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PT mira até Flávio Bolsonaro em plano para aprovar PEC no Senado

Petistas querem conversar com todos os integrantes da CCJ, onde começará a tramitação

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Brasília

O PT traçou um plano nesta quinta-feira (17) para falar com todos os senadores da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) sobre a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, principal aposta do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para o pagamento do Bolsa Família.

A tarefa foi dividida entre o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PT-PA), o senador eleito Wellington Dias (PT-PI) —escalado por Lula para negociar o Orçamento de 2023— e o senador Jaques Wagner (PT-BA). A minuta da proposta foi apresentada ao Congresso nesta quarta-feira (16).

Rocha, por exemplo, ficou com a missão de falar com o líder do governo de Jair Bolsonaro (PL), Carlos Portinho (PL-RJ). Em entrevista à Folha, Portinho disse que o texto estava sendo discutido em uma "confraria do PT", sem diálogo. Depois das críticas, os dois conversaram pessoalmente nesta quinta.

O presidente da CCJ, Davi Alcolumbre, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, o relator-geral do Orçamento, Marcelo Castro, e o senador Alexandre Silveira durante entrega da minuta da PEC nessa quarta - Pedro Ladeira - 16.nov.22/Folhapress

Outros líderes fizeram reclamações semelhantes ao presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). O parlamentar relatou a interlocutores de Lula que muitos senadores criticaram a condução da articulação política do governo eleito, e estão se sentindo excluídos por não terem sido procurados.

O plano do PT é falar individualmente com todos os membros da CCJ e aproveitar o esforço concentrado do Senado, na semana que vem, para buscar os demais senadores, incluindo o filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

A ideia é deixar claro que o debate, a partir de agora, após a apresentação da minuta da PEC, não estará restrito ao PT, e que o texto é apenas um esboço. Cada senador, segundo um dos interlocutores de Lula no Congresso, será tratado como uma "instituição".

Após a entrega da minuta ao relator-geral do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou nessa quarta que não havia nenhuma PEC, mas sim "uma proposta, um anteprojeto".

Embora outros senadores estejam ajudando na articulação, como Alexandre Silveira (PSD-MG), Carlos Fávaro (PSD-MT) e o próprio presidente da CCJ, petistas avaliam que os parlamentares também fazem questão de conversar com o grupo que está no entorno de Lula para se sentirem prestigiados.

Após a reunião com Paulo Rocha, Portinho disse que o governo eleito "perdeu tempo", mas afirmou que a base de Bolsonaro está disposta a conversar sobre a manutenção do Auxílio Brasil —que voltará a ser chamado de Bolsa Família— no valor de R$ 600 e sobre a recomposição do salário mínimo.

O líder do governo atual reclamou, no entanto, do prazo de quatro anos para a excepcionalização do benefício social, e cobrou uma definição acerca do Ministério da Economia. Portinho também criticou a intenção da equipe de Lula de votar a PEC na CCJ e no plenário do Senado no mesmo dia.

"Não pode botar uma venda nos olhos, e assinar uma PEC sem ter um compromisso com o futuro. E precisa de um ministro [da Economia], sem dúvida alguma, para avalizar essa proposta. Saber quem é o ministro. Isso vai facilitar muito o diálogo aqui dentro [do Senado]", afirmou Portinho.

"Falei hoje ao Paulo Rocha com todas as letras: diz quem é o ministro [da Economia] e a gente já tem um caminho. O diálogo foi aberto. Já mostra uma boa vontade, reconheço, o gesto do líder do PT, Paulo Rocha, de me procurar. E a gente deve avançar, como sempre fizemos em vários projetos."

O PT conta ainda com o apoio da senadora Simone Tebet (MDB-MS) para a articulação no Senado. Tebet —candidata derrotada à Presidência que apoiou Lula no segundo turno e hoje integra a equipe de transição na área de desenvolvimento social— foi presidente da CCJ antes de Alcolumbre e hoje é membro titular da comissão.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou na terça-feira (15) que seria possível votar a PEC na última semana de novembro. A intenção é aprovar o texto na CCJ e no plenário do Senado no mesmo dia.

Em outra frente de articulação, a equipe de transição também decidiu criar um grupo com líderes da Câmara e do Senado de partidos aliados para discutir a aprovação da PEC. O grupo deve se reunir na próxima quarta-feira (23).

A medida foi anunciada durante a reunião do conselho político desta quinta, que contou com a presença de Alckmin. Parlamentares afirmam que a intenção é montar uma espécie de "comissão mista" para negociar o texto com deputados e senadores simultaneamente.

Há uma preocupação com o prazo apertado para aprovar a PEC. No cenário mais otimista, com pouca obstrução da oposição bolsonarista, o texto seria promulgado em três semanas. O grupo com líderes do Senado e da Câmara ajudaria a conciliar posições e aparar eventuais arestas.

No Senado, dois nomes são apontados como potenciais relatores da PEC: o de Alcolumbre e o de Silveira. O do senador mineiro seria mais forte pela proximidade com o presidente do Senado, na avaliação de parlamentares.

O anteprojeto apresentado nessa quarta retira o Auxílio Brasil do teto de gastos, regra fiscal que limita o crescimento das despesas à inflação. O texto não estipula prazo de validade para a medida, o que deixa a porta aberta para que ela seja permanente.

Integrantes do PT sabem que uma ala importante do Congresso defende restringir a validade da exceção a 2023, primeiro ano do governo Lula. Por isso, aliados do petista admitem negociar um prazo de quatro anos, o que é visto como um meio-termo para acenar a setores que temem um "cheque em branco".

Na terça, o Painel mostrou que Lula defendeu o prazo de quatro anos ao presidente do Senado em conversa reservada no Egito durante a COP27, a conferência do clima das Nações Unidas.

Pacheco teria reforçado ao presidente eleito que o teto é uma conquista do país e que o Congresso é favorável à manutenção da regra fiscal. No entanto, conforme ressaltou o senador mineiro, os parlamentares aprovariam a retirada do valor do Bolsa Família do teto por quatro anos.

A primeira assinatura no texto da PEC será do relator-geral do Orçamento, Marcelo Castro, que tem trabalhado para a aprovação do texto e defendido que o montante de R$ 175 bilhões fique de fora do teto de gastos.

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