Descrição de chapéu indústria mercado de trabalho

Coteminas, que vai produzir para Shein no Brasil, quer demitir 700 em Blumenau

Sindicato dos trabalhadores diz que empresa propôs parcelar em 15 vezes as verbas rescisórias; companhia afirma que vai passar por ajustes de produção

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São Paulo

A Coteminas (Companhia de Tecidos Norte de Minas) pretende demitir cerca de 700 funcionários de sua unidade em Blumenau, Santa Catarina, segundo o Sintrafite (Sindicato dos Trabalhadores Têxteis de Blumenau, Gaspar e Indaial).

Em reunião realizada na semana passada, a companhia também teria informado que o pagamento das verbas rescisórias desses trabalhadores seria feito em 15 parcelas.

Na manhã desta segunda (3), os funcionários se reuniram em assembleia em frente ao portão principal da fábrica e decidiram pela criação de uma comissão de negociação com a empresa.

Trabalhadores da Coteminas em Blumenau (SC) se reuniram nesta segunda (3) em assembleia para discutir as demissões anunciadas pelas empresa
Trabalhadores da Coteminas em Blumenau (SC) se reuniram nesta segunda (3) em assembleia para discutir as demissões anunciadas pelas empresa - Divulgação/Sintrafite

A Coteminas diz que a unidade industrial de Blumenau passará por ajustes de produção. Lá, segundo a empresa, será implantado "um novo modelo de trabalho que exigirá novos equipamentos industriais e adequação do seu quadro de pessoal."

Os trabalhadores acreditam que o novo modelo previsto pela companhia tenha relação com o contrato fechado pela Coteminas com a Shein.

A empresa, comandada por Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), é uma das contratadas pela gigante asiática para nacionalizar a produção de varejo de moda.

Na última quinta (29), Josué esteve em Brasília (DF), onde, ao lado da governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), do presidente da Shein para o Brasil e América Latina, Marcelo Claure, e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciaram o início da produção nacional da companhia chinesa, ainda em julho, na fábrica da Coteminas, em Macaíba (RN).

Carlos Alexandre Maske, diretor-presidente do sindicato dos trabalhadores, relata ter ouvido de representantes da empresa que uma parte da unidade fabril será usada para atender o contrato com a Shein, mas que isso ficaria concentrado apenas no setor de beneficiamento.

Esse departamento é responsável por operações como tinturaria, secagem e acabamento dos tecidos. O problema para a força de trabalho, diz Maske, é que são poucos os funcionários dedicados a esse setor.

A Coteminas em Blumenau tinha, até o início do ano, cerca de 1.250 empregados. O contingente já diminuiu pois, segundo o presidente do Sintrafite, muitos trabalhadores deixaram a empresa conforme o nível de produção caía e a companhia dava sinais de dificuldades.

Em 2022, a fábrica praticamente não produziu, diz o presidente do sindicato. O alerta de que a situação econômica da indústria estava ruim veio no fim de 2021, quando os primeiros atrasos no depósito do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) foram identificados por trabalhadores.

No início do ano seguinte, houve layoff, que é a suspensão temporária dos contratos, uma espécie de pausa prevista pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Em 2023, os funcionários em Blumenau foram à Justiça do Trabalho cobrar os depósitos do FGTS e dos salários, que foram pagos com atraso de 11 dias.

A fábrica instalada no distrito industrial Garcia funciona desde 1936, quando ainda se chamava Artex, produzindo principalmente toalhas, edredons, lençóis e fronhas. Durante a pandemia, produziu máscaras. Em 2001, a Coteminas comprou o complexo.

Na assembleia realizada na segunda-feira, os trabalhadores decidiram montar uma comissão para negociar com a empresa. Segundo Maske, presidente do sindicato, os trabalhadores não abrem mão da suspensão das demissões e o pagamento integral das verbas rescisórias. Até uma manifestação em frente à Fiesp não está descartada.

Maske relata que, em uma primeira reunião convocada pela empresa, os representantes da Coteminas disseram ter identificado cerca de 300 trabalhadores interessados em serem demitidos. Outros 200 não poderiam ser dispensados por estarem em licenças (como auxílio-doença ou maternidade).

"Tem um grupo que realmente quer sair da empresa porque a situação está insustentável. Só que esses trabalhadores têm que receber a indenização toda de uma vez", diz o presidente do Sintrafite.

Em Itaúna (MG), onde a produção de tecidos está parada desde o início de 2023, a expectativa dos trabalhadores é que fiação e tecelagem sejam retomados a partir do dia 10 de julho. Lá, funciona a Tecidos Santanense, comprada em 2004 pela Coteminas, empresa com cerca de 800 funcionários.

A advogada Sandra Regina de Paula Vitor, assessora jurídica do Sindicato dos Tecelões de Itaúna, diz que a partir da retomada da produção, a empresa se comprometeu a acertar o pagamento de benefícios. Segundo Sandra, o vale-alimentação foi pago pela última vez em fevereiro.

Um outro benefício, o vale-leite, não é pago desde outubro. A representante do sindicato também diz ter ouvido que naquela unidade não haverá corte de pessoal. Os salários chegaram a ser pagos com atraso no mês passado, mas, segundo a advogada dos tecelões, está em dia.

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