Desemprego cai a 8,1% e atinge 8,7 milhões

Taxa é a menor para o trimestre até novembro desde 2014, mas ocupação desacelera

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Rio de Janeiro

A taxa de desemprego voltou a recuar no Brasil e atingiu 8,1% no trimestre até novembro de 2022, informou nesta quinta-feira (19) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É o menor nível para esse trimestre desde 2014 (6,6%), quando a economia nacional começava a mergulhar em crise, mostram os dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

O novo resultado veio em linha com as estimativas do mercado financeiro. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam taxa de 8,1% até novembro.

Trabalhador serve bebida em hotel no Rio; fim das restrições da pandemia de Covid-19 estimulou abertura de vagas - Eduardo Anizelli - 8.dez.22/Folhapress

O IBGE associou a queda do desemprego ao aumento da ocupação –ou seja, das pessoas que estão trabalhando.

A população ocupada com algum tipo de trabalho alcançou 99,7 milhões de pessoas. Assim, renovou o recorde da série histórica da Pnad, iniciada em 2012.

O crescimento da população ocupada, no entanto, desacelerou. A expansão desse contingente foi de 0,7% em relação ao trimestre até agosto (99 milhões), o mais recente da série comparável. O avanço havia sido de 1,5% e de 2,4% nas duas divulgações anteriores.

Frente ao trimestre até novembro de 2021 (94,9 milhões), a população ocupada teve alta de 5%. Nessa comparação, o crescimento havia sido de 7,9% na divulgação anterior.

"Embora o aumento da população ocupada venha ocorrendo em um ritmo menor do que o verificado nos trimestres anteriores, ele é significativo e contribui para a queda na desocupação", disse Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE.

Segundo ela, os dados "até podem sinalizar" perda de fôlego da geração de postos de trabalho, mas é preciso levar em conta que o indicador vem de "crescimentos sucessivos".

Parte dos analistas considera que a desaceleração já reflete o ritmo menor da atividade econômica em meio ao contexto de juros elevados.

"É condizente com o que estamos vendo na economia", afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB associados.

Vale enxerga um cenário de relativa estabilidade para a taxa de desemprego em 2023 devido a fatores como o crescimento mais baixo previsto para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano.

"Temos um cenário de crédito e consumo mais difícil, o contexto internacional traz preocupação, além da turbulência política", afirma.

Em relação a diferentes trimestres da série histórica comparável, a taxa de desocupação de 8,1% é a menor desde o início de 2015. O indicador estava em 7,5% até fevereiro daquele ano.

O desemprego marcava 8,9% no trimestre até agosto de 2022, período mais recente de comparação na mesma série da Pnad. No intervalo finalizado em outubro, que integra outra série da pesquisa, a desocupação já estava em 8,3%.

Desempregados são 8,7 milhões

O número de desempregados, por sua vez, recuou para 8,7 milhões até novembro de 2022. É o número mais baixo para esse trimestre desde 2014 (6,6 milhões).

O contingente somava 9,7 milhões até agosto de 2022 e 9 milhões até outubro do ano passado.

A população desempregada é formada por pessoas de 14 anos ou mais que estão sem trabalho e que seguem à procura de novas vagas. Quem não tem emprego e não está buscando oportunidades não entra nesse número.

A população fora da força de trabalho foi de 65,3 milhões em novembro. Ficou 1% acima do trimestre anterior (mais 660 mil).

Esse contingente envolve brasileiros sem ocupação e que não buscam novas oportunidades. Por isso, não pressionam a taxa de desemprego.

Trabalho com carteira puxa avanço

Após a crise da pandemia, iniciada em 2020, a geração de vagas foi beneficiada pela vacinação contra a Covid-19. A imunização permitiu a reabertura dos negócios e o retorno da circulação de pessoas.

O IBGE afirmou que o principal impacto para o aumento da ocupação no trimestre até novembro de 2022 veio dos empregados com carteira assinada no setor privado.

A categoria chegou a 36,8 milhões. Subiu 2,3% (817 mil a mais) frente a agosto. O contingente ainda está 2,1% abaixo do recorde de 37,6 milhões, de maio de 2014.

O número de empregados sem carteira no setor privado, por sua vez, foi estimado em 13,3 milhões no trimestre até novembro de 2022.

É o maior patamar da série. Houve acréscimo de 1,1% (mais 149 mil) ante agosto, mas o IBGE considera esse resultado como estatisticamente estável.

Duas mãos de madeira apontam para carteira de trabalho, sobre fundo vermelho vivo
Carteira de trabalho e previdência - Gabriel Cabral/Folhapress

O número total de informais, que inclui trabalhadores por conta própria sem CNPJ, entre outros, diminuiu para 38,8 milhões em novembro. Estava em 39,3 milhões em agosto, o recorde da série histórica.

Assim, a taxa de informalidade, que mede o percentual sem carteira ou CNPJ em relação ao total de ocupados (99,7 milhões), recuou para 38,9%.

A taxa era de 39,7% no trimestre até agosto. O recorde foi de 41%, em agosto de 2019.

"Embora a taxa de informalidade esteja retraindo, ela ainda é muito grande", ponderou Adriana Beringuy, do IBGE.

RENDA CRESCE 3% NO TRIMESTRE

Com a trégua da inflação e a retomada do setor formal, que tradicionalmente paga mais do que os populares bicos, a renda do trabalho mostrou melhora no trimestre até novembro.

O rendimento médio real dos ocupados foi de R$ 2.787. Houve aumento de 3% em relação a agosto (R$ 2.706). Ante o mesmo trimestre de 2021 (R$ 2.601), a alta foi de 7,1%.

Apesar da melhora, a renda de R$ 2.787 ainda ficou 1,5% abaixo do patamar verificado até novembro de 2019, antes da pandemia. À época, o rendimento marcava R$ 2.830.

Segundo a economista Juliana Inhasz, professora do Insper, não é esperado um grande avanço da renda em 2023.

"O rendimento só vai aumentar mesmo quando a economia voltar a crescer com consistência. Esse é um indicador que acompanha muito a dinâmica do emprego", aponta.

Inhasz vê um desempenho morno para o mercado de trabalho neste ano e não descarta uma taxa de desemprego um pouco maior do que a atual, perto de 9%.

"Não deve ser um ano de grandes mudanças na taxa. Talvez a gente veja algum aumento. Temos desafios grandes pela frente."

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