Oposição na Fiesp tenta organizar assembleia para destituir presidente

86 dirigentes sindicais assinaram novo pedido de plenária para o dia 19 de dezembro

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São Paulo

Sindicatos que se opõem ao atual presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Josué Gomes da Silva, tentam organizar uma assembleia extraordinária ainda neste ano para destituí-lo.

A reunião de dirigentes, porém, deve ficar para janeiro, depois do período de férias coletivas da entidade. Procurada, a Fiesp diz que não comenta assuntos internos.

Há quase um mês, Josué rejeitou um pedido assinado por 78 representantes de sindicatos ligados à Fiesp. A articulação da oposição é atribuída ao ex-presidente da entidade, Paulo Skaf, que comandou a federação por 17 anos (o grupo ligado diz que atribuição é injusta).

Na reunião em que comunicou a decisão, o presidente da entidade afirmou ter consultado juristas e concluído que pedidos de assembleia precisavam ser detalhados, e faltariam motivos objetivos para a convocação.

Os sindicatos reagiram com um detalhamento e, por isso, alguns entenderam que Josué faria a convocação. Como isso não aconteceu, há alguns dias, uma nova carta foi encaminhada à Fiesp e, dessa vez, entregue à primeira-secretaria da federação, ocupada pelo industrial Vandermir Francesconi Júnior.

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Josué Gomes, Paulo Skaf e Rafael Cervone durante a cerimônia de posse da nova diretoria da Fiesp - Jardiel Carvalho-09.dez.21/Folhapress

Essa nova carta recebeu 86 assinaturas, mais do que o pedido original enviado em outubro. Nela, os representantes de sindicatos apontam que Josué deveria ter convocado a assembleia, mas não o fez. Por isso, exigem que a plenária de sindicatos seja marcada e sugerem a data de 19 de dezembro.

A avaliação de dirigentes que assinam a carta é de que é preferível que a convocação para a assembleia parta da própria Fiesp. O grupo entende, porém, que estatuto da entidade permite a "auto-convocação".

A proximidade de Paulo Skaf com o atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), de um lado, e a relação de Josué com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de outro, é citada com frequência como um fator de tensão entre os grupos que compõem a Fiesp.

Para um dirigente sindical que participou do pedido de assembleia, porém, o aumento no número de apoios demonstra que a insatisfação não tem viés eleitoral, pois aumentou mesmo depois das eleições.

Um dirigente sindical próximo a Skaf também rejeita a atribuição de liderança desse movimento ao ex-presidente do federação. Falando sob anonimato, esse empresário afirmou que Skaf só teria sido procurado pelos insatisfeitos quando o movimento que desembocou no pedido da assembleia extraordinária já estava avançado.

Opositores e aliados de Josué dizem que o descontentamento com ele vem de um estranhamento com o estilo de gestão do novo presidente, mais discreto e menos "político tradicional" do que o antecessor.

Nesta segunda (5), a Fiesp realizou a última reunião de diretoria deste ano. O assunto não teria sido tratado no encontro, que foi seguido por uma confraternização. Agora, a federação entra em férias coletivas e a convocação deve ficar para janeiro.

Na semana que vem, o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) fará o mesmo –uma última reunião com empresários, uma confraternização e o início da pausa de fim de ano.

No domingo (4), os empresários Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp e acionista da Klabin (de papel e celulose), Pedro Wongtschowski, presidente do conselho de administração do grupo Ultra (combustíveis, dona da Ultragaz), e Pedro Passos, conselheiro da Natura, assinaram artigo publicado na Folha no qual defendem que "não faz sentido a Fiesp perder-se em questões paroquiais ou ameaçar ser influenciada por um grupo que, quando à testa da entidade, não defendeu os interesses de uma indústria moderna para o país."

"Erros de comunicação podem ter sido cometidos ao não sinalizar com clareza a nova estratégia —ou ao não integrar os importantes sindicatos patronais nesse esforço. Não faz sentido, no entanto, interromper um processo em andamento, embora certamente haja melhoras a fazer", afirmam.

Eles destacam ainda o trabalho de transformação digital iniciado pelo Ciesp com pequenas e médias indústrias e convocam "aqueles que de fatos estejam comprometidos com a busca de um novo caminho para a indústria" a " manifestar seu apoio à liderança de Josué Gomes da Silva na condução deste novo momento da Fiesp".

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