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PIB

PIB de 2022 foi bem melhor do que se previa, mas agora discutimos como salvar 2024

Aumento forte do número empregos e do consumo foi uma surpresa que não vai se repetir em 23

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Vinicius Torres Freire

Colunista da Folha

No final de dezembro de 2021, previa-se que a economia brasileira cresceria 0,4% em 2022. O crescimento do PIB foi de 2,9%, porém, como se soube nesta quinta-feira (2) pelo IBGE. A previsão errada era de "o mercado", a mediana da centena de estimativas de economistas compiladas semanalmente pelo Banco Central.

Para este 2023, a previsão é de crescimento de 0,9%, o que é quase estagnação (um crescimento da renda por cabeça de apenas 0,2%, por aí). Infelizmente, o risco de acerto é bem maior neste ano.

Uma surpresa como a grande melhora no emprego de 2022 não deve se repetir. Difícil ver de onde possam sair coelhos gordos da cartola, mesmo que sejam coelhos anabolizados de modo doentio por bombas e mágicas de política econômica. O PIBinho de 2023 deve ser carregado pela recuperação da agropecuária, por ajuda de alguma retomada do crescimento da China e por alguma renda extra do Bolsa Família.

Cédulas de real - Vanderlei Almeida - 19.dez.2011/AFP

Antes de resumir o que se passou em 2022, duas notas sobre a crise brasileira, que está para completar uma década neste ano.

Primeira: a renda per capita, o valor do PIB dividido por habitante, em 2022 era praticamente a mesma de meados de 2011. Ainda estamos passando pelo maior desastre econômico de que temos registro (em termos de PIB, desde 1901).

Segunda: o crescimento do PIB per capita acumulado sob o triênio final do governo de Jair Bolsonaro foi de 2,2%. No triênio entre recessões (2017-2019), de 1,9%. No triênio Dilma Rousseff antes da recessão (2012-2014), de 2,8% (e de -2,7% até 2015). Dá para perceber, citando apenas anos menos ruins, que a crise é persistente.

O erro da previsão para 2022 foi enorme, como é fácil perceber. Por quê?

O número de pessoas empregadas cresceu muito além do imaginado e contribuiu para que a taxa de desemprego terminasse o ano em 7,9% (bancões previam uma taxa em torno de 13%). O salário médio cresceu também além da conta. A soma de todos os rendimentos do trabalho ("massa salarial") aumentou 12,8%, em termos reais, já descontada a inflação, uma enormidade, embora ainda seja apenas 3,7% maior do que era no final de 2019, pouco antes da epidemia.

A melhora no emprego e a oferta de crédito bancário, com alguma ajuda das medidas eleitoreiras de Jair Bolsonaro, induziram o aumento do consumo privado, dito consumo das famílias, o que explica o grosso do resultado surpreendente do PIB de 2022.

Ainda não se sabe bem o motivo de tamanha surpresa positiva no emprego. É possível que a redução do custo do trabalho, também em parte por causa da reforma trabalhista, tenha ajudado. Mas pode ser que não conheçamos a economia brasileira depois de uma década de choques horrendos e da reconstrução parcial do pós-epidemia.

Quanto ao consumo, aumentou em particular naquele setor que o IBGE chama de "outras atividades de serviços", o mais prejudicado pela Covid (alimentação, alojamento, escola e saúde privadas e outros serviços prestados a famílias e empresas) e em serviços de utilidade pública (eletricidade, água, esgoto, coleta de lixo etc.). A diferença entre exportações e importações contribuiu com quase um terço da alta do PIB de 2023.

É muito improvável que a situação do emprego melhore como em 2022, embora o salário real ainda crescesse em ritmo forte no final do ano passado. O aumento do número de pessoas empregadas perde ritmo. Crescia a 10,6% ao ano em março; em dezembro, a 3,8%.

O aumento das taxas de juros vai causar seu maior estrago neste ano, assim como vão causar danos outros fatores de aperto financeiro e desânimo empresarial (incerteza sobre a política econômica de Lula 3, real desvalorizado, inflação persistente, mundo em ritmo mais lento, risco país mais alto, Bolsa em baixa etc.).

Embora ainda não tenham aparecido sinais agudos da alardeada crise de crédito, os juros nos bancos e no mercado de capitais continuam a subir faz mais de ano, assim como a inadimplência. As concessões de crédito livre para empresas caíram no trimestre encerrado em janeiro. O consumo de bens que depende de crédito (carros, eletrodomésticos mais caros) desacelerou ao longo do ano.

O crescimento do PIB, da renda ou da produção da economia, desacelerou de alta de 1,3% no primeiro trimestre para encolhimento de 0,2% no quarto trimestre.

O investimento (em novas moradias, instalações produtivas, máquinas, equipamentos, softwares) cresceu quase nada, 0,9%, em 2022. Em 2023, não deve sair melhora daí, pois os ânimos de investir estão diminuídos. A contribuição do setor externo para o PIB (exportações menos importações) deve ser nula, chuta-se, de modo informado.

É possível que a taxa básica de juros da economia venha a cair ainda neste ano, apesar de o último alerta do Banco Central ter sido de Selic ficando na mesma, em 13,75% ao ano, até dezembro ou até depois.

Tanto a mediana das previsões de economistas compilada pelo BC como os preços do atacado de mercado de dinheiro indicam uma Selic a 12,75% no final do ano. "O mercado" está, de certo modo, menos pessimista que o BC.

Os discursos do governo Lula sobre gastos públicos e taxas de juros contribuíram para uma alta de juros na praça, desde novembro. Mas, mesmo que a Selic viesse a terminar o ano 2023 a 11,25%, como se previa até o final do ano passado, não refrescaria 2023. Já estamos discutindo o risco de que o crescimento de 2024 seja também baixo.

Para este começo de ano, a previsão é de um trimestre melhorzinho do que o final de 2022. Tomara. Mas o caldo deve azedar a partir de abril, quando a pasmaceira do ano deve aparecer no mercado de trabalho. No investimento produtivo, já apareceu.

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