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Bolsa fecha em alta após pedido de Haddad de não prorrogar desoneração de combustíveis

Temor era que, se medida fosse estendida, situação das contas públicas pioraria com queda na arrecadação

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São Paulo

O penúltimo dia de negócios no mercado financeiro apresentou forte recuperação da Bolsa de Valores brasileira após duas sessões em queda, enquanto o dólar e os juros futuros recuaram. Posicionamentos do futuro governo deram um viés positivo à sessão, superando um dia de volatilidade no exterior.

O índice referência da Bolsa, o Ibovespa, subiu 1,53%, aos 110.236 pontos, levando o indicador a apagar as perdas desta semana e a se encaminhar para um fechamento de 2022 positivo em aproximadamente 5%, até o momento.

O dólar comercial à vista fechou o pregão com queda de 0,64%, cotado a R$ 5,2520 na venda. No acumulado deste ano, a moeda americana acumula desvalorização de 5,8% contra o real.

Investidores negociaram nesta quarta sob a expectativa de alívio para a contas públicas após o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ter solicitado na véspera, por decisão do presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o governo Jair Bolsonaro (PL) não prorrogue a desoneração de tributos federais sobre combustíveis.

Haddad ainda disse em entrevista à jornalista Míriam Leitão, publicada nesta tarde em O Globo, que iniciará sua gestão arrumando a casa e revendo benesses criadas por Bolsonaro em sua tentativa de reeleição. Após a divulgação das declarações do futuro ministro a alta do Ibovespa ganhou aproximadamente meio ponto percentual.

Na prática, o mercado vê com bons olhos a possibilidade de aumento das receitas e uma postura considerada um pouco mais conservadora da futura gestão, o que diminui temores quanto a eventuais dificuldades para o pagamento da dívida pública.

Notas de um dólar
Notas de um dólar - Dado Ruvic - 8.fev.2021/Reuters

Haddad tomou conhecimento de que o Ministério da Economia estava preparando uma MP (medida provisória) para prorrogar a isenção sobre combustíveis por até 90 dias e quis conversar sobre o assunto com o atual ministro Paulo Guedes

Integrantes do governo Bolsonaro relataram à Folha que o futuro ministro achou 90 dias demais durante as conversas, mas sinalizou que seria adequado um prazo de 30 dias para o governo não iniciar o mandato com uma elevação imediata de preços nas bombas.

Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, calculou que o restabelecimento dos tributos elevaria a sua estimativa de inflação para o ano que vem de 5,1% para 6%, mas resultaria em queda de 3,5% para 3,4% nos anos de 2024 e de 2025.

Para o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, apesar do impacto na inflação, o retorno da tributação evitará uma perda de receita com impacto de R$ 50 bilhões no primeiro ano do governo de Lula.

"Não quer dizer que as isenções não serão retomadas, mas, por enquanto, começa 2023 com os tributos de volta. Isso tem um impacto inflacionário, é verdade, porém, o risco fiscal diminui consideravelmente com essa arrecadação a mais ou normalizada para o próximo ano", afirmou.

Cruz ainda destacou que a confirmação na véspera de que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) aceitou assumir o Ministério do Planejamento e Orçamento passou a ser avaliada de forma mais positiva nesta quarta, com o mercado considerando que Tebet poderá se contrapor a exageros na ampliação dos gastos públicos.

Na terça-feira (27), a notícia de que Tebet assumiria o Planejamento, mas sem a possibilidade de que a pasta abrigasse também bancos públicos, não agradou parte dos investidores, pois tiveram a impressão de que a senadora teria pouco espaço no governo, conforme destacou Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.

Ainda sobre a reação da Bolsa nesta quarta aos movimentos do futuro governo, setores que dependem mais de um cenário de estabilidade econômica tiveram um dia positivo, como o bancário e o varejista. Os papéis do Bradesco subiram 3,06%. Magazine Luiza e Americanas dispararam 6,75% e 6,11%.

"A queda nos juros futuros ajudou a impulsionar o setor de consumo cíclico, que foi destaque de alta no dia. O alívio maior com o risco político também impulsionou a retomada da alta para o setor financeiro, outro destaque da sessão", comentou Bruna Sene, analista de investimentos da Nova Futura.

No mercado de juros, citado por Sene, a taxa de juros DI (Depósitos Interbancários), que serve de referência para o setor de crédito, recuou de 13,54% para 13,40% para os contratos com vencimento em 2024.

O exterior negativo impediu que o dia fosse ainda melhor no mercado brasileiro, sobretudo devido ao impacto nas ações da Vale, que registraram o maior volume negociado entre as ações do Ibovespa.

As ações da mineradora recuaram 0,22% com investidores pesando a perspectiva de aumento da demanda por minério de ferro na China, que vem reduzindo as restrições contra a Covid, mas também temendo que o avanço da crise sanitária no país possa trazer consequências negativas para o setor.

Já mercado de ações de Nova York fechou em queda, em uma sessão marcada pela volatilidade. O índice de referência S&P 500 perdeu 1,20%. Também caíram Dow Jones (-1,10%) e Nasdaq (-1,35%).

Analistas da Bolsa nova-iorquina destacaram que a reabertura da China trouxe preocupações quanto ao aumento repentino da demanda no país, o que pode resultar em mais inflação para todo o mundo e em novas altas nos juros de referência do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos).

"A maneira como [a China está reabrindo] é bastante surpreendente. Acho que é por isso que os mercados estão indo para frente e para trás", disse Altaf Kassam, chefe de estratégia para Europa, Oriente Médio e África da State Street Global Advisors, ao The Wall Street Journal.

Kassam acrescentou que os investidores ainda estão avaliando os efeitos do aperto da alta dos juros em todo o mundo, que continua a gerar preocupação.

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