Inflação persistente ofusca Black Friday nos EUA

Consumidores apertam os cintos, e excesso de oferta torna-se problema para lojistas

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John Biers
Nova York | AFP

Grandes descontos são esperados nos Estados Unidos nesta Black Friday, tradicional início da temporada de compras natalinas, mas o desafio será fazer o consumidor gastar em um contexto de forte inflação.

Há um ano, os varejistas enfrentavam uma escassez de produtos, devido aos atrasos na distribuição e ao fechamento de fábricas, em razão da pandemia da Covid-19.

Para evitar situação similar, o setor antecipou as importações de Natal este ano, mas ficou vulnerável ao excesso de oferta em um momento que os consumidores estão apertando os cintos.

Homem faz compras em loja da Target em Chicago, nos EUA - Jim Vondruska/Reuters

"A escassez de suprimentos foi o problema de ontem", disse o CEO da consultoria GlobalData Retail, Neil Saunders.

"O problema de hoje é ter muita coisa" à venda, completou.

De acordo com Saunders, os varejistas reduziram seus estoques nos últimos meses, mas o excesso de oferta cria condições excepcionais para quem busca pechinchas em áreas como eletrônicos, eletrodomésticos e vestuário.

Juameelah Henderson sempre confere o que está em liquidação, "ainda mais agora", disse, saindo da loja de roupas Old Navy, em Nova York, com quatro sacolas na mão.

Os preços estavam "muito bons", justificou.

Os custos mais altos da gasolina e de produtos básicos domésticos, como carne e grãos, são um problema da economia como um todo, mas não impactam a vida de todo o mundo da mesma forma.

"Os [consumidores] de baixa renda são claramente mais afetados pela alta inflação", afirmou Claire Li, analista da Moody's, "porque gastam mais, proporcionalmente, em produtos básicos".

Queda na poupança

O aumento dos preços cede de forma gradual. Ainda assim, porém, em 10 de novembro, o Índice de Preços ao Consumidor estava em 7,7% em 12 meses, um nível alto para os americanos.

Até agora, os consumidores americanos têm-se mostrado resistentes às diversas crises vividas desde o início da pandemia, gastando mais do que o esperado, mesmo quando os indicadores de confiança mostravam suas preocupações.

Parte da explicação está em uma poupança incomumente robusta. Muitas famílias aproveitaram a ajuda do governo concedida durante a pandemia, quando o consumo estava em mínimos históricos, devido às restrições impostas para combater a propagação do vírus.

O colchão está, no entanto, começando a diminuir. Depois de um pico de US$ 2,5 trilhões em meados de 2021, a poupança americana voltou a cair para US$ 1,7 trilhão um ano depois, segundo a Moody's.

E os consumidores com renda anual inferior a US$ 35 mil são os primeiros a serem afetados, com uma queda de 39% em suas economias nos primeiros seis meses do ano. Como resultado, o crédito ao consumidor está em alta, conforme dados do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos Estados Unidos).

"Vemos uma pressão contínua", destacou Michael Witynski, gerente-geral da rede de baixo custo Dollar Tree, que observa uma "mudança" nos consumidores, "que estão muito mais concentrados em suas necessidades e tentam garantir que terão dinheiro suficiente para terminar o mês".

Panorama misto

Nos últimos dias, os relatórios de lucros dos varejistas mostraram uma imagem mista sobre a saúde do consumidor.

A rede varejista popular Target foi atingida, enfrentando uma forte queda em suas vendas de outubro, o que pode antecipar uma fraca temporada natalina.

"Tivemos consumidores lidando com uma inflação muito persistente, trimestre após trimestre", disse seu CEO, Brian Cornell, em teleconferência com analistas.

"São muito cautelosos. Estão muito atentos e dizem 'bom, se eu tiver que comprar, quero que seja uma boa oferta'", completou.

Já seu concorrente Lowe's, especializado em decoração, está otimista, mencionando um terceiro trimestre "sólido" e sem sinais de enfraquecimento.

"Não estamos vendo nada parecido com uma queda nas compras", afirmou seu CEO, Marvin Ellison.

Consumidores como Charmaine Taylor, que consulta os sites das companhias aéreas com frequência, estão de olho. Até agora, Taylor viu suas aspirações de viajar frustradas, devido aos preços exorbitantes das passagens aéreas. E ela também não sabe quanto dinheiro poderá gastar em presentes para a família este ano.

"Estou tentando comprar alguns presentes", disse Taylor, em um parque no Harlem, no início desta semana. "Não sei se vou conseguir. A inflação está batendo forte", desabafou.

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