Banco First Republic tem futuro incerto após perder US$ 70 bi em depósitos

Injeção de capital e esforço para vender participação não acalmaram os investidores

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Rob Copeland Maureen Farrell
The New York Times

O First Republic Bank continuava em perigo nesta segunda-feira (20), depois que a injeção de US$ 30 bilhões em capital por alguns dos maiores bancos dos Estados Unidos, na semana passada, e esforços frenéticos para vender uma participação no banco e levantar recursos adicionais pouco fizeram para acalmar investidores e depositantes.

Em lugar disso, a instituição financeira regional estava à beira do colapso.

A negociação de suas ações na Bolsa de Valores de Nova York foi automaticamente suspensa diversas vezes nesta segunda para evitar que entrassem em queda livre, e elas registravam queda de 47% no fechamento do pregão.

O First Republic perdeu cerca de US$ 70 bilhões em depósitos nas últimas semanas, disseram duas pessoas informadas sobre sua situação —quase metade da sua base total de depósitos no final do ano passado.

Cliente do First Republic Bank deixa agência do banco em Manhattan Beach, na Califórnia - Patrick T. Fallon - 13.mar.2023/AFP

A tentativa de vender uma participação no banco rapidamente se transformou em um esforço para salvá-lo, disseram duas outras pessoas informadas sobre o assunto.

O banco está em queda desde a quebra do Silicon Valley Bank, há menos de duas semanas.

"O First Republic Bank está bem posicionado para gerir a atividade de depósitos de curto prazo", afirmou o banco em um comunicado por email na manhã de segunda-feira. "Esse apoio reflete a confiança no First Republic e a sua capacidade de continuar prestando serviços sempre excepcionais aos seus clientes e comunidades".

As ações do First Republic estão em queda livre. Só na semana passada, o banco perdeu cerca de 70% de seu valor de mercado. Nesta segunda-feira, o First Republic sofreu nova queda, mesmo que as ações dos outros bancos que sofreram abalos no pânico financeiro da semana passada tenham parecido se estabilizar, até certo ponto.

Os problemas cada vez mais graves do First Republic e outros bancos ilustram como a pressa do governo e do setor privado para encontrar soluções rápidas, a fim de restaurar a confiança na saúde do sistema financeiro, pode, em lugar disso, ter exacerbado o pânico financeiro.

O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, informou que bancos captaram mais de US$ 150 bilhões em sua janela de redescontos, na semana passada, uma quantia recorde. Empresas de capital privado foram convidadas a estudar os ativos de bancos problemáticos e escolher partes que possam achar atraentes. Executivos de grandes bancos estão em contato constante com funcionários do governo, para determinar a situação de saúde dos bancos menores.

A mistura de soluções de curto prazo, como empréstimos, esforços para encontrar compradores e declarações tranquilizadoras por parte de executivos bancários e funcionários do governo, não têm feito grande coisa em termos de reforçar a confiança no First Republic. Se as intervenções tiveram algum efeito, a despeito das enormes quantias envolvidas, foi o de servir como band-aids em feridas que na verdade precisariam de cirurgia.

Múltiplos rebaixamentos recentes nas classificações de crédito de bancos, entre os quais o First Republic, pelas agências de crédito, geraram medo entre os investidores e depositantes. As manchetes diárias sobre os problemas que vêm surgindo em diversos bancos continuam a fomentar a incerteza em torno do setor como um todo, A pletora de problemas que derrubou o Credit Suisse na semana passada e terminou com a tomada de controle do banco suíço por seu maior concorrente, o UBS, no domingo, por três bilhões de euros, criou novas nuvens escuras sobre o mercado.

E as notícias de que o governo Biden estaria conversando com Warren Buffett, o presidente do conselho da Berkshire Hathaway, famosa por sua injeção de bilhões de dólares em capital para escorar o banco Goldman Sachs durante o momento mais perigoso da crise financeira de 2008, é só mais um sinal de que o pânico atual pode piorar ainda mais.

O First Republic rapidamente está se tornando o símbolo dessas contradições; os esforços extraordinários para salvar a instituição parecem estar aumentando, não reduzindo, as preocupações dos mercados.

Na quinta-feira, 11 dos maiores bancos dos Estados Unidos concederam ao First Republic, o 14º maior banco do país, um empréstimo de curto prazo de US$ 30 bilhões para ajudar a reforçar sua posição, em um momento de fuga em massa de depositantes. O ato foi entendido como uma manifestação de apoio ao First Republic, porque as quantias que os bancos —entre os quais JPMorgan Chase, Bank of America, Citigroup e Wells Fargo— emprestaram não estavam seguradas. Em outras palavras, os grandes bancos podem perder seu dinheiro se o First Republic quebrar, a menos que o governo concorde em reembolsá-los.

O First Republic também vinha procurando um grupo de capital privado ou outro interessado em adquirir uma participação.

Um potencial comprador, um grande banco, realizou uma investigação detalhada das contas do First Republic e desistiu da negociação, disse uma pessoa informada sobre o assunto.

O First Republic também sofreu vários rebaixamentos de sua classificação de crédito nos últimos dias. Na sexta-feira, a Moody's anunciou um rebaixamento do banco devido à sua maior dependência de empréstimos de curto prazo, incluindo dinheiro do Fed e do grupo de grandes bancos. Pagar juros sobre empréstimos pode sair caro para um banco que está tentando escorar seu caixa.

"A Moody's acredita que o custo elevado desses empréstimos, combinado com a elevada proporção de ativos de taxa fixa no banco, pode ter um grande impacto negativo sobre a lucratividade básica do First Republic nos próximos trimestres", disse a agência em uma nota. A Moody's também afirmou que não estava claro de que maneira o First Republic encontraria um caminho para voltar ao lucro.

A Standard & Poor's, em sua nota de rebaixamento, domingo, disse que o banco continuava a enfrentar "desafios substanciais de negócios, liquidez, financiamento e lucratividade".

Se nenhuma dessas dinâmicas surpreendeu os veteranos mais experientes do setor de finanças, a velocidade da queda de alguns bancos os chocou. Quando Jamie Dimon, presidente-executivo do JPMorgan Chase, estava buscando obter apoio de outros financistas para a operação de resgate da semana passada, alguns líderes de outros bancos lhe disseram que duvidavam que a tentativa funcionaria, disseram três pessoas informadas sobre as discussões.

A resposta de Dimon foi curta e grossa: eles precisavam pelo menos tentar. O banco dele agora é um dos que aconselham o First Republic sobre como sobreviver.

Tradução de Paulo Migliacci.

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