A Blackstone advertiu sobre o risco de atrasos no lançamento de um novo fundo de private equity projetado para indivíduos ricos, enquanto enfrenta fortes saques de investidores em dois outros fundos, de imóveis e crédito, destinados a uma clientela semelhante.
O gestor de investimentos com sede em Nova York está se preparando para abrir um fundo chamado Blackstone Private Equity Strategies Fund, ou BXPE, que se tornaria sua principal estratégia para indivíduos ricos participarem de seus negócios de private equity. A Blackstone historicamente atende a clientes institucionais, como fundos de pensão.
Nos últimos dias, a Blackstone informou a investidores ricos e seus consultores financeiros que podem esperar que as condições de captação de recursos e os mercados financeiros melhorem antes de lançar o BXPE, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. Os clientes dos outros produtos de "varejo" da Blackstone disseram ao Financial Times que esperavam que o fundo fosse lançado no início de 2023.
O possível atraso ocorre dias depois que o grupo limitou as retiradas de seu Blackstone Real Estate Income Trust, de US$ 69 bilhões, após uma série de pedidos de resgate de seus ricos investidores individuais. Em 2021, a Blackstone lançou um produto similar voltado para aplicações de crédito que também recebeu pedidos de resgate.
As restrições aos saques do fundo imobiliário levantaram preocupações sobre seu crescimento futuro e atingiram o preço das ações da Blackstone. A Blackstone se recusou a comentar.
A companhia também informou aos clientes que não levantará novos capitais para veículos conhecidos como fundos Blackstone Total Alternative Solutions, que foram concebidos há quase uma década, quando inicialmente buscavam atrair ativos de indivíduos ricos.
Os fundos do BTAS têm vida útil de dez anos e são arrecadados anualmente. Em vez disso, a Blackstone planeja direcionar os clientes interessados para o BXPE, projetado para ser um veículo perpétuo, que não retorna o capital no fim da vida do fundo. Os clientes da BXPE comprometeriam seu capital quando investissem inicialmente, em vez de numa base de negócio a negócio.
Desde os anos logo após a crise financeira, o fundador da Blackstone, Stephen Schwarzman, vem buscando maneiras de tornar o negócio de aquisições disponível para uma faixa mais ampla de investidores além dos fundos de pensão, dotações e soberanos que tradicionalmente são os clientes da empresa.
A BXPE está sendo criada para investir em aquisições corporativas e estratégias orientadas a ações, incluindo investimentos de risco em estágio avançado, royalties musicais e a compra de participações em outras empresas de private equity ou seus fundos.
O fundo deverá ser o produto mais complexo da Blackstone até agora. Ao contrário do Breit e do Bcred, o fundo de crédito irmão, que geram uma parte significativa de seus retornos de distribuições regulares de dinheiro aos investidores, o BXPE não pagará dividendos.
Os investidores obterão seus retornos de vendas episódicas e imprevisíveis de ativos, ou da complexa e muitas vezes subjetiva valorização ou depreciação do valor patrimonial líquido trimestral de suas participações.
Essa estrutura pode ter problemas se os investidores começarem a retirar seu dinheiro quando os mercados caírem ou as condições financeiras ficarem estressadas, disse Kevin Kneafsey, estrategista sênior de investimentos da Allspring Global Investments.
"O mecanismo terá um problema quando as pessoas estiverem retirando dinheiro e houver necessidade de uma avaliação dos ativos subjacentes", disse Kneafsey, que observou que se a Blackstone avaliasse o portfólio muito baixo poderia alimentar os resgates. Se os ativos forem muito valorizados, os investidores que resgatarem do fundo a preços inflacionados estariam "efetivamente tirando dinheiro das pessoas que não estão resgatando", acrescentou.
"As avaliações dos ativos da BXPE podem diferir dos valores de liquidação que poderiam ser realizados caso a BXPE fosse forçada a vender ativos", alerta o prospecto da BXPE.
Desde a primavera passada, os investidores estão se retirando do Breit a uma taxa crescente, atingindo os limites que a Blackstone estabeleceu para se proteger contra o risco de ser forçada a uma liquidação de imóveis ilíquidos para atender aos resgates.
O Breit permite que 2% do total de ativos sejam resgatados pelos clientes a cada mês, com um máximo de 5% em um trimestre civil. Neste trimestre, tanto o Breit quanto o Bcred atingiram seus limites de resgate, embora os saques não tenham sido limitados para o último.
O BXPE permitirá que os investidores se comprometam mensalmente, mas só permite saques a cada trimestre até um limite de 5%. A BXPE investirá até 80% de seus ativos em estratégias voltadas para ações e até 20% em títulos de dívida, de acordo com os registros.
Quando for lançado, o BXPE competirá com produtos administrados por concorrentes, incluindo Partners Group, Hamilton Lane e StepStone Group.
Os executivos desses fundos admitiram que os recentes limites de retirada do Breit e a maior volatilidade podem desacelerar novos compromissos de investidores ricos. Mas eles expressaram confiança nas perspectivas do mercado em longo prazo.
Bob Long, executivo-chefe da StepStone Private Wealth, disse ao Financial Times que os fundos orientados a ações podem não sofrer os mesmos riscos de resgate que o Breit, porque não há maneiras óbvias de obter exposição do mercado público a estratégias de private equity, ao contrário de imóveis ou crédito, onde os investidores têm acesso a dezenas de veículos listados publicamente.
Colaborou Sujeet Indap, em Nova York
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