As ações de empresas de energia registraram forte queda na Bolsa brasileira nesta sexta-feira (17). A perda de valor foi uma reação do mercado financeiro à indicação de Efrain Pereira da Cruz para ocupar o cargo de secretário-executivo no MME (Ministério de Minas e Energia).
Procurado pela reportagem, o MME, em nota, confirmou a escolha de Efrain. A Folha apurou que representantes do setor de energia ainda faziam um último esforço junto a integrantes do governo para evitar que a nomeação fosse concretizada.
No pregão desta sexta, quando a indicação ganhou força, as 17 empresas do setor de energia perderam R$ 11,8 bilhões em valor de mercado, Entre as maiores quedas estão CPFL ON (-6,55%), Energisa Unit (-6,42%) Equatorial ON (- 5%), Eletrobras PNB (-4,82%) e Eletrobras ON (-4,30%).
As ações do setor de energia recuaram -3,6%, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em queda de -1,40%, ainda refletindo o temor em relação a uma eventual crise bancária nos Estados Unidos e na União Europeia.
Segundo gestores ouvidos pela reportagem, que preferem não ter o nome citado, a indicação de Efrain elevou a percepção de risco político no setor de energia. Efrain, repetiram profissionais de diferentes casas financeiras e bancos, é associado a grupos políticos ligados ao Centrão e visto como representante de lobbies, especialmente no setor de gás.
Procurado pela reportagem, Efrain não havia respondido ao pedido de comentário até a publicação deste texto.
As quedas na Bolsa foram mais acentuadas nas ações de empresas de distribuição, por serem mais suscetíveis a decisões do ministério, que precisa definir, entre outros temas, o processo de renovação das concessões.
A queda da Eletrobras, que concentra geradores de energia, indicou que ganha força a leitura de que intervenções políticas podem prevalecer nas decisões do governo, elevando o risco de reestatização.
Quando diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Efrain represou a análise de temas considerados vitais para o setor, como a devolução de ICMS, e criou o histórico de contrariar pareceres das áreas técnicas e da procuradoria da agência.
Passados quase três da posse do novo governo, o MME segue sem secretário-executivo, o principal gestor da pasta, por divergências entre o novo ministro, Alexandre Silveira, e a Casa Civil. Segunda Folha apurou, Silveira, inicialmente cogitou o nome de Efrain, mas foi dissuadido por executivos do setor, que alertaram sobre a percepção negativa de empresas e investidores em relação ao nome. .
Silveira passou, então, a defender o nome de Bruno Eustáquio, que havia sido secretário-adjunto da pasta e secretário-executivo do Ministério de Infraestrutura no governo anterior. Como o executivo ocupou cargo de confiança na gestão bolsonarista, foi vetado pela Casa Civil.
Com a recusa, Efrain se cacifou com apoio de senadores como David Alcolumbre (União Brasil-AP) e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, e a concordância de Silveira.
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