Descrição de chapéu Financial Times

Paris se firma como centro financeiro no pós-Brexit, mas ainda atrás de Londres

Capital francesa se livra do rótulo de 'atrasada' com expansão de bancos internacionais

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Sarah White
Paris | Financial Times

Embarcar na carreira financeira num banco de Wall Street em Paris pode ter sido considerado um prêmio de consolação para aqueles que não conseguiam encontrar um emprego em Nova York, Londres ou Hong Kong.

Saverio Michienzi-Rowedder, estagiário de vendas e trading nos escritórios do Citigroup no luxuoso 8º distrito da capital francesa, discorda.

"As pessoas notaram que Paris não é apenas um escritório atrasado", disse o jovem de 22 anos formado em administração sobre o recém-criado programa do banco na cidade, acrescentando que vários colegas do Citi agora estão buscando transferências.

Entrada de uma agência do BNP Paribas, em Paris - Loic Venance - 14.abr.12/AFP

Embora o depoimento anime Emmanuel Macron, presidente da França, que defendeu as ambições da cidade de se estabelecer como o principal centro financeiro da União Europeia após o Brexit, há evidências mais concretas de que a atração de Paris está crescendo.

Sete anos depois que o Brexit desencadeou uma luta por uma fatia dos negócios de vendas e comércio que os bancos tiveram que transferir para o continente para atender a clientes europeus, Paris surgiu como vencedora no que diz respeito aos empregos.

"Hoje, os juniores que se juntam a nós pensam: 'Posso começar em Paris e construir uma carreira lá'", disse Thierry Sancier, um dos diretores do escritório do Goldman Sachs no Arco do Triunfo. "Nos anos 1990, era ‘boa sorte para você’."

Banqueiros dizem que as cervejarias, as escolas internacionais e a possibilidade de morar perto de suas sedes no centro urbano contribuem para a atração da cidade.

Paris estaria se beneficiando de um efeito "o vencedor leva tudo", disse Ferdinand Petra, professor associado de finanças da escola de negócios HEC Paris. "Assim que você começa a conseguir algumas pessoas, outras tendem a pensar: talvez também devêssemos ir para lá."

Petra destacou que, apesar dos avanços que a cidade fez, ela ainda tem um longo caminho a percorrer para desafiar os centros financeiros estabelecidos do mundo. "É difícil ver Londres desaparecendo e Paris substituindo-a", acrescentou.

Mas, por enquanto, Paris tem o impulso. Depois de transferir um total combinado de pelo menos 1.600 funcionários para a cidade, os maiores bancos de Wall Street deverão aumentar suas equipes lá em pelo menos 420 pessoas nos próximos dois anos, segundo uma avaliação de planos do Goldman, JPMorgan, Citi, Morgan Stanley e Bank of America.

Os bancos escolheram Paris como seu principal centro comercial na UE, atraídos por uma combinação de aberturas favoráveis aos negócios e incentivos fiscais, quando Macron foi eleito em 2017, conexões rápidas de trem para Londres e o estilo de vida de uma grande capital que Frankfurt não poderia oferecer.

Embora a mudança das funções financeiras de Londres para a UE após o Brexit não tenha sido o êxodo previsto por alguns, quase 7.000 empregos foram transferidos, estimou a agência EY. Paris atraiu 2.800, superando os 1.800 de Frankfurt e os 1.200 de Dublin, segundo a consultoria.

Usando um conjunto de critérios que considera empregos em fintech, regulatórios e de seguros, a capital francesa adicionou pouco mais de 5.500 posições financeiras como resultado do Brexit, conforme uma estimativa do Choose Paris Region, grupo de lobby apoiado pelo governo municipal.

Os movimentos de alguns bancos encorajaram outros. Do HSBC e do Barclays aos credores americanos, como Wells Fargo e Bank of New York Mellon, Paris se transformou em um ponto de aterrissagem para banqueiros de investimento mais experientes. O National Australia Bank estabeleceu operações lá no ano passado.

Paris também está competindo para ser a base de uma nova autoridade antilavagem de dinheiro planejada pela Comissão Europeia, que pode criar até 450 empregos, disse Lionel Grotto, da Choose Paris Region.

