Descrição de chapéu mercado de trabalho

Brasileiro freia busca por trabalho, e desemprego fica estável

Taxa de desocupação é estimada pelo IBGE em 8,5% no trimestre até abril; analistas projetavam 8,8%

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Rio de Janeiro

Sem um grande aumento na procura por trabalho, a taxa de desemprego do Brasil ficou relativamente estável em 8,5% no trimestre até abril.

O resultado veio após o indicador marcar 8,4% nos três meses imediatamente anteriores, informou nesta quarta-feira (31) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A taxa de 8,5% é a menor para o trimestre até abril desde 2015 (8,1%). O dado também veio abaixo das expectativas do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam 8,8% na mediana.

O número de desempregados, por sua vez, foi estimado em 9,1 milhões até abril, disse o IBGE. O contingente era de 9 milhões nos três meses anteriores. Também houve relativa estabilidade.

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Pessoa segura carteira de trabalho enquanto aguarda em fila de feirão de empregos em São Paulo - Zanone Fraissat - 13.jul.2022/Folhapress

As estatísticas integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

Segundo Alessandra Brito, analista da pesquisa do IBGE, o fato de a taxa de desemprego não ter apresentado uma alta em abril foi "um pouco atípico".

"Essa estabilidade é diferente do que costumamos ver para este período. O padrão sazonal do trimestre móvel fevereiro-março-abril é de aumento da taxa de desocupação, por meio de uma maior população desocupada, o que não ocorreu desta vez", afirmou.

A Pnad abrange o mercado de trabalho formal e o informal. Ou seja, contempla desde os empregos com carteira assinada e CNPJ até os populares bicos.

Historicamente, o início de ano registra aumento do desemprego porque a busca por trabalho costuma ser impulsionada pelo término dos contratos temporários dos meses anteriores.

A população desempregada, conforme as estatísticas oficiais, é formada por pessoas de 14 anos ou mais que estão sem ocupação e que seguem à procura de vagas. Quem não está buscando oportunidades, mesmo sem ter um emprego, não entra nesse número.

"A taxa de desemprego não aumentou porque a população desocupada não aumentou significativamente", disse Brito.

População fora da força tem alta

A chamada população fora da força de trabalho, que não está trabalhando nem procurando vagas, chegou a 67,2 milhões no trimestre até abril. Isso representa uma alta de 1,3% na comparação trimestral (mais 885 mil pessoas).

Brito ponderou que os dados não permitem afirmar com clareza quais são os motivos por trás do crescimento da população fora da força. Segundo ela, uma das possibilidades é o aumento das transferências de renda via programas como o Bolsa Família.

"É uma possibilidade, mas, com os dados da Pnad, não conseguimos dizer isso", declarou Brito ao ser questionada por jornalistas.

"Os outros fatores [para não procurar trabalho] podem ser vários", acrescentou a pesquisadora, citando como exemplos questões demográficas e dedicação aos estudos.

Em relatório, o banco Original destacou que "muitas pessoas consideradas aptas a trabalhar não estão procurando emprego" e que, por isso, não são consideradas desempregadas.

"Um possível incentivo para esse movimento são os estímulos de transferência de renda por parte do governo, com contornos de renda permanente", indicou o texto assinado pelos economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac.

Reportagem da Folha mostrou neste mês que jovens deixaram de participar do mercado de trabalho e que uma das hipóteses para o quadro é o incremento do rendimento familiar a partir dos programas como o Bolsa Família, substituto do Auxílio Brasil.

Conforme o IBGE, a taxa de participação na força de trabalho recuou para 61,4% no trimestre até abril, após marcar 61,9% nos três meses anteriores.

O indicador mede a proporção de pessoas que estão inseridas na força como ocupadas (com algum tipo de vaga) ou desempregadas (à procura de oportunidades).

"A gente não pode cravar, mas a taxa de participação vem em queda, e um dos suspeitos é o aumento do benefício", diz o pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Número de ocupados diminui

De acordo com o IBGE, a população ocupada com algum tipo de trabalho recuou para 98 milhões no trimestre até abril. O número aponta queda de 0,6% (menos 605 mil pessoas) na comparação com os três meses anteriores.

"Essa redução faz parte da tendência sazonal observada na série histórica", afirmou Brito.

A queda na população ocupada, diz o IBGE, foi puxada por serviços domésticos (retração de 3,3% ou menos 196 mil pessoas), agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (recuo de 2,4% ou menos 204 mil pessoas) e comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (diminuição de 1,4% ou menos 265 mil pessoas).

A renda média do trabalho dos ocupados, por sua vez, foi de R$ 2.891. Assim, ficou estável frente ao trimestre anterior (R$ 2.894). Os dados são ajustados pela inflação.

Após os estragos da pandemia, a geração de vagas de trabalho no Brasil foi beneficiada por fatores como a vacinação contra a Covid-19 a partir de 2021. A imunização permitiu o retorno da circulação das pessoas e a reabertura das empresas, intensificada em 2022.

A recuperação do mercado de trabalho, contudo, tende a perder velocidade em 2023, segundo analistas. A projeção está associada ao cenário de desaceleração da atividade econômica em meio ao contexto de juros elevados.

"Olhando à frente, segue válida nossa opinião de que a ocupação segue forte, mas veremos uma perda de fôlego da atividade econômica que pode levar parte da população a voltar procurar emprego, o que pressionaria a taxa de desemprego", afirmou o banco Original.

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