Descrição de chapéu Financial Times sustentabilidade

Virgin Atlantic vai lançar 1º voo transatlântico com emissões zero

Avião será movido por combustível de aviação sustentável, estabelecendo marco histórico

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Philip Georgiadis
Londres | Financial Times

O primeiro avião a atravessar o Atlântico propelido apenas por combustível de aviação sustentável decolará no ano que vem, um marco histórico que o setor espera que incentive um investimento maior na nova tecnologia.

O uso do combustível significaria que o voo de teste do Boeing 787 da Virgin Atlantic entre os aeroportos de Heathrow, em Londres, e John F. Kennedy, em Nova York, seria o primeiro voo transatlântico a produzir emissões líquidas zero de poluentes, anunciou o governo britânico.

Os combustíveis de aviação sustentáveis, ou SAF (em inglês), não são baseados em combustíveis fósseis e sua produção utiliza primordialmente resíduos florestais ou agrícolas. O uso desses combustíveis pode reduzir as emissões de carbono em cerca de 70%.

Boeing 787-9 Dreamliner da Virgin Atlantic, que será usado no voo São Paulo-Londres
Boeing 787-9 Dreamliner da Virgin Atlantic - Divulgação

Para que o voo da Virgin atinja a condição de "emissões líquidas zero", os 30% restantes das emissões teriam de ser compensados por investimentos em tecnologia de remoção de carbono da atmosfera, de acordo com o governo do Reino Unido.

As autoridades de segurança da aviação permitem um uso máximo de 50% de SAF misturado ao querosene, nas turbinas de jatos comerciais, mas a baronesa Vere, ministra do Transporte britânica, anunciou que o voo demonstraria que é seguro abastecer totalmente uma aeronave de passageiros com os novos combustíveis.

O setor de aviação depende quase completamente dos SAF para reduzir suas emissões de carbono a zero até 2050, já que outras tecnologias menos poluentes, como os aviões elétricos ou movidos a hidrogênio, ainda não foram testadas em escala comercial.

Os combustíveis SAF são significativamente mais caros do que o querosene tradicional, no entanto, e por enquanto são produzidos apenas em quantidades minúsculas.

O setor estima que cerca de 450 bilhões de litros de SAF serão necessários por ano, até 2050. A produção anual de SAF em 2021 foi de apenas cem milhões de litros.

O Reino Unido investiu um valor simbólico de um milhão de libras no apoio ao voo da Virgin, e prometeu 165 milhões de libras (R$ 1 bilhão) para acelerar a comercialização dos SAF. Também estabeleceu uma norma que dispõe que 10% do combustível para jatos venha de fontes sustentáveis até 2030, a fim de ajudar a estimular a demanda.

Mas as companhias de aviação e os aeroportos vêm exortando o governo a fazer muito mais, especialmente criar "contratos por diferença" (CFDs, na sigla em inglês), para estipular um preço fixo para o combustível subscrito pelo governo, de forma semelhante ao que acontece em projetos de usinas nucleares e usinas eólicas offshore incentivados pelo Estado.

Shai Weiss, presidente-executivo da Virgin Atlantic, disse que o apoio do governo é bem-vindo, mas representa "uma gota de água no oceano" em comparação com o dinheiro que está sendo investido nos Estados Unidos em apoio ao desenvolvimento da energia verde.

"Precisamos que o governo crie um ambiente que promova e realmente encoraje os SAF no Reino Unido", ele disse.

Um outro executivo de aviação elogiou o trabalho do governo, mas disse que o "grande prêmio" era um mecanismo de estabilidade de preços, sem o qual "não veremos usinas britânicas serem construídas e teremos que importar".

Vere disse que por enquanto não havia qualquer decisão sobre manter o apoio ao setor, mas não descartou os CFDs e insistiu em que o Reino Unido estava "na vanguarda" da produção de SAF, com uma meta de cinco novas usinas em construção no país até 2025.

"Esse tipo de indústria substituirá muitas das antigas indústrias que declinaram", ela disse.

Weiss disse que reduzir o custo dos SAF exigia a participação de múltiplos setores, com mais investimentos do governo, das companhias de aviação, das grandes companhias petroleiras e de clientes corporativos.

"Não há um único órgão capaz de resolver essa questão por conta própria. O custo terá de ser compartilhado por todos para que possamos garantir que o transporte aéreo continue de forma sustentável".

Tradução de Paulo Migliacci

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