Empresas aproveitam home office para demitir funcionários a distância

McDonald's chegou a mudar rotina de colaboradores presenciais para desligá-los por nota, diz site

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Sarah Kessler​ Lauren Hirsch Michael J. de la Merced
The New York Times

Na semana passada, o McDonald's pediu aos funcionários corporativos, que geralmente trabalham no escritório pelo menos três dias por semana, que fizessem seu serviço de casa. O plano era demitir centenas de funcionários, segundo o site DealBook, e a empresa preferia divulgar a notícia virtualmente.

O McDonald's não é a única empresa a modificar o manual de demissões. Em janeiro, o Google demitiu milhares de empregados por e-mail. E Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou no mês passado planos para um ano de grandes cortes em um memorando de 2.000 palavras, explicando que a equipe da Meta "queria mais transparência em qualquer plano de reestruturação".

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A forma de demitir funcionários está sendo reescrita após a pandemia - Catarina Pignato

Assim como muitas normas de trabalho, a forma de demitir funcionários está sendo reescrita após a pandemia, quando as empresas que reduziam de tamanho geralmente não tinham escolha a não ser fazer demissões via Slack, Zoom e e-mail, e muitas vezes o fizeram de forma descuidada. Com os escritórios abertos novamente e o trabalho remoto mais comum, as empresas agora têm opções –e não está necessariamente claro o que é melhor para os trabalhadores.

"Se tivéssemos esta conversa três anos atrás, eu teria dito que é uma punição cruel e incomum", disse Bob Sutton, professor de Stanford e autor de "The No Asshole Rule", sobre a demissão a distância. "Mas mudou tão drasticamente desde a pandemia que estou confuso."

A tese das demissões virtuais

Cynthia Huang, gerente sênior de marketing, foi demitida de uma empresa de bens de consumo com uma política de trabalho híbrida em fevereiro. Por estar trabalhando remotamente naquele dia, ela recebeu a notícia por videochamada; outros foram dispensados no escritório.

Huang disse que preferiu receber a ligação em casa. "Foi mais confortável do que se eu tivesse que sair fisicamente do escritório, pegando as minhas coisas com todos me observando", disse ela.

Demitir pessoas em casa às vezes pode ser mais compassivo na era do trabalho híbrido, disse Sutton. "Se você chamar para o escritório pessoas que não vão muito lá só para dispensá-las, é meio estranho", disse ele.

A tese das demissões cara a cara

Quando as demissões são feitas remotamente, os gerentes podem não sentir totalmente o custo humano de suas decisões, disse Sutton: "É um pouco fácil demais". E com um aviso presencial os funcionários têm a possibilidade de se despedir dos colegas de trabalho.

Kim Scott, ex-executivo do Google e autor de "Radical Candor", sugeriu que constrangimento ou embaraço poderiam ser evitados planejando com antecedência –por exemplo, ter uma sala de conferências extra para as pessoas se recomporem, e a opção de recolher os pertences depois do expediente.

O meio importa

Uma videochamada com seu gerente supera o e-mail impessoal. "É muito difícil cuidar disso pessoalmente por e-mail", disse Scott.

E especialistas questionam a sabedoria do anúncio pré-dispensa feito por Zuckerberg.

"Você tem que estar preparado ao mesmo tempo para falar com as pessoas sobre o processo pelo qual irão passar e o que vão lhes oferecer se seus empregos estiverem em risco", disse Sandra Sucher, professora na Escola de Administração de Harvard. "Porque se você não fizer todas as partes ao mesmo tempo estará apenas introduzindo uma tonelada de incerteza em sua organização."

Scott aconselha uma janela estreita entre anunciar e executar demissões. "Isso deixa todo mundo nervoso", disse ela sobre a abordagem de Zuckerberg.

Mas mesmo a versão mais educada de dispensar alguém ainda é dolorosa. "Parecia que não havia aquele toque humano, sabe?", disse Huang sobre sua experiência. "Mas não acho que foi necessariamente porque era virtual versus presencial. Acho que é apenas a natureza de uma dispensa."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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