Descrição de chapéu Financial Times Silicon Valley Bank

OCDE pede que bancos centrais continuem a aumentar juros

Economista-chefe da organização com sede em Paris diz que agora 'não é 2008' e alerta que a inflação continua muito alta

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Chris Giles
Londres | Financial Times

A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) pediu aos bancos centrais que "mantenham o rumo" e continuem aumentando as taxas de juros, apesar da turbulência nos mercados financeiros, alertando que a inflação ainda é a principal ameaça à economia mundial.

Em uma atualização de suas previsões econômicas de novembro, concluídas com o aumento das tensões no setor bancário nesta semana, a organização internacional com sede em Paris elevou sua perspectiva de crescimento este ano de 2,2% para 2,6%.

Essa "frágil recuperação" resultou de quedas nos preços da energia e alimentos, afrouxamento das restrições ao coronavírus na China e aumento da confiança das empresas.

Sede do Fed (Federal Reserve banco central dos EUA), em Washington
Sede do Fed (Federal Reserve banco central dos EUA), em Washington - Leah Millis - 19.mar.2019/Reuters

Álvaro Pereira, economista-chefe interino da OCDE, disse que as perspectivas mais otimistas significam que a política monetária "precisa permanecer restritiva até que haja sinais claros de que as pressões inflacionárias subjacentes sejam reduzidas de forma duradoura".

O pedido da OCDE por taxas de juros mais altas nos Estados Unidos e na zona do euro veio depois que o Banco Central Europeu elevou sua taxa de depósito de referência em 0,5 ponto percentual, para 3%, na quinta-feira (16).

A falência do Silicon Valley Bank na semana passada e a necessidade do Crédit Suisse de socorro financeiro na quarta (15) levaram os formuladores de políticas em Frankfurt a indicar que só haveria novos aumentos de juros se os nervos do mercado se acalmassem.

Os responsáveis pelas taxas do Federal Reserve e do Banco da Inglaterra se reunirão na próxima semana, com os investidores apostando que as autoridades vão controlar suas tentativas de conter a inflação aumentando as taxas de juros.

Mas Pereira disse que os bancos centrais não devem responder ao caos dos últimos dias mostrando menos determinação para conter as pressões de preços.

"Ainda enfrentamos uma situação em que a inflação é a principal preocupação", disse ele ao Financial Times. "Se você observar diversas partes do mundo, a inflação se tornou mais generalizada." Ele observou que, embora as taxas principais tenham caído, o núcleo da inflação permaneceu desconfortavelmente alto.

O BCE reconheceu na quinta que o núcleo da inflação —medida que exclui os preços de alimentos e combustíveis e é considerada um melhor indicador da persistência das pressões de preços— permanecerá desconfortavelmente alto durante grande parte deste ano.

Antes do pânico no mercado, a alta inflação de serviços nos EUA levava a expectativas de alta de 0,5 ponto por parte do Fed na próxima quarta (22). Os mercados agora esperam um aumento de 0,25 ponto —ou nenhum— do banco central dos EUA, e muitos estão precificando reduções ainda este ano.

Pereira não esperava que as taxas de juros pudessem cair até 2024, no mínimo, a menos que houvesse uma piora muito significativa na estabilidade financeira. Mas essa não era a principal expectativa da OCDE. "Não estamos em 2008", disse ele, referindo-se à crise financeira global daquele ano.

A organização disse que, embora a inflação provavelmente diminua "gradualmente" neste ano e no próximo, é provável que permaneça acima das metas do banco central até o segundo semestre de 2024. O núcleo da inflação nas economias avançadas do G20 está projetado para 4% em média em 2023 e 2,5% em 2024.

A economia da Rússia ainda deve se contrair 2,5% em 2023, embora isso seja 3,1 pontos percentuais melhor do que nas previsões anteriores da OCDE.

O Reino Unido foi apontado como a economia avançada mais frágil depois da Rússia, com previsão de encolher 0,2% em 2023 e crescer 0,9% em 2024. A estimativa para este ano foi a mesma que a previsão do Escritório de Responsabilidade Orçamentária, mas a previsão da OCDE para 2024 foi significativamente mais pessimista do que a expectativa de crescimento do escritório, de 1,8%.

A OCDE disse que, agora que os preços da energia caíram, os governos devem reduzir o apoio dado para proteger famílias e empresas dos aumentos nesse setor. "Algumas medidas de apoio energético não são mais necessárias", disse Pereira.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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