Admissão de fraude da Americanas não deve alterar negociações com credores

Perda de crédito a ser assumida pelos bancos e o prazo de pagamento das dívidas são pontos ainda em aberto

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São Paulo

A admissão de fraude nos balanços da Americanas pela própria empresa nesta semana não deve acarretar em mudanças nas negociações com os bancos credores em torno da dívida de R$ 42,5 bilhões.

Segundo fontes que acompanham as negociações, as novas informações que se tornaram públicas nos últimos dias não têm impacto direto para as conversas entre as partes e no cronograma previsto.

De acordo com as pessoas