Josué Gomes rejeita assembleia de insatisfeitos na Fiesp

Gestão é pressionada por sindicatos em reunião com 'lavagem de roupa suja'

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São Paulo

Uma assembleia solicitada por 78 sindicatos ligados à Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), vista como um movimento para pressionar o atual presidente, Josué Gomes, a renunciar, não será convocada.

Em reunião da diretoria na segunda (7), Gomes afirmou que, pelo estatuto da federação, pedidos de assembleia devem ser acompanhados de motivos objetivos e detalhados. Segundo pessoas próximas do conflito, ele consultou juristas sobre o assunto.

A Fiesp diz que não comenta assuntos internos da entidade.

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Josué Gomes, Paulo Skaf e Rafael Cervone durante a cerimônia de posse da nova diretoria da Fiesp - Jardiel Carvalho-09.dez.21/Folhapress

Pessoas que estavam na reunião descreveram o encontro como tenso. Dirigentes contra e a favor da realização da assembleia expuseram seus argumentos, sendo vaiados e aplaudidos ao mesmo tempo. Termos como "lavar a roupa suja", "barraco" e "clima pesado" foram usados de lado a lado.

Dirigente de uma entidade que assinou o pedido diz entender que a assembleia é a instância adequada para discutir a insatisfação dos sindicatos com a atual gestão, uma vez que apenas seus representantes participam. Nas reuniões da diretoria, por outro lado, há convidados e os demais profissionais contratados que passaram a ocupar cargos de direção na gestão Gomes.

Esses cargos motivam parte da rusga entre os sindicatos e a atual administração. A razão central da insatisfação, dizem dirigentes, é que a gestão de Josué Gomes teria esvaziado a presença e influência dos sindicatos nos conselhos e nas diretorias, tradicionalmente ocupados por pessoas indicadas pelas entidades.

Atualmente, muitas das diretorias da federação são ocupadas por profissionais contratados. O atual presidente criou conselhos consultivos –ele citou essa medida em sua explicação durante a reunião– para descentralizar as decisões, antes concentradas na presidência.

As novas nomeações, bem vistas do lado de fora do prédio da avenida Paulista, desagradaram dirigentes antigos, acostumados a fazer suas indicações e a comandar setores da entidades.

Apesar de Josué Gomes ter recebido o apoio de Paulo Skaf, seu estilo de administração, citado por alguns como menos político e mais discreto que o do antecessor, deixou insatisfeitos. Skaf teria sido, em seus 17 anos à frente da federação, mais próximo dos presidentes e diretores de sindicatos.

Um dirigente ouvido pela Folha considera injusto atribuir a Skaf a gestação da carta que pediu a realização da assembleia. O ex-presidente da Fiesp teria participado de algumas reuniões e foi procurado por aliados para interceder junto à atual direção.

Quem puxou o pedido, porém, não teria sido ele, mas seus aliados. Mesmo entre dirigentes que não são próximos da atual gestão, o pedido de assembleia e mesmo a pressão sobre Gomes são vistos com ressalvas.

Segundo relatos, um dos dirigentes que se levantou para defender a rejeição da convocação da assembleia é um opositor de Josué Gomes que, na eleição para a presidência no ano passado, também se opunha a Skaf.

Mas Josué recebe apoio também de quem apoiou opositores.

Synésio Batista Costa, do Sindibrinquedos (Sindicato das Indústrias de Brinquedos), que é também presidente da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos), disse à Folha que discorda da articulação pela realização da assembleia.

"Defendi que em hipótese alguma vamos rasgar o estatuto", afirmou, sobre sua participação na reunião. Costa apoiou a chapa que era encabeçada por José Ricardo Roriz, da indústria plástica.

Adversários de Josué defendem convocação autônoma de assembleia

Josué Gomes tem até o domingo, 20, para convocar ou não a assembleia solicitada pelos sindicatos. Dirigentes ligados ao grupo que se opõe a ele defendem que o estatuto prevê a "auto-convocação". Se, até lá, Gomes não chamar a reunião, os sindicatos pretendem publicar a carta encaminhada à presidência da entidade, já prevendo a realização da assembleia dez dias depois.

O presidente da Fiesp propôs reuniões com os sindicatos, independentemente da decisão sobre a assembleia. A Fiesp tem 131 sindicatos patronais, dos quais 106 teriam direito a voto.

Como antecipou a coluna Painel SA, a pressão sobre Josué Gomes se intensificou em meados deste ano depois que a Fiesp divulgou suas diretrizes para os presidenciáveis, lido internamente como de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL) por defender o respeito ao estado de direito.

O nome de Josué Gomes tem sido citado como um dos cotados para assumir o Ministério da Indústria no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Skaf, seu antecessor, declarou voto a Bolsonaro (ele chegou a ser cotado para vice de Tarcísio de Feitas (Republicanos) na disputa pelo governo de São Paulo).

Em agosto, a federação também organizou um manifesto de entidades em defesa da democracia. Apenas 13,7% dos sindicatos filiados referendaram a publicação. O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) também não assinou.

No início de setembro, para a Folha, Rafael Cervone, presidente do Ciesp e vice-presidente da Fiesp, disse que falar em racha na federação era "loucura". A ausência da entidade no documento teria ocorrido, segundo ele, por falta de tempo hábil para discutir o assunto com as empresas associadas.

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