Jeff Bezos visita o Washington Post sob incerteza financeira

Jornal americano tem lutado contra o declínio da receita publicitária e o crescimento estagnado das assinaturas online

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Benjamin Mullin Katie Robertson
The New York Times

O jornal The Washington Post tem lutado contra o declínio da receita publicitária e o crescimento estagnado das assinaturas online. A pergunta que paira sobre o veículo nos últimos meses é: o que Jeff Bezos acha?

O fundador da Amazon, que comprou a organização noticiosa em 2013, não disse nada publicamente sobre as dificuldades recentes do Post. Mas na quinta-feira (19) ele fez uma rara aparição na redação, participando da reunião de pauta matinal pela primeira vez em mais de um ano.

Bezos ainda falou pouco. "Estou encantado por estar aqui e ver todos esses rostos", disse, de acordo com três pessoas informadas sobre seus comentários, antes de perguntar à editora-chefe do Post, Sally Buzbee, sobre sua recente viagem ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. "Obrigado por me permitirem escutar", continuou ele.

"Ótimo", disse Buzbee. "Vamos fazer uma reunião de pauta."

O fundador da Amazon Jeff Bezos; bilionário visitou nesta semana a redação do jornal Washington Post - Alain Jocard - 01.nov.2021/AFP

Mas a reunião –com Bezos sentado ao lado de Buzbee em uma grande mesa numa sala de conferências com paredes de vidro no sexto andar, com o editor Fred Ryan sentado próximo– sinalizou que ele estava prestando atenção.

"Jeff está aqui para reuniões pessoais com Fred, Sally e a equipe de redação", disse um porta-voz do Post em um email.

Além da aparição de Bezos, a reunião transcorreu como em qualquer outro dia, com editores discutindo notícias e tendências de público, segundo as pessoas informadas. A certa altura, um editor mencionou planos de publicar um artigo sobre o fim do AmazonSmile, programa beneficente promovido por Bezos. Os editores também discutiram a venda iminente dos Washington Commanders, time da Liga Nacional de Futebol. O Post informou anteriormente que Bezos estava interessado em comprá-lo.

O Post se expandiu rapidamente depois que Bezos, uma das pessoas mais ricas do mundo, comprou a empresa por US$ 250 milhões, acrescentando substancialmente empregos à redação e aumentando suas áreas de cobertura. Mas o negócio estagnou no ano passado.

No mês passado, Ryan disse aos funcionários em uma reunião tensa que haveria demissões. Um porta-voz do Post disse em comunicado na época que os cortes de empregos tinham como objetivo "colocar nossa empresa na melhor posição para crescimento futuro". As demissões de funcionários, que segundo Ryan serão uma porcentagem de um dígito, deverão ocorrer ainda no início do ano.

Durante a reunião de quinta, a comitiva de Bezos ficou fora da sala, com fones de ouvido claramente visíveis. Quando ele saiu, um funcionário do Post vestindo uma camisa vermelha estampada com a insígnia da associação sindical do Post o parou e perguntou por que a empresa estava demitindo pessoas sem oferecer compensações primeiro, de acordo com as três fontes. Bezos respondeu que estava no Post para ouvir, não para responder a perguntas, e destacou seu compromisso com o jornalismo do Post.

Sede do jornal The Washington Post, em Washington, nos Estados Unidos - Eric Baradat/AFP

O sindicato disse em um comunicado na quinta-feira: "Esperamos que o proprietário do Washington Post, Jeff Bezos, tenha ouvido os apelos dos funcionários para interromper essas demissões iminentes que, até onde sabemos, não são financeiramente necessárias ou enraizadas em qualquer estratégia empresarial informada pelo editor Fred Ryan". Pelo menos 60 pessoas se juntaram ao sindicato desde que Ryan anunciou as demissões, disse a entidade.

A visita de Bezos foi vista internamente como um indício de seu compromisso com o futuro da publicação, que estava em questão. Ele se reuniu com os principais editores, incluindo Cameron Barr, Krissah Thompson, Lori Montgomery, Matea Gold e Phil Rucker, bem como um repórter político, Josh Dawsey, de acordo com três pessoas a par das discussões.

O Post esteve prestes a terminar 2022 no vermelho após anos de lucratividade, informou The New York Times em agosto. O Post tem lutado para expandir seu negócio de assinaturas, com menos assinantes pagantes no ano passado do que os 3 milhões que tinha em 2020, ano de eleição presidencial.

Nos últimos meses, o Post teve um êxodo de talentos, incluindo seu diretor de informações, diretor de comunicações e diretor de produtos. Vários de seus principais jornalistas também saíram para trabalhar em publicações rivais.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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