Investidores, incluindo fundos soberanos como o Temasek de Singapura, estão contratando ou se estabelecendo. A Millennium Management dobrou a equipe em Paris no ano passado, para cerca de 50 pessoas.

"É fundamental que outros tenham tomado a decisão de escolher Paris também", disse o chefe global de mercados do BofA, James DeMare, em visita recente à cidade. "Você quer uma boa reserva de talentos. Dá às pessoas mais conforto, mais opções."

O BofA foi o primeiro grande banco de Wall Street a considerar a transferência de centenas de pessoas de Londres para Paris, em 2017. A força de trabalho do banco poderia ir além dos 600 que tem lá agora, disse DeMare.

Conhecida por suas escolas de engenharia e matemática de elite, Paris alimentou as fileiras dos bancos internacionais por décadas com jovens recrutas, embora em grande parte em Londres ou em pesos-pesados domésticos como o BNP Paribas e Société Générale. Mais bancos agora estão visando universidades parisienses para contratações locais.

O Morgan Stanley escolheu Paris para um centro de pesquisa de apoio à sua equipe de negociação, composta por "quants", ou analistas quantitativos especializados. O objetivo é expandi-lo para cerca de cem pessoas este ano, o dobro do plano original, depois que os executivos de Nova York ficaram impressionados com as recentes contratações, disse Emmanuel Goldstein, chefe do Morgan Stanley na França.

Mas os desafios que Paris enfrenta ainda são claros.

Londres, que está num duelo permanente com Nova York para ser o principal centro financeiro do mundo, ainda possui mais de 430 mil empregos vinculados a serviços financeiros, segundo o TheCityUK. Choose Paris Region situa o número de Paris em 340 mil.

Mesmo com a migração de empregos, a participação dominante de Londres nas receitas pan-europeias em áreas-chave, incluindo fusões e aquisições e empréstimos a grandes empresas, permaneceu praticamente intacta desde 2016, segundo dados da Dealogic.

Os bancos estrangeiros, entretanto, relutam em transferir mais funcionários de back-office e data center para a França e outros lugares da UE, por causa dos custos, bem como da vantagem de manter essas funções centralizadas, inclusive no Reino Unido.

"Não vamos trazê-los proativamente", disse um gerente sênior de um banco internacional. "No momento, em Paris, são as funções e empregos essenciais."

Muitas transferências de funcionários após o Brexit ocorreram por pressão do Banco Central Europeu e dos supervisores financeiros locais, que após o Brexit entrar em vigor no início de 2021 exigiu que os bancos encerrassem acordos temporários que haviam feito antes. Os reguladores também querem que a tomada de riscos seja gerenciada por equipes no local onde o negócio é feito.

Embora o Brexit tenha encorajado o governo da França a pensar mais sobre o futuro de Paris como capital financeira, a própria política do país ainda pode lançar uma sombra sobre essas ambições.

Desde uma reforma da lei trabalhista em seu primeiro ano de mandato que facilitou a contratação e demissão de funcionários na França, Macron tem procurado exibir suas credenciais pró-empresas.

Um ex-banqueiro de investimentos do Rothschild, o presidente cortejou pesos pesados de Wall Street, incluindo o executivo-chefe da BlackRock, Larry Fink, no Palácio do Eliseu, e o chefe do JPMorgan, Jamie Dimon, em cúpulas elegantes em Versalhes.

Mas a próxima eleição presidencial em 2027, na qual Macron não poderá se candidatar novamente, mas na qual Marine Le Pen, a líder da extrema direita do país, pode tentar concorrer mais uma vez, continua sendo uma potencial fonte de instabilidade.

Por enquanto, alguns bancos enfrentam dores de cabeça muito mais mundanas à medida que se expandem em Paris. Kyril Courboin, que dirige o JPMorgan France, disse que os planos de aumentar seu quadro de funcionários de 800 para 1 mil estão sobrecarregando seu espaço –e, além disso, um número crescente de executivos de outras partes do banco está chegando.

O JPMorgan, que comprou um segundo escritório de sete andares em 2020, está procurando mais espaço perto de sua base central na Place Vendôme.

"Como nos tornamos o centro comercial da UE, recebemos uma enorme quantidade de visitantes todos os dias, do Reino Unido, de Nova York –até 50 ou 70 pessoas por dia", disse Courboin. "Estamos começando a não ter mais espaço, é um problema real."

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