Descrição de chapéu Reforma tributária

Melhor qualidade dos gastos e reforma tributária serão prioridade de Lula 3, diz Haddad a banqueiros

Petista é cotado para ocupar Ministério da Fazenda em governo Lula 3, com Persio Arida no Planejamento

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São Paulo

Em evento com os presidentes dos grandes bancos brasileiros, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, cotado para a pasta da Fazenda no futuro governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou que a reforma tributária e uma melhoria na qualidade dos gastos estarão entre as prioridades a partir de 2023.

Na saída do evento, em conversa com jornalistas, Haddad negou que tenha sido convidado para assumir o ministério até o momento, e que tem uma relação de amizade com o economista Persio Arida, um dos nomes cotados para compor a equipe econômica do governo.

"Se eu vou trabalhar no governo e com quem, é uma deliberação que cabe ao presidente da República", afirmou Haddad nesta sexta (25).

Banqueiro André Esteves, ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, presidente da Febraban, Isaac Sidney e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (da esquerda para a direita), durante evento da federação de bancos em São Paulo - Mathilde Missioneiro - 25.nov.2022/Folhapress

Entre os planos do PT está formar uma dobradinha entre o ex-prefeito de São Paulo e Persio no comando da área econômica, de forma a manter o partido no comando de decisões estratégicas –mas abrindo espaço para a influência de um economista liberal na formulação de políticas públicas.

No evento de confraternização de final de ano promovido pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Haddad foi recebido pelo presidente do Bradesco, Octávio de Lazari Junior, e pelo presidente da Febraban, Isaac Sidney.

À mesa com ele estavam os presidentes do Itaú, Milton Maluhy Filho, do Santander Brasil, Mário Leão, do BTG Pactual, André Esteves, e da Caixa, Daniella Marques. Presidente do Banco do Brasil, Fausto Ribeiro não estava no evento, tendo permanecido em Brasília em agenda com clientes, e foi representando pelo vice-presidente financeiro e de relações com investidores do banco, Ricardo Forni.

À mesma mesa, sentou-se o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que também vem sendo cotado como ministro da Fazenda. Ele foi a convite do evento, assim com outros parlamentares (entre eles Reginaldo Lopes, líder do partido na Câmara), mas foi colocado pela organização em lugar de destaque entre os anfitriões do evento.

Procurados, integrantes do partido ressaltam que, apesar da deferência concedida a Padilha, Haddad é quem foi o escolhido por Lula para representá-lo no almoço.

Haddad abriu seu discurso no encontro ressaltando estar falando em nome do presidente eleito, e não no seu próprio. Segundo o petista, Lula passou uma determinação clara para que "possamos dar logo no início do próximo governo prioridade total à reforma tributária."

"A qualidade da despesa pública no Brasil piorou muito", disse Haddad. "Temos uma tarefa enorme de reconfigurar o Orçamento e dar a ele mais transparência."

O ex-ministro disse ainda que a busca por maior transparência não significa tirar o protagonismo do Legislativo.

"O Congresso deve e pode participar da gestão do Orçamento no que diz respeito ao direcionamento dos recursos e despesas parlamentares consideradas prioritárias, mas não significa se descomprometer com a transparência e a eficiência do gasto público."

O ex-prefeito de São Paulo fez referência à proposta de reforma focada nos tributos indiretos elaborada por Bernard Appy e Nelson Machado, e disse que será esse o foco inicial nas discussões relativas a alterações na política tributária do país.


Haddad acrescentou que, em uma segunda etapa, o governo também deve tratar de tributação de renda e patrimônio.

"Qualquer advogado tributário consultado vai dizer que é um verdadeiro caos que estamos vivendo no Brasil, o que afugenta investimentos e atrapalha os investidores sediados no Brasil".

"O presidente Lula é um homem de diálogo, e nunca opôs responsabilidade fiscal e responsabilidade social", afirmou o petista, em conversa com jornalistas na saída do evento.

Segundo ele, "a gente fica muito monotemático e esquece que tem um mundo de coisas para resolver, desenhos de programas mal feitos, choque de gestão, uma série de problemas que aconteceram nos últimos anos na saúde, na educação, subfinanciamento da ciência, sobretudo as universidades e o antigo Ministério da Ciência e Tecnologia sofrendo com cortes de verbas", completou.

Padilha não fez discurso.

Uma participante que acompanhou o evento e que atuou por anos em grandes bancos e corretoras afirmou que considerou a participação de Haddad fraca.

Ela diz ter sentido a falta de um plano de governo mais concreto, sem indicações a respeito de reformas estruturais que não a tributária, que já tem sido discutida há algum tempo.

Para um segundo participante do encontro, a participação do petista foi considerada neutra. Segundo essa fonte, ainda é cedo para fazer qualquer tipo de avaliação mais aprofundada com base no discurso proferido por Haddad, que não trouxe maiores novidades em relação ao que já tem sido sinalizado pela equipe de transição do governo.

Ainda que o mercado financeiro demonstrasse, de um modo geral, uma preferência pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e a continuidade da política econômica do ministro Paulo Guedes, o setor bancário compareceu em peso ao evento da Febraban para acompanhar o discurso do ex-prefeito de São Paulo. O encontro reuniu cerca de 350 pessoas no bairro do Itaim Bibi, região nobre da capital paulista e principal reduto do mercado financeiro no país.

No almoço sentado ao lado dos principais banqueiros do país, Haddad pareceu estar confortável ao lado dos representantes do capital, tendo ficado por cerca de meia hora antes de sair para um encontro previsto com o presidente Lula. Ex-ministro da Saúde e também cotado para a Economia, Alexandre Padilha também estava presente no encontro.

Segundo dois participantes do encontro ouvidos reservadamente pelo Painel S.A. que presidem importantes instituições financeiras do país, Lula deverá escolher um dos nomes presentes ao evento para comandar a Economia.

Ao discursar na abertura do evento, o presidente da Febraban afirmou que, "independentemente do governo que sai e do novo que chegará em breve, nossa obsessão será perseverar na direção de os bancos funcionarem como alavanca para o crescimento sustentável. A pauta do setor não está vinculada a ideologias dos nossos governantes; vamos contribuir com a institucionalidade e a governabilidade do país".

Segundo Isaac, é preciso encontrar, com equilíbrio das contas, os meios para ampliar os investimentos públicos e expandir, consideravelmente, a capacidade de atração do capital privado, "que está disponível e ávido para atracar aqui."

Ele afirmou ainda que "o Brasil precisa voltar a ter previsibilidade". Para que o capital privado aporte recursos em empreendimentos de longo prazo, são necessários estabilidade macroeconômica, funding de longo prazo e um crescimento sustentável, afirmou o executivo.

"As regras do jogo precisam ser estabelecidas numa perspectiva de longo prazo. O investimento não dialoga com surpresas institucionais, instabilidade, confrontos e ruídos políticos, falta de previsibilidade e de segurança jurídica."

Colaborou Catia Seabra

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