Prêmio para jovens economistas vai para especialista em taxação de fortunas

Gabriel Zucman, que trabalhou com Thomas Piketty, recebeu a medalha John Bates Clark por estudos sobre desigualdade

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São Paulo

O economista francês Gabriel Zucman, 36, especialista em desigualdade e política tributária, é o vencedor do prêmio John Bates Clark de 2023.

A medalha John Bates Clark é um prêmio dado anualmente para "o economista com menos de 40 anos que fez uma contribuição significativa para o conhecimento econômico" pela American Economic Association. Até 2009, o prêmio era dado a cada dois anos.

De paletó preto e camisa social azul clara, o economia Gabriel Zucman discursa em painel no Fórum Econômico Mundial. Ele gesticula com as mãos, tem cabelos escuros e sorri levemente
Gabriel Zucman, em painel no Fórum Econômico Mundial - Faruk Pinjo - 19.jan.23/World Economic Forum

Professor associado da Universidade da Califórnia em Berkeley, Zucman é coautor de "The Triumph of Injustice" (O Triunfo da Injustiça), em que discute como os ricos pagam poucos impostos e o que deve ser feito para que eles sejam mais taxados.

Também escreveu "The Hidden Wealth of Nations" (A Riqueza Oculta das Nações). O economista desenvolveu também diversos trabalhos sobre o tema com o economista Thomas Piketty.

No comunicado, a associação diz que Zucman fez contribuições fundamentais para o campo da economia e que é reconhecido como um dos maiores especialistas mundiais em evasão fiscal, tendo contribuído para a literatura sobre medição e explicação do aumento da desigualdade econômica.

"Sua pesquisa fornece pistas importantes que municiam debates políticos sobre o desenho de sistemas tributários em todo o mundo", diz o texto.

A entidade também ressalta que o trabalho de Zucman tem levado a pesquisa econômica a compreender que esse fenômeno é mais importante do que se pensava anteriormente.

A associação destaca que no trabalho "The Missing Profits of Nations" (Os lucros perdidos das nações, publicado na Review of Economics Studies) Zucman estimou o volume de transferência de lucros internacionais por empresas multinacionais.

"Zucman e os coautores estimam que 36% dos lucros das multinacionais em todo o mundo são transferidos para paraísos fiscais", diz o comunicado.

"Obrigado, American Economic Association, por essa incrível honra. Sou imensamente grato aos muitos coautores, mentores, colegas e alunos com quem aprendi tanto e que tornaram toda essa pesquisa possível", escreveu o pesquisador em sua conta no Twitter.

Antes do francês, a entidade já premiou outros jovens pesquisadores que ganhariam destaque nos anos seguintes, como Robert Solow (1961), Lawrence Robert Klein (1959), Joseph Stiglitz (1979) e Paul Krugman (1991).

"Zucman é um dos economistas mais importantes do momento estudando desigualdades de riqueza e o desenho de sistemas de tributação capazes de lidar com essas desigualdades", avalia o pesquisador brasileiro Guilherme Lichand, da Universidade de Zurique, na Suíça, também especialista no tema.

"O que torna seu trabalho ainda mais interessante e importante é o fato de ser ligado a um tema de política internacional, a taxação de riqueza. Um assunto que tem sido alvo de diversas discussões recentes nos Estados Unidos e também no Brasil."

Em um artigo publicado no jornal Valor Econômico, Lichand também ressaltou que Zucman —em parceria com o economista Emmanuel Saez no artigo "Wealth Taxation: Lessons from History and Recent Developments" (Tributação da Riqueza: Lições da História e Desenvolvimentos Recentes)— conclui que as razões mais importantes para a baixa tributação da riqueza em países europeus são políticas, não econômicas.

Além de o limite de isenção dos impostos sobre riqueza ser baixo historicamente, falta um sistema similar ao de controle da renda para cruzar dados bancários e registros de propriedade para definir a riqueza tributável, explica Lichand. Além disso, os governos taxam por local de residência, o que aumenta o temor de que os mais ricos se mudem para outros países.

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