CEO de dona da Ambev quer expansão de cerveja premium e vê demanda por bebida em alta

Executivo-chefe da maior cervejaria do mundo está focado em jogo longo e sua paixão por construir, não comprar

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Andrew Edgecliffe-Johnson
Financial Times

Quando se tornou CEO, Michel Doukeris percebeu que teria que confiar mais em outras pessoas do que havia feito em seus empregos anteriores, e que as informações que elas traziam para ele seriam "curadas", e não a imagem completa.

Ele tenta evitar o "teatro" das apresentações superpreparadas de seus subordinados diretos. Em vez disso, pede a eles "memorandos de desempenho" mensais –notas de duas ou três páginas nas quais eles dizem o que está funcionando, o que não está e o que querem discutir com ele.

Michel Doukeris, CEO da AB Inbev, dona do conglomerado de cervejas da Ambev
Michel Doukeris diz que mercado de cerveja premium precisa se expandir - Benoit Doppagne - 27.abr.2022 / AFP

Ele os complementa com "tours de ouvidoria" anuais, em que conhece os 200 principais líderes da empresa em pequenos grupos. "Individualmente, nenhuma dessas conversas de cinco a dez pessoas faz sentido, porque os tópicos são muito aleatórios", diz ele, mas temas recorrentes surgem quando sua equipe destila as anotações das reuniões.

Isso ajudou a moldar quatro suposições principais sobre como será o mercado da AB InBev na próxima década.

Primeiro, que a recente tendência da indústria de "premiumização" –encorajar os consumidores a optar por marcas mais caras– tem que ir mais longe. Em segundo lugar, as categorias de cerveja, destilados e vinhos vão se confundir ainda mais, ao mesmo tempo em que criam mais demanda por alternativas sem álcool e opções com baixo teor alcoólico, como spritzers.

Em terceiro lugar, prevê Doukeris, suas relações com lojas, bares e consumidores se tornarão cada vez mais digitais. A empresa criou um mercado online para ajudar pequenas lojas de conveniência a reabastecer com seus produtos e produtos de outras marcas, que agora são usados por 6 milhões de pontos de venda. "Se a comunidade está saudável, se o cliente está crescendo, então temos um negócio melhor", observa.

Por fim, Doukeris acredita que a demanda por cerveja continuará crescendo e que a maior expansão ocorrerá em mercados menos saturados, onde a AB InBev acredita estar bem posicionada, da América Latina à África e da Índia à China.

Voltando aos sete anos que passou na Ásia, Doukeris diz que a China lhe ensinou um estilo de pensamento lateral, diferente da lógica comercial ocidental convencional. Apresentados a mil maneiras diferentes de ir de A a B, os executivos ocidentais procurarão a rota mais eficiente, diz ele, mas "se você preparar tudo e se lançar com apenas um resultado, que é o sucesso, talvez se comprometa demais".

A alternativa é um estilo de experimentação rápida que ele agora está promovendo. "Você segue várias rotas e decide qual é a mais eficaz, e mata várias logo no início", diz. A abordagem reduziu o tempo necessário para lançar um produto de até quatro anos para apenas cem dias.

"Essa ideia de que as coisas só são boas quando dão certo não é verdade", diz. Não fechar negócio pode ser o melhor resultado de um projeto de M&A, por exemplo.

Doukeris pode estar transmitindo uma mensagem de longo prazo, mas também quer que sua empresa experimente agora e aprenda rapidamente com seus erros. "Falhar rápido e falhar barato é, na verdade, uma grande conquista", diz ele.

Três perguntas para Michel Doukeris

Qual foi a primeira lição de liderança que você aprendeu? [Foi] realmente ter clareza sobre o que você quer alcançar e entender que se comunicar claramente com as pessoas, ter pessoas ao seu lado e aproveitar o conhecimento delas é muito útil para alcançar o que você deseja. Então, acho que é clareza na mensagem, clareza na comunicação e um bom entendimento de que você fará as coisas acontecerem com as pessoas, não sozinho.

Você tem um herói de liderança ou mentor? Não de verdade. Tento aprender o máximo que posso de várias fontes diferentes, [mas] sempre tive um livro comigo que li muito cedo e reli inúmeras vezes. Chama-se ‘A Arte da Guerra’, de Sun Tzu. É todo sobre objetivos claros, comunicação, trabalho em equipe. É um livro de liderança incrível.

O que você estaria fazendo se não fosse CEO da AB InBev? Há duas coisas, que eu acho que estão conectadas, que eu poderia estar fazendo se não estivesse vendendo cerveja. Acho que no esporte ou no ensino. Acho que seria mais no coaching ou na gestão do esporte ou no ensino, porque gosto da ideia de interagir com as pessoas, tentar apoiá-las e ajudá-las a melhorar.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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