Descrição de chapéu indústria

Assembleia para destituir Josué na Fiesp queimou etapas, dizem dirigentes

Presidente da entidade está sob pressão de sindicatos da indústria

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São Paulo

A assembleia que aprovou a destituição de Josué Gomes da presidência da Fiesp (Federação da Indústria de São Paulo) atropelou etapas previstas pelo estatuto da entidade, dizem dirigentes sindicais.

Dar início a uma segunda plenária depois que o presidente da entidade e cerca de outros 30 representantes sindicais já tinham deixado o prédio da Fiesp foi uma "precipitação inacreditável", por meio da qual "desesperadamente" a oposição promoveu uma "extensão ilegal da assembleia", avalia Ricardo Martins, presidente do Sicetel (Sindicato Nacional da Indústria de Trefilação e Laminação de Metais Ferrosos).

Para Paulo Camillo Pena, do Snic (Sindicato Nacional da Industria do Cimento), a própria aprovação da destituição foi uma subversão do prazo de dez dias previsto no estatuto. Na avaliação dele, a assembleia extraordinária havia sido convocada para que o presidente respondesse aos questionamentos feitos por sindicatos. "O objeto da convocação estava coberto", diz.

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O presidente da Fiesp Josué Gomes da Silva; dirigentes questionam sua destituição do cargo - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Tanto Pena quanto Martins já não estavam na Fiesp no momento da decisão pela destituição. O primeiro estava em casa quando a notícia chegou. O segundo, ouviu pelo rádio, no trânsito.

"Havia ali cinco ou seis delegados que estavam preparados para a queda do Josué. Você percebe claramente que foi a carta [pela democracia, divulgada no ano passado], que não era uma carta da Fiesp, era uma carta das entidades, diversa. Não é justo dizer que isso configura falta grave", afirma Martins. "Tudo estava preparado, eles pediram incessantemente para que isso fosse colocado em votação."

A carta a que ele se refere é o manifesto das entidades, lido em um ato na Faculdade de Direito da USP em 11 de agosto do ano passado. O envolvimento do presidente da Fiesp com essa carta motivou a divulgação, na quarta (18), de uma nota de solidariedade de membros do comitê que organizou o ato.

A destituição de Josué Gomes foi analisada por 50 delegados sindicais, dos quais 47 foram favoráveis à proposta. Por volta de 14h30, quando a assembleia extraordinária começou, cerca de 86 representantes de 80 sindicatos estavam presentes e eles chegaram a votar se consideram os argumentos de Josué Gomes aceitáveis ou não.

O presidente do Sincetel nem sempre se considerou um aliado de Josué Gomes. Nas eleições realizadas em 2021, ele tentou viabilizar uma chapa de oposição, sem sucesso. Josué Gomes foi eleito com 97% dos votos.

Ele defende, no entanto, que a briga é uma perda de tempo, num momento delicado para a indústria. "Esse grupo está cego a ponto de não se dar conta do quanto essa exposição [na imprensa] é ruim. É um vexame", afirma.

Paulo Camillo Pena diz que a situação é lamentável para a indústria. "Temos tantas questões para discutir, uma reforma tributária, a desindustrialização. E o que se vê é um discussão dessa, que só enfraquece a entidade", afirma.

Pena lembra que, no mesmo dia, pela manhã, a Fiesp recebeu durante reunião da diretoria e depois em almoço o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços Geraldo Alckmin (PSB). "Ele falou do IPI, de reforma tributária. Nós pagamos 45% dos impostos, de maneira desigual em relação a outros setores. Isso é que precisa ser discutido. O momento é absolutamente inadequado."

Para Pena, todos os questionamentos feitos pelos sindicatos que pediram a realização da assembleia são questões viáveis de solucionar a partir de negociação. "O grande prejudicado hoje é a indústria brasileira, que se vê diante da incapacidade de buscar convergência."

Edifício Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho, onde funciona a sede da Fiesp, em São Paulo - Julia Moraes/Fiesp

O que acontece agora na Fiesp

As atas da assembleia de segunda-feira ainda precisam ser registradas em cartório. Para dirigentes sindicais que consideram a votação da destituição válida, a partir do registro Josué Gomes deixaria de ser presidente da Fiesp.

O estatuto da federação prevê que o sucessor é escolhido pela diretoria em até 30 dias contados da destituição. Esse novo presidente é escolhido entre os três vices numerados, como são chamados os primeiro, segundo e terceiro vices –Rafael Cervone Neto, Dan Ioschpe e Marcelo Campos Ometto. Até a realização da reunião que decidiria por um dos três, fica na presidência o vice-presidente mais velho.

Nesta quinta, a Fiesp fez sua primeira manifestação sobre o assunto. Divulgou nota na qual afirma que Josué Gomes é o presidente da entidade e está no exercício de suas funções, conforme o estatuto.

Desde que a crise entre o atual presidente e dirigentes sindicais insatisfeitos com sua gestão ultrapassou os limites do prédio da avenida Paulista, em São Paulo, a Fiesp ainda não havia feito qualquer comentário.

Dirigentes ligados à oposição ao atual presidente consideram, já na segunda à noite, a possibilidade de o caso ser judicializado devido ao quórum no momento da votação e porque o presidente já tinha saído. Para alguns, porém, a decisão foi uma forma de pressão contra o dirigente. Durante a assembleia, um dos presentes chegou a pedir a palavra para informar Josué que ele também podia renunciar ao cargo.

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