Descrição de chapéu PIB indústria inflação

Economia surpreende no 1º trimestre, mas não afasta previsão de ritmo menor em 2023

Indicadores do IBGE vêm acima de expectativas em março, mas analistas ainda enxergam perda de fôlego ao longo do ano

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Rio de Janeiro

Resultados de setores da economia brasileira pesquisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) surpreenderam analistas, reforçando as projeções de um cenário mais positivo para o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre.

Esse contexto, porém, não afasta a expectativa de perda de ritmo da atividade econômica ao longo de 2023. A avaliação ainda é que os juros elevados, as restrições de crédito e o desaquecimento da economia global tendem a impedir um desempenho mais forte no acumulado do ano.

Movimentação de pedestres no comércio da região da 25 de Março, em São Paulo - Rubens Cavallari - 4.fev.2023/Folhapress

Nesta quarta (17), o IBGE informou que as vendas do varejo subiram 0,8% em março ante fevereiro. O dado ficou bem acima das previsões dos analistas consultados pela agência Reuters, que esperavam retração de 0,8%.

Com o resultado, o varejo fechou o primeiro trimestre de 2023 com alta de 2% frente aos três meses imediatamente anteriores. O setor está 4,3% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020.

Em relatório assinado pelo economista Gabriel Couto, o Santander Brasil destacou que as vendas do varejo vieram acima das expectativas em março.

Com isso, a projeção atualizada com maior frequência pelo banco passou a indicar crescimento de 1,1% para o PIB do primeiro trimestre, ante 1% da estimativa anterior.

Para o acumulado deste ano, o Santander prevê alta de 1%, com desaceleração em meio ao desaquecimento da economia global e aos juros elevados no Brasil.

O Itaú Unibanco, também em relatório, afirmou que os números positivos das vendas do varejo no primeiro trimestre "mostraram certa resiliência da atividade econômica no período".

"O mercado de trabalho mais forte do que o esperado e o estímulo fiscal apoiaram os gastos das famílias", diz a análise assinada pelos economistas Natalia Cotarelli e Matheus Fuck.

"Apesar disso, esperamos alguma desaceleração nas vendas no varejo nos próximos meses em meio aos efeitos defasados da política monetária", completa.

No mesmo relatório, o Itaú indica que a estimativa para o PIB trimestral avançou de 1,3% para 1,4%, levando em consideração o acompanhamento atualizado com maior frequência.

Antes de apresentar os números do comércio varejista, o IBGE informou na terça (16) que o volume de serviços em março cresceu 0,9% ante fevereiro. A expectativa de analistas consultados pela Reuters era de uma variação menor, de 0,5%.

O avanço veio após queda de 2,9% em janeiro e crescimento de 0,7% em fevereiro. O setor de serviços fechou o primeiro trimestre com retração de 0,3% em relação aos três meses anteriores.

O segmento, contudo, vem de uma base de comparação mais alta devido à retomada dos negócios após as restrições da pandemia. Sinal disso é que o ramo está 12,4% acima do nível de fevereiro de 2020, segundo o IBGE.

"O setor de serviços tem sido o grande protagonista, fez a gente rever o PIB para cima", diz o economista Igor Cadilhac, do banco Original, destacando os avanços do segmento depois da queda em janeiro.

Após a divulgação dos dados de serviços referentes a fevereiro, as projeções do Original para o PIB foram revisadas para alta de 1,1% no primeiro trimestre e avanço de 0,8% no acumulado de 2023. As estimativas anteriores eram de 0,5% e 0,7%, respectivamente.

Na visão de Cadilhac, as boas condições da safra de grãos e o mercado de trabalho ainda aquecido, mesmo com a desaceleração recente, beneficiaram a atividade econômica na largada do ano.

Isso, pondera, não elimina as dificuldades do radar para o restante de 2023. "O cenário é bem desafiador, com juros altos, endividamento das famílias", aponta o economista.

Na semana passada, o IBGE informou que a produção industrial cresceu 1,1% em março. A expectativa de analistas era de alta de 0,8%, conforme pesquisa da agência Reuters.

O crescimento registrado pelas fábricas veio após dois recuos consecutivos (-0,3% em janeiro e -0,2% em fevereiro). O nível da produção industrial, contudo, ainda está 1,3% abaixo do pré-pandemia.

O resultado do PIB do primeiro trimestre de 2023 será divulgado no dia 1º de junho pelo IBGE. No quarto trimestre de 2022, o indicador recuou 0,2% frente aos três meses imediatamente anteriores. Mesmo assim, fechou 2022 com alta de 2,9% no acumulado do ano.

A desaceleração da atividade econômica em 2023 já era prevista pelos analistas devido a fatores como os juros elevados.

O BC (Banco Central) vem mantendo a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. Ao tentar esfriar a demanda por bens e serviços, a Selic de dois dígitos busca frear os preços e ancorar as expectativas para a inflação.

O efeito colateral esperado é a perda de ritmo da atividade econômica, já que o crédito fica mais caro para empresas e consumidores.

Esse cenário preocupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ano inicial de governo. Ao longo de 2023, Lula já fez uma série de críticas ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, em virtude dos juros altos.

Em relação ao setor agrícola, o IBGE projetou safra recorde de 302,1 milhões de toneladas no país em 2023, segundo estimativa feita em abril e divulgada em maio.

O número previsto está 14,8% acima do obtido em 2022 (263,2 milhões de toneladas). De acordo com o instituto, as melhores condições de chuva neste ano beneficiaram a produção no campo –a exceção foi o Rio Grande do Sul, que amargou nova seca no último verão.

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