Descrição de chapéu PIB

Para 40% mais pobres, desemprego prejudica renda até de quem trabalha, diz pesquisa

Falta de vagas diminui a capacidade de negociar melhores condições de emprego, dizem economistas

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São Paulo

Uma taxa mais alta de desemprego e a deterioração das condições do mercado de trabalho são prejudiciais não apenas para quem está sem trabalho, mas também para quem tem alguma atividade remunerada, de acordo com pesquisa feita na FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP (Universidade de São Paulo). Esse impacto é mais concentrado entre os 40% mais pobres da população.

O pesquisador do Made (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades) Guilherme Proença comparou dados de rendimento mensal por indivíduo e desemprego por município disponíveis nos Censos de 2000 e 2010.

Homem entrega currículo na Barão de Itapetininga, no centro de São Paulo - Mathilde Missioneiro - 30.set.20/Folhapress

"Uma possível explicação para esse resultado é existir poderes de barganha distintos entre trabalhadores de diferentes condições", diz Proença. O economista afirma que a precariedade no mercado de trabalho diminui a capacidade de negociar melhores condições empregatícias da parcela da população com menor renda, pela dependência de salário para se sustentar.

A análise feita pelo pesquisador não permite quantificar as perdas de rendimento entre os 40% mais pobres da população, apenas indica que existe um efeito da alta do desemprego sobre a queda da renda significativo, mas de baixa magnitude. Esse resultado pode ser observado em outras análises que indicam desigualdade salarial por gênero, raça e tempo de estudo.

Já sobre o rendimento total dos outros 60%, mais ricos, o desemprego não teve efeito significativo, aponta a pesquisa.

Grau de instrução, gênero e raça, por também serem relevantes na hora de funcionários negociarem o contrato com o empregador, foram acrescentados ao estudo como variáveis de controle, para atenuar as chances de erro.

O uso de dados do censo na análise permitiu acrescentar informações sobre a remuneração de trabalhadores informais, já que o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e a Rais (Relação Anual de Informações Sociais) abrangem apenas o mercado de trabalho com registro em carteira.

O professor da FEA Naercio Menezes afirma que o estudo avança ao incluir o trabalhador informal na conta. "Após a crise de 2015 e 2016, no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), o salário mínimo protegeu o rendimento real de quem tem vínculo formal. Agora, temos um novo ângulo."

Proença, que faz mestrado sobre desigualdade no mercado de trabalho, pretende revisitar a análise quando o IBGE divulgar o novo Censo, escolhido por ser a única base de dados que indica desemprego por cidade.

A nova edição do Censo, inicialmente prevista para 2020, foi adiada por dois anos consecutivos.

O mercado de trabalho mudou muito desde o período abordado pela pesquisa, em que o emprego havia caído de 9,6% da população economicamente ativa para 7,3%, de acordo com dados do Banco Mundial. O índice de Gini, indicador de desigualdade social, também abaixara nesses dez anos.

Segundo a mesma base de dados, o país encerrou a década de 2020 com desemprego na casa de 13,7% da força de trabalho e o menor índice de Gini da história, após a pandemia de Covid-19 e o pagamento do Auxílio Emergencial de R$ 600. De 2021 em diante, houve uma recuperação de empregos.

Em 2021 o desemprego assolou 13,9 milhões de brasileiros, em média, número que caiu para 10 milhões em 2022, segundo o IBGE . "O ano de 2021 foi de transição, saindo do pior momento da série histórica, sob impacto da pandemia e do isolamento ocorrido em 2020. Já 2022 marca a consolidação do processo de recuperação", afirma Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, em coletiva.

Entre 2020 e 2021, houve uma queda do rendimento médio de R$ 2.928 para R$ 2.810, ainda não revertida, segundo a Pnad Contínua.

O Brasil passou por uma reforma trabalhista em 2017, que criou o trabalho intermitente. O trabalho por aplicativo também se intensificou. As empresas alegam que o serviço é autônomo, o que tem sido questionado por centrais sindicais e trabalhadores na Justiça.

O professor de sociologia do trabalho da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Ricardo Antunes diz que essa forma de trabalho "uberizada" transfere os riscos para o trabalhador, o que mascara a sua renda real. "Se a moto do entregador dá problema, é ele que tem que arcar com o prejuízo. Isso não está bem quantificado por dados."

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