Brasil faz primeira emissão externa sob Lula em ambiente de juro maior e com alta demanda

Interesse de investidores superou oferta de títulos em 5,7 vezes; taxa de retorno de 6,15% é a maior desde 2006

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Brasília

Em seu primeiro teste de confiança perante investidores internacionais, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez nesta quarta-feira (5) uma emissão de títulos da dívida no exterior, em um leilão com alta demanda. Segundo o Tesouro Nacional, o valor captado ficou em US$ 2,25 bilhões (R$ 11,35 bilhões).

O governo optou pela emissão de um novo título com prazo de dez anos, o Global 2033. Em um ambiente de juros altos, inclusive no cenário internacional, o Brasil precisou arcar com uma taxa de retorno de 6,15% –a maior desde 2006, quando a emissão do papel de dez anos pagou 6,249%.

Em julho de 2021, última vez em que esse tipo de título foi lançado, a taxa ficou em 3,875%, ainda sob condições de maior liquidez e juros baixos.

Cédulas de dólar - Gabriel Cabral - 24.jan.19/Folhapress

Ainda assim, o custo da emissão desta quarta-feira ficou abaixo dos 6,50% a 6,625% estimados inicialmente, diante do forte apetite dos investidores pela dívida brasileira. A procura foi de US$ 8,5 bilhões, o equivalente a 5,7 vezes o valor inicial previsto para a operação (US$ 1,5 bilhão).

O interesse é considerado acima da média, uma vez que a procura costuma ficar em três ou quatro vezes o valor da oferta de títulos. "A demanda mais forte permitiu ao Tesouro captar US$ 2,25 bilhões", disse o órgão.

A emissão dos títulos soberanos ocorre uma semana após os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) anunciarem os detalhes da proposta de novo arcabouço fiscal do governo.

O tema é crucial para tentar melhorar a percepção de investidores brasileiros e estrangeiros sobre a sustentabilidade da dívida do país, que hoje já se encontra em patamar elevado. A emissão ocorre, portanto, em um momento decisivo para o governo medir a capacidade de o novo arcabouço servir como sinalização desse compromisso.

A emissão soberana no exterior funciona como uma referência para as taxas de juros a serem pagas por empresas brasileiras em suas próprias captações externas.

O prazo de dez anos representa um horizonte intermediário entre as opções de papéis que costumam ser ofertadas nos leilões externos —o Tesouro também já emitiu recentemente títulos de cinco anos e 30 anos.

"O objetivo da operação é dar continuidade à estratégia do Tesouro Nacional de promover a liquidez da curva de juros soberana em dólar no mercado externo, provendo referência para o setor corporativo, e antecipar financiamento de vencimentos em moeda estrangeira", disse o Tesouro.

No início do ano, o órgão informou que já tinha todos os recursos em moeda estrangeira necessários para honrar a dívida externa que vence no ano de 2023. A nova emissão, portanto, ajuda a melhorar a gestão e o perfil desse passivo.

Neste caso, a emissão também serviu de termômetro para o governo mapear quais atores tiveram interesse na dívida brasileira. Segundo o órgão, houve presença de investidores "de alta qualidade", que costumam buscar ativos em países com grau de investimento —selo de bom pagador que o Brasil não ostenta desde 2015.

O atual governo tem a ambição de recolocar o Brasil neste seleto grupo de economias, que têm acesso a um leque mais amplo de fontes de investimento.

"A operação demonstra o grande apetite do investidor estrangeiro por ativos brasileiros", afirmou o Tesouro.

Essa foi a primeira emissão do tipo desde 2021, uma vez que o Brasil não realizou captação externa em 2022. A operação foi liderada pelos bancos Bank of America, BNP Paribas e Morgan Stanley.

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