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Grupo apoiado pela Arábia Saudita quer canal de notícias em inglês para rivalizar com Al Jazeera

País pretende expandir sua influência na mídia em todo o mundo

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Daniel Thomas Ivan Levingston
Londres | Financial Times

Um grupo de mídia apoiado pelo governo da Arábia Saudita estuda a possibilidade de lançar um canal internacional de notícias em inglês que poderia rivalizar com a Al Jazeera, já que o país pretende expandir sua influência na mídia mundial.

O SRMG (Saudi Research and Media Group) entrou em contato com consultorias de mídia para estudar a viabilidade e o escopo do empreendimento, segundo várias pessoas familiarizadas com o projeto.

Os preparativos estão em estágio inicial, mas essas pessoas disseram que seria a segunda grande emissora em língua inglesa no mundo árabe, atrás da Al Jazeera English.

A Al Jazeera English é de propriedade da Al Jazeera Media Network, controlada pelo Qatar, um emirado vizinho no Golfo Pérsico, que vem usando seu canal de notícias em inglês para ajudar o país a aumentar sua visibilidade fora da região.

Sede da Al Jazeera em Doha, no Qatar - Imad Creidi - 11.mai.2022/Reuters

É provável que o financiamento para a iniciativa saudita tenha "uma escala incomparável", dado o desejo do país de criar um canal que ajude a "espalhar a palavra da Arábia Saudita em todo o mundo", disse uma fonte.

No entanto, outra pessoa conhecedora dos planos disse que a iniciativa só seria levada adiante se fosse considerada comercialmente viável.

Com as receitas do petróleo em alta, a Arábia Saudita está cada vez mais confiante, e busca competir com Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, como o centro financeiro da região do Golfo Pérsico.

A Arábia Saudita planeja gastar centenas de bilhões de dólares em projetos gigantescos com o objetivo de estimular e diversificar sua economia e reduzir sua dependência dos petrodólares.

A SRMG, cujo controle já foi ligado ao monarca saudita, rei Salman, e que foi presidida por seus filhos até 2014, vem se expandindo nos últimos anos.

A empresa de capital aberto administra 36 títulos, incluindo o jornal pan-árabe Al-Sharq Al-Awsat e o canal de televisão Asharq News, que tem parceria com a Bloomberg. Ela também tem parcerias com o jornal online britânico The Independent e opera suas edições no Oriente Médio.

A Arábia Saudita já é proprietária da Al Arabiya, uma emissora árabe que rivaliza com a Al Jazeera Arabic e a Sky News Arabia, dos Emirados Árabes Unidos. Todos esses canais praticam a censura e defendem as opiniões de seus governos.

A analista de mídia Claire Enders disse que os canais de notícias raramente têm lucro, mas esse não é o objetivo de proprietários como a Arábia Saudita.

Ela disse que o país tinha estudado a estratégia de mídia do Qatar —incluindo a aquisição de direitos esportivos— e estava, na verdade, seguindo o mesmo manual.

"A Al Jazeera ajudou a normalizar o Qatar. A Arábia Saudita tem recursos ilimitados para investir em uma estratégia de mídia semelhante a fim de legitimar sua posição no mundo e ajudá-la a ter acesso às pessoas. Um canal de notícias faz parte de uma estratégia de mídia multibilionária mais ampla".

A parceria da Arábia Saudita com o The Independent levantou preocupações sobre a liberdade editorial do jornal, e o mesmo pode ser dito sobre a venda de 30% das ações do grupo noticioso ao empresário saudita Sultan Muhammed Abuljadayel em 2017.

O governante diário do reino, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, é popular entre os jovens do país por suas reformas sociais, mas as mudanças foram acompanhadas por repressão aos dissidentes.

Essa repressão inclui o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi em 2018 por agentes do Estado, no consulado do reino em Istambul.

A CIA (Agência Central de Inteligência) dos Estados Unidos concluiu que o príncipe Mohammed foi responsável pela operação, o que ele nega.

A Arábia Saudita não é o único país do Golfo que está considerando investimentos em mídia.

No início deste ano, a International Media Investments, dos Emirados Árabes Unidos, criou uma joint venture de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) com a RedBird Capital Partners, de Jeff Zucker, para investimentos em mídia e esportes.

Tradução de Paulo Migliacci

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