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Argentina abandona o dólar e vai pagar por importações da China em yuan

País sul-americano pagará por US$ 1 bilhão em importações neste mês usando o yuan, depois que a pior seca em um século derrubou o peso

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Hou Wuting Denise Jia
Caixin

A Argentina vai começar a pagar por suas importações de produtos chineses usando o yuan em vez do dólar americano, em uma tentativa de preservar as reservas de moeda americana do país, que estão em queda, anunciou o governo na quarta-feira.

Depois de chegar a acordo com várias empresas, o país sul-americano vai pagar em yuan por mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões) em importações chinesas, em abril, e por entre US$ 790 milhões (pouco mais de R$ 3,9 bilhões) e US$ 1 bilhão de importações adicionais a partir do mês que vem, disse o ministro da Economia, Sergio Massa, em uma reunião em Buenos Aires com o embaixador chinês Zou Xiaoli.

País vai pagar em yan negociações da China em abril, depois de queda do dólar - Dado Ruvic/Illustration/Reuters

A decisão da Argentina de liquidar as importações da China em yuan é um novo estímulo ao uso mundial da moeda chinesa. Em março, o Brasil fechou acordo para começar a liquidar algumas transações comerciais com a China em moeda local e tomou medidas para facilitar o comércio com a China em yuan. A China é o maior parceiro comercial do Brasil e o segundo da Argentina.

A Argentina está lutando contra uma grande fuga de reservas em dólares, devido a uma queda acentuada das exportações agrícolas causada por uma seca histórica.

O país sul-americano perdeu pelo menos US$ 15 bilhões (cerca de R$ 75 bilhões) em exportações em meio à pior seca em um século, disse Massa. As exportações agrícolas do país devem cair em 28% este ano, de acordo com uma estimativa da Fundação Argentina de Agricultura para o Desenvolvimento.

Enquanto isso, o peso argentino caiu para mínimos históricos em relação ao dólar, à medida que crescem as preocupações com a economia do país. Com a inflação já acima dos 100%, empresas e famílias vêm correndo para trocar pesos por dólares, o que solapa ainda mais as reservas de dólares do país.

Na segunda-feira, a Argentina tinha US$ 36,47 bilhões em reservas estrangeiras, ante US$ 44,6 bilhões no início deste ano, segundo dados do banco central.

Em um tuíte na terça-feira (25), Massa prometeu usar "todas as ferramentas" para deter a queda do peso. O governo da Argentina decidiu usar mais ativamente os swaps cambiais com a China, o que pode ajudar a Argentina a poupar despesas cambiais em valor total de US$ 4,4 bilhões nos próximos meses, disse Massa.

A China e a Argentina assinaram um acordo de swap de moeda em 2009, permitindo que as empresas argentinas que exportam para a China façam pagamentos em yuan ou dólares. Os dois países concordaram inicialmente em um swap de 70 bilhões de yuan (US$ 144 milhões), ou 38 bilhões de pesos, em 2009. O valor aumentou para 130 bilhões de yuan em 2020.

Em janeiro, os bancos centrais da China e da Argentina formalizaram uma expansão do pacto de swap cambial e acrescentaram uma ativação especial de 35 bilhões de yuan ao acordo anterior.

O acordo permitirá que a Argentina acelere as aprovações de importações chinesas, disse Massa, com pedidos de importação denominados em yuan sendo autorizados em 90 dias, em lugar do padrão de 180.

Em um marco histórico para a moeda chinesa, o uso do yuan nas transações internacionais da China saltou à frente do dólar pela primeira vez em março, de acordo com uma pesquisa da Bloomberg Intelligence, citando dados oficiais.

No ano passado, quase metade do valor total dos pagamentos e recebimentos internacionais da China foi liquidado em yuan, informou o Banco Popular [banco central] da China em fevereiro.

A percentagem de liquidações em yuan no valor total do comércio de mercadorias atingiu 18%, e no investimento estrangeiro direto a proporção chegou a 70%. Ambos atingiram níveis recordes, de acordo com o relatório.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

Caixin, tradução de Paulo Migliacci

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