A Ford fechou um acordo para dar a seus motoristas acesso a 12 mil estações de recarga rápida na rede da Tesla, em uma tentativa de combater a ansiedade com relação à autonomia que pode desencorajar os compradores de carros a adquirir um de seus veículos elétricos.

O acordo mais do que dobra o número de estações de carregamento rápido na rede de recarga da Ford na América do Norte. Os proprietários de veículos Ford terão acesso a ela a partir do segundo trimestre de 2024, por meio de um adaptador que converte os conectores elétricos dos Superchargers da Tesla para uso no Mustang Mach-E ou na picape F-150 Lightning da Ford.

O presidente-executivo da Ford, Jim Farley, anunciou o acordo ao lado de Elon Musk, o bilionário comandante da Tesla, Twitter e SpaceX, em um evento surpresa no Twitter Spaces, a função livestream de áudio do site de mídia social.

"Estamos muito animados", disse Farley. "Estamos aumentando a produção e achamos que esse é um grande passo para o nosso setor e para todos os clientes de veículos elétricos."

A Tesla já estava planejando abrir parcialmente sua rede de 45 mil estações de recarga a todos os modelos de carros elétricos até o final de 2024, a pedido da Casa Branca e para obter acesso a US$ 7,5 bilhões (R$ 37,5 bilhões) em subsídios. A fabricante de veículos elétricos abrirá pelo menos 7,5 mil estações de recarga para motoristas de qualquer modelo de veículo elétrico, incluindo 3,5 mil ao longo das rodovias dos Estados Unidos.

O governo Biden quer disponibilizar 500 mil carregadores em todo o país até 2030, em comparação com os cerca de 130 mil disponíveis atualmente, à medida que corre para expandir a adoção de veículos elétricos.

"Não queremos que a rede de Superchargers da Tesla seja como um jardim murado", disse Musk.

Quando a segunda geração de veículos elétricos da Ford estiver disponível, em 2025, eles serão construídos com o mesmo conector que a Tesla já usa, eliminando a necessidade de um adaptador, disse Farley. O adaptador custaria na "faixa de centenas de dólares", disse Musk —não "supercaro".

As longas distâncias percorridas nos EUA geram "ansiedade de alcance" entre os motoristas, que temem ficar presos longe de uma estação de recarga. Esse temor levou as montadoras americanas a se esforçarem para obter baterias capazes de percorrer distâncias maiores com uma única carga, embora isso, por sua vez, aumente o custo do veículo. Os veículos elétricos já custam mais do que os veículos comparáveis com motores tradicionais.

A Ford vê os carregadores rápidos como uma forma de contornar o problema.

"Nosso setor é obcecado por baterias enormes, e acho que talvez essa não seja a abordagem correta", disse Farley. "Devemos fazer com que a bateria seja a menor possível... mas com uma experiência de carregamento rápido realmente excelente combinada a isso, para que não precisemos dirigir com US$ 20 mil (R$ 100,2 mil) de bateria extra".

Musk e Farley conversaram, trocaram elogios e se manifestaram sobre as dificuldades de construir carros, no livestream de 30 minutos de duração que atraiu mais de cem mil ouvintes. O diretor da montadora do Michigan contou com tristeza uma história sobre estar dirigindo na Califórnia com seus filhos, e precisando carregar o carro em uma rodovia repleta de estações de recarga da Tesla.

"Meus filhos ficavam me olhando: ‘Olha só, mais um Supercharger. Você pode parar lá? Que tal na I-5, papai?’", Farley recordou. "Eu tive de responder que não, só podíamos reabastecer nos fundos daquele outro edifício".

Tradução de Paulo Migliacci