Descrição de chapéu Financial Times

FTX negociou patrocínio de US$ 100 mi com Taylor Swift

Negociações entre cantora e corretora de criptomoedas foram abandonadas no segundo trimestre

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Los Angeles e Nova York | Financial Times

A FTX, de Sam Bankman-Fried, estava nos estágios finais de negociação de um contrato de patrocínio no valor de mais de US$ 100 milhões (R$ 522 milhões) com Taylor Swift, mas as conversas com a estrela pop foram abandonadas poucos meses antes do colapso da bolsa de criptomoedas, em novembro.

As discussões incluíam um acordo de venda de ingressos que envolveria certificados digitais conhecidos como NFTs (sigla para non-fungible tokens) da autora do grande sucesso "Anti Hero", de acordo com pessoas informadas sobre o assunto.

À esquerda, Samuel Bankman-Fried, fundador da corretora de criptomoedas FTX; à direita, a cantora pop Taylor Swift - Saul Loe e Frazer Harrison/Getty Images via AFP

As conversações da FTX com Swift e o valor de nove dígitos que estava sendo negociado destacam a ambição e a extensão dos esforços do grupo de criptomoedas para formar parcerias com celebridades, antes de pedir concordata no mês passado.

A FTX havia assinado contratos com o astro do futebol americano Tom Brady e a supermodelo Gisele Bündchen, bem como com a estrela do tênis Naomi Osaka e os jogadores de basquete Shaquille O'Neal e Steph Curry.

Pessoas informadas sobre as negociações também disseram que o episódio expôs o processo decisório nada ortodoxo da FTX e os conflitos entre os assessores mais próximos de Bankman-Fried e executivos mais experientes trazidos de fora da empresa.

Bankman-Fried e um representante de Taylor Swift se recusaram a comentar.

Bankman-Fried, 30, inicialmente defendia o contrato, em parte porque ele é "fã de Tay Tay", disse um empregado da companhia, usando o apelido de Swift. Claire Watanabe, uma executiva sênior da equipe de desenvolvimento de negócios da FTX, era vista por ex-empregados como o propulsor da busca por um contrato com Swift, e também era fã de sua música. Watanabe não foi localizada para comentar.

Aqueles que insistiam em acabar com as negociações, iniciadas no final do ano passado e encerradas no segundo trimestre, consideravam a parceria com a Swift cara demais e questionavam se os contratos anteriores com celebridades tinham propiciado uma boa relação custo/benefício.

O acordo tinha a oposição de diversos integrantes da equipe de marketing. "Ninguém realmente gostava da ideia. O contrato era caro demais desde o começo", disse uma pessoa informada sobre as negociações, acrescentando que o preço era "alto demais... Realmente muito alto. Tipo o valor do patrocínio principal de um time de futebol".

Bankman-Fried foi instado a abandonar as negociações por executivos seniores, entre os quais o presidente da FTX nos Estados Unidos, Brett Harrison, que tinha mais de uma década de experiência em companhias financeiras como a Jane Street e a Citadel antes de se unir à FTX, e o vice-presidente jurídico Ryne Miller, antigo sócio do escritório de advocacia Sullivan & Cromwell, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto.

Os céticos também questionavam se a cantora, a segunda artista mais ouvida no serviço de streaming no Spotify este ano, seria relevante para a faixa demográfica dos futuros investidores em criptomoedas. Um ex-funcionário disse que havia pessoas na empresa que "sentiam que [Swift] não agregaria valor à nossa base de usuários".

Outro ex-empregado disse que a FTX havia procurado por um "endosso em grau leve" de Swift nas mídias sociais. Uma pessoa próxima às negociações disse que a Swift jamais contemplou a hipótese de endossar a bolsa de criptomoedas.

"Taylor não concordaria, e não concordou, com um acordo que envolvesse endossar a empresa. A discussão era em torno de um possível patrocínio de turnê, que não aconteceu", disse a pessoa.

A ascensão da FTX à proeminência foi alimentada por gastos extravagantes com contratos de marketing esportivo e com a contratação de celebridades como porta-vozes. A empresa gastou US$ 135 milhões (R$ 704,7 milhões) para adquirir os "naming rights" de uma arena de basquete de Miami, e investiu US$ 20 milhões (R$ 104,4 milhões) em uma campanha de publicidade protagonizada por Brady e Bündchen no final do ano passado. Diversas bolsas de criptomoedas gastaram muito em marketing e em patrocínios esportivos para atrair novos investidores em criptomoedas.

O fracasso das negociações significa que Swift escapou de se ver associada à FTX, que pediu concordata em Delaware no mês passado, devendo dinheiro a até um milhão de credores e revelando um rombo de US$ 1 bilhão em ativos de clientes. Bankman-Fried atribuiu o colapso a falhas graves de gestão, mas enfrenta acusações de uso indevido de dinheiro de clientes, o que ele nega.

A publicidade da empresa também foi alvo de críticas por exagerar na promoção do investimento de risco em criptomoedas junto a investidores inexperientes. O comercial multimilionário da FTX veiculado durante a transmissão do Super Bowl nos Estados Unidos foi criticado por tentar fomentar o chamado "medo de ficar de fora".

"Os consumidores vêm sendo inundados por publicidade de criptomoedas, e qualquer pessoa que tenha assistido ao Super Bowl sabe do que estou falando, com o objetivo de despertar sentimentos de urgência e alimentar o medo de ficar de fora", disse a senadora americana Amy Klobuchar em audiências sobre a FTX na semana passada.

O anúncio com o humorista e ator Larry David descrevia a FTX como "uma forma segura e fácil de entrar nas criptomoedas". David, que no comercial retrata um sujeito cético quanto à tecnologia, resmungava: "Não acredito. E nunca erro sobre essas coisas", ele dizia.

Tradução de Paulo Migliacci

Joshua Oliver , Nikou Asgari , Anna Nicolaou e Antoine Gara
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.