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Investimento público no ensino quadruplica, mas aprendizado não evolui

Estado perde R$ 395 mil por jovem que não completa o ensino médio

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Laura Machado

Professora no Insper, onde coordena os programas de pós-graduação em gestão pública. Foi Secretária de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo e escreveu diversos livros sobre política social

A educação básica no Brasil é constituída de três grandes etapas: a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Fica a pergunta se o nome "médio", que se refere à última etapa da educação básica, é adequado e estimulante para o diploma dos nossos jovens de 15 a 17 anos.

No quesito investimento, o esforço do Brasil não teve nada de médio para esta etapa. Nos esforçamos muito nas últimas duas décadas.

O investimento público direto em educação por estudante do ensino médio (em valores de 2018) passou de R$ 1.810 em 2005 para R$ 8.003 em 2019. Aumentamos mais de quatro vezes o investimento por estudante.

Mãos de estudantes com lápis e cadernos sobre as carteiras
Estudantes estudando para o vestibular em São Paulo; investimento aumenta, mas sem aproveitamento - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Infelizmente, o aprendizado em matemática não acompanhou o esforço financeiro. A proficiência dos nossos alunos passou de 261 pontos na escala Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica, o equivalente a uma régua que mede o aprendizado) em 2005 para 269 em 2019, um aumento de 8 pontos. O adequado para esta etapa é algo em torno de 350 pontos.

Em outras palavras, aumentamos mais de quatro vezes o investimento e estamos estagnados com o aprendizado da nossa juventude. É como se tivéssemos vacinado toda a população e a pandemia não tivesse regredido. Continuamos no mesmo lugar.

Precisamos entender em profundidade como foram alocados os recursos no ensino médio. Custa acreditar que não poderíamos ter feito melhor com o aumento de mais de 300% de recursos.

O que fazer quando as propostas das últimas duas décadas não têm impacto nos nossos resultados? Sem dúvida, dar a esse problema a urgência que ele precisa é o primeiro passo.

O Ministério da Educação poderia e deveria convocar os nossos especialistas em ensino, em estrutura de incentivos para educação e em políticas públicas para um grupo de trabalho emergencial. Assim como foi feito para discutir os casos de violência nas escolas.

A atribuição desse grupo de trabalho seria fazer uma nova proposta para trazer melhor aprendizado aos nossos alunos e melhor uso dos nossos recursos.

Nossa sorte é que esse grupo de trabalho pode partir de experiências de sucesso que temos dentro do nosso próprio território. Temos estados brasileiros que historicamente tem os melhores resultados internos. Espírito Santo, Goiás, Pernambuco e Paraná são alguns deles. Como é feita a alocação de recursos nesses territórios? Quais são as políticas para o ensino médio? Boas referências internas não nos faltam.

O novo ensino médio é uma resposta suficiente para essa estagnação de décadas? Talvez um dos componentes importantes. No entanto, para além dele, precisamos apertar o botão vermelho, soar os alarmes, pedir ajuda e convocar nossos especialistas em educação para que elaborem uma resposta de amplo espectro, contundente, a esse problema.

Já gastamos tempo demais da nossa juventude. Um estudo do Insper com a Fundação Roberto Marinho aponta para uma perda de R$ 395 mil por jovem que não completa o ensino médio. São recursos perdidos em saúde, salário, produtividade e cultura de paz. Não temos o direito de continuar sendo menos do que medianos com a nossa juventude.

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