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Petrobras indica ex-dirigente de sindicato de estaleiros para presidir Transpetro

Subsidiária que opera navios da estatal deve liderar nova tentativa de reerguer indústria naval

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Rio de Janeiro

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, indicou para comandar a subsidiária Transpetro Sergio Bacci, que ocupava a vice-presidência do sindicato patronal que representa os estaleiros brasileiros, beneficiados com programas de encomendas da estatal em gestões petistas.

Bacci foi também diretor do FMM (Fundo de Marinha Mercante), que financiava o setor. Ele chefiará a estatal responsável pela operação da frota de navios da Petrobras e uma das principais ferramentas da política de reativação da indústria naval nacional a partir do primeiro governo Lula.

A indicação é um reforço de que a empresa estará novamente na dianteira da tentativa de reerguer essa indústria, que naufragou após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.

Logotipo da Petrobras no edifício-sede da companhia, no centro do Rio de Janeiro. - Reuters

Em nota, a empresa disse que "as indicações para presidência das subsidiárias da Petrobras estão em análise e serão comunicadas ao mercado oportunamente". "Reforçamos que todas as indicações seguirão os procedimentos internos de governança corporativa."

A Petrobras não respondeu pergunta sobre possível conflito de interesse na nomeação de ex-representante de fornecedores da empresa. A avaliação interna é que não há impedimentos previstos na Lei das Estatais nem no estatuto da companhia.

A lei veda a nomeação de pessoa que tenha firmado contrato com a empresa, "como fornecedor ou comprador, demandante ou ofertante, de bens ou serviços" nos últimos três anos, mas não cita a participação em sindicatos patronais ou entidades de classe.

Durante os primeiros governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Transpetro lançou dois programas de encomendas no país, com um total de 49 navios e 20 comboios hidroviários, que motivaram a reativação e abertura de novos estaleiros.

Ao fim do governo Dilma Rousseff, havia navios e comboios encalhados em canteiros de obras e novos estaleiros, como o EAS (Estaleiro Atlântico Sul), estrela do programa localizado em Pernambuco, entraram em recuperação judicial.

À Operação Lava Jato, executivos confessaram o pagamento de propinas em troca de contratos. O então presidente da Transpetro, o ex-senador Sergio Machado, foi preso e fez colaboração premiada que entregou gravações de conversas com dirigentes do PMDB.

Desde a campanha, Lula tem prometido retomar investimentos na indústria naval, setor que ganhou destaque também na sua primeira campanha vitoriosa à presidência, em 2002, que foi aberta com um vídeo gravado no estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis.

"A indústria naval estava quebrada, a gente não fazia sondas. Eu disse que a gente ia fazer e nós fizemos oito estaleiros nesse país", afirmou o então candidato em outubro de 2022, durante ato de campanha no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

"Eles dizem que houve corrupção na Petrobras. Quando tem corrupção a gente não prejudica os trabalhadores, a gente prende o corrupto."

Bacci não quis dar comentar o assunto. Em entrevista publicada em setembro de 2022 ao portal BE News, defendeu que o governo e estatais garantam demanda inicial para a indústria, que depois poderia atrair compradores privados.

"A Petrobras vai continuar, por pelo menos 50 anos, explorando petróleo, o que demonstra que nos próximos 30 anos vai precisar de navio para o transporte, além de embarcações de apoio nas plataformas. A Marinha do Brasil também precisa renovar a sua frota, que está sucateada", disse.

"Ou seja, apenas os projetos destas duas entidades já seriam suficientes para o setor ter um cronograma e planejar o seu futuro. Assim, com a indústria funcionando dia a dia, o custo passa a ficar competitivo e os estaleiros conseguem atrair as demandas das empresas privadas."

O argumento também foi usado nos programas de encomendas das últimas gestões petistas, mas houve pouco avanço em custos e prazos de entrega antes que fossem suspensos. A Transpetro chegou a cancelar contratos devido aos longos atrasos na entrega das embarcações.

Em sua primeira entrevista coletiva após assumir o cargo, Prates respondeu que "o país está adquirindo cada vez mais maturidade para tratar desse assunto". "O medo da corrupção não pode ser desculpa para comprar tudo de fora", defendeu.

Atualmente, a Transpetro tem uma frota de 36 navios. Além disso, opera oleodutos, gasodutos e terminais de movimentação e armazenagem de petróleo e combustíveis.

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