Descrição de chapéu Folhainvest juros Selic

Bolsa cai e perde os 120 mil pontos após BC não indicar corte de juros em agosto

Dólar permanece estável na faixa dos R$ 4,70, em seus menores patamares do ano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Bolsa brasileira teve queda nesta quinta-feira (22) e fechou abaixo dos 119 mil pontos, após o Banco Central (BC) ter frustrado o mercado ao não sinalizar um possível corte de juros em agosto em seu comunicado na quarta (21). O Ibovespa terminou o dia com baixa de 1,23%, a 118.934 pontos.

Já o dólar fechou praticamente estável a R$ 4,771, após ter atingido seu menor valor do ano na sessão anterior. Indicações de que ainda há espaço para alta nos juros dos Estados Unidos apoiaram a moeda americana tanto no Brasil quanto no exterior.

O Copom (Comitê de Política Monetária) anunciou na quarta que decidiu manter a Selic em 13,75%, em linha com o esperado pelo mercado. A autoridade não deu, porém, uma sinalização clara de que pode iniciar um corte de juros em sua próxima reunião, marcada para agosto.

Em comunicado, o Copom disse que o cenário demanda "cautela e parcimônia" e disse ser necessário "paciência e serenidade". O comitê afirmou, ainda, que a conjuntura atual é caracterizada por um processo desinflacionário "que tende a ser mais lento" e por expectativas de inflação ainda preocupantes.

O tom da decisão frustrou previsões do mercado. Analistas consultados pelo último boletim Focus, do BC, projetaram no início da semana que o início de cortes da Selic deve ocorrer em agosto, principalmente após dados de inflação melhores que o esperado em maio, e a expectativa era de que a autoridade monetária abriria caminho para a redução já nesta reunião.

Fachada do Banco Central em Brasília (DF) - Gabriela Biló/Folhapress

Apesar de não dar sinais claros de uma flexibilização, o BC suavizou o comunicado em relação à decisão anterior ao descartar a mensagem que falava sobre a possibilidade de voltar a elevar a Selic se o processo de desinflação não transcorresse como esperado.

"O comunicado é mais um passo na comunicação do BC rumo a uma postura mais branda, mas não é uma promessa de corte de juros na próxima reunião. O conselho aguarda a decisão do CMN [Conselho Monetário Nacional, que define as metas de inflação] e novas melhorias nas expectativas de inflação antes de cortas as taxas", diz David Beker, chefe de economia para Brasil do Bank of America.

Mesmo sem a sinalização do BC, o banco ainda espera que o ciclo de redução de juros seja iniciado em agosto, com um corte de 0,50 ponto percentual. O BofA diz acreditar que os dados mensais de inflação devem continuar surpreendendo positivamente, o que abriria caminho para o corte da Selic.

Outros bancos e casas de análise que apostavam em um primeiro corte da taxa básica de juros em agosto, como a XP, o Goldman Sachs e o Inter, também mantiveram suas projeções.

Já o Itaú projetava o início da queda de juros para setembro e manteve a previsão, destacando que o comitê não indicou uma saída iminente da estratégia de manter a taxa de juros no patamar atual.

"O comitê reconheceu que manter a Selic em 13,75% tem funcionado, mas continua defendendo cautela e parcimônia. Os próximos passos vão depender da evolução da dinâmica inflacionária, principalmente dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, e das expectativas de inflação", disse a equipe de pesquisa macroeconômica do banco.

Após a decisão do BC, os juros futuros tiveram alta, com os contratos com vencimento em janeiro de 2024 saindo de 13,00% para 13,08%. Os para 2025 subiram de 11,09% para 11,16%, enquanto os para 2026 foram de 10,50% para 10,52%.

Com isso, a Bolsa brasileira registrou queda nesta quinta, puxada em especial por empresas do setor de consumo e pelas "small caps", companhias menores e mais ligadas à economia doméstica.

O índice de "small caps", por exemplo, que vem se destacando na Bolsa com a projeção de queda dos juros no segundo semestre, teve queda de 1,69% nesta quina, enquanto o índice "Icon", do setor de consumo, caiu 0,62%. Ambos reúnem empresas que são mais sensíveis ao movimento de juros no Brasil.

Todas as cinco ações mais negociadas da sessão registraram baixas, inclusive a Vale (0,54%) e a Petrobras (1,26%), que são as maiores da Bolsa. A petroleira sofreu pressão adicional com o declínio do petróleo no exterior e por um movimento de correção após fortes altas nos últimos pregões.

A maior queda do dia foi da Eztec, que caiu 6,64% num pregão negativo para empresas do setor de construção, que sofrem forte impacto do movimento dos juros no Brasil. A MRV, outra grande representante do setor, caiu 5,04%.

Apesar da pressão desta quinta com o comunicado do BC, ainda há espaço para crescimento da Bolsa, em especial para as "small caps", num cenário de redução de juros, como apontou a XP Investimentos em coletiva de imprensa. A corretora revisou seu "valor justo" do Ibovespa para 130 mil pontos.

No câmbio, o dólar teve leve alta ante o real ao longo do dia, mas fechou a sessão praticamente estável. A moeda americana avançou sobre outras divisas fortes no exterior, após o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, ter indicado que ainda há espaço para um aumento adicional dos juros nos EUA. Na semana passada, o Fed realizou a primeira pausa no aumento de juros desde março de 2022.

A moeda americana tende a se beneficiar de altas nos juros americanos, já que taxas elevadas aumentam o retorno da renda fixa dos Estados Unidos, atraindo recursos para o país.

Já o real é favorecido por juros mais altos no Brasil, mas boa parte do mercado acredita que, ainda que o Banco Central comece o processo de cortes da Selic no futuro próximo, os juros reais seguirão favoráveis à atração de investimentos, ainda mais num ambiente de arrefecimento da inflação. Isso, por sua vez, tem ajudado a derrubar o dólar para os patamares mais baixos em mais de um ano.

A melhora das perspectivas para a política fiscal, em especial com o avanço do arcabouço fiscal no Congresso e as expectativas sobre a reforma tributária no próximo semestre, também apoiam o real.

O economista-chefe da XP, Caio Megale, afirmou que uma queda de juros também pode aprofundar as perdas do dólar ao impulsionar a Bolsa brasileira, trazendo maior perspectiva de ganhos para investimentos no país e, consequentemente, atraindo recursos estrangeiros e valorizando o real.

Por outro lado, alguns operadores citaram receios de nova escalada nas tensões entre o governo e o Banco Central como um ponto de cautela. De fato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar a condução da política monetária, dizendo em Roma que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, "joga contra a economia brasileira".

Nos Estados Unidos, os principais índices acionários tiveram alta mesmo após o discurso de Powell. O S&P 500 e o Nasdaq subiram 0,37% e 0,95%, enquanto o Dow Jones encerrou o dia estável.

Já os índices europeus seguiram na contramão, impactados tanto pela declaração do presidente do Fed quanto pela decisão do Banco da Inglaterra de elevar os juros do país em 0,50 ponto percentual nesta quinta, promovendo um aumento maior que o esperado pelo mercado.

"A decisão do banco central britânico e a declaração de Powell trouxeram sensação de aversão ao risco. O cenário externo está cada vez mais apertado, com juros mais altos que podem permanecer nesse nível por mais tempo", diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

O índice pan-europeu STOXX 600 fechou em queda de 0,51%, a 454,70 pontos, depois de chegar a cair até 1,3% mais cedo no dia devido a temores de um aperto contínuo da política monetária por parte dos principais bancos centrais. Já o índice britânico FTSE 100 caiu 0,8%.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.