Bolsa e dólar fecham em baixa com declarações de presidente do Fed após decisão sobre juros

Em coletiva, Jerome Powell disse que se for necessário, banco central vai continuar elevando taxas

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São Paulo

Bolsa e dólar fecharam em baixa nesta quarta-feira, refletindo principalmente as declarações de Jerome Powell, presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), logo após o anúncio do aumento em 0,25 ponto percentual na taxa de juros dos Estados Unidos, para o patamar de 4,75% a 5%.

O Ibovespa fechou em baixa de 0,77%, a 100.220 pontos, próximo da mínima do dia, que chegou a 100.128 pontos, e renovando a pior marca do ano. O dólar comercial à vista terminou o dia com queda de 0,20%, a 5,236.

No mercado de juros futuros, houve poucas mudanças após a decisão do Fed. Nos contratos para janeiro de 2024, os juros saíram dos 13,01% do fechamento da última terça-feira (21) para 13,02% nesta quarta. Para janeiro de 2025, a taxa passou de 12,10% para 12,03%. No vencimento em janeiro de 2027, os juros tiveram variação mais intensa, recuando de 12,42% para 12,29%.

Investidores começam o dia na expectativa por decisões de juros no Brasil e nos EUA - Dado Ruvic - 10.mar.2023/Reuters

Além da decisão em si, o mercado aguardava o comunicado do Fed, com sinais dos caminhos que podem ser tomados nas próximas reuniões. O FOMC (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês), que delibera sobre a taxa americana, manteve a projeção de que os juros americanos devem fechar o ano em patamar próximo de 5,1%.

No comunicado, o Fed demonstra que o controle da inflação continua sendo prioridade, e uma maior preocupação que a crise bancária. O órgão mostra confiança no ambiente econômico, classificado como "suficientemente saudável" para lidar com os problemas no sistema financeiro.

Em coletiva de imprensa logo após a divulgação da taxa, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que a prioridade da autoridade monetária é levar a inflação novamente para a meta de 2% ao ano. "Se for necessário aumentar mais os juros, vamos fazer", disse Powell.

Ele reconheceu que a crise bancária pela qual passa os Estados Unidos neste momento pode restringir o mercado de crédito. Mas confia na "força da economia americana para superar os problemas".

Na visão de Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, a decisão do Fed foi prudente nas circunstâncias atuais. "O comunicado foi equilibrado e não estabeleceu compromissos, deixando as portas abertas para qualquer decisão nas próximas reuniões".

Nobre lembra que os mercados subiram nos últimos dias, esperando que, no mínimo, o Fed daria sinais de abrandamento na política monetária. "Mas ao que parece, a base das próximas decisões seguirá sendo dados de inflação e mercado de trabalho", diz o economista da XP.

Para Guilherme Sahadi, diretor de investimentos da iVi Technologies, alguns termos usados por Powell foram interpretados negativamente pelo mercado. "Ele cita condições mais sinuosas para a economia e mercado de crédito mais apertado, com impactos negativos especialmente para o consumidor".

Para Fernando Bento, presidente e sócio da FMB Investimentos, a sinalização do presidente do Fed deu um direcionamento ao mercado. "A sinalização dada pelo Fed é de que pode haver mais uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa de juros", afirma.

Para Beto Saadia, economista e sócio da Nomos, qualquer decisão tomada pelo Fed teria algum aspecto negativo. "Seguir o plano e aumentar os juros pode aumentar o nível de contágio no sistema bancário. Não elevar a taxa poderia impedir este contágio, mas traria uma perda de credibilidade".

O discurso de Powell foi parecido com o feito pela presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde. Ela afirmou que a autoridade europeia vai adotar uma abordagem "robusta" para combater os preços, ainda em alta na Zona do Euro.

No Brasil, o mercado também ficará atento ao tom do comunicado que acompanha a decisão. Para Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, o BC poderia usar um tom diferente se as novas regras fiscais já estivessem definidas.

"Como não é o caso, acredito que o comunicado vai focar muito mais na piora do cenário global que vimos na última semana. Não deve mudar muito em relação à ata da reunião anterior", diz Costa.

Para a Levante Investimentos, a tarefa do BC também é difícil, especialmente na reunião que termina nesta quarta. "Se errar o tom no comunicado, o BC pode sinalizar que está cedendo às pressões políticas. Se indicar que manterá os juros elevados por mais tempo, pode dar a impressão que faz isso exatamente para se contrapor a essas pressões".

A equipe da Mirae Asset tem uma projeção diferente. Para a corretora, a escolha de Rodolfo Fróes para assumir a diretoria de Política Monetária, e de Rodrigo Monteiro para a diretoria de Fiscalização do BC pode ter sido um "empurrão" para um comunicado que indique corte de juros em 2023.

Os nomes foram bem recebidos pelo mercado. A Mirae aponta que Fróes é um profissional do mercado, bom conhecedor das mesas de operações dos bancos. No caso de Monteiro, a corretora aponta que por ser funcionário de carreira do BC, ele "conhece bem as engrenagens" da instituição.

Em Nova York, o comportamento dos índices de ações também pioraram após a coletiva de Powell, em intensidade maior que a vista no Ibovespa. Antes das declarações, os índices operavam em alta. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq fecharam com quedas próximas de 1,60%. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas globais, caía 0,67% às 17h45 (horário de Brasília).

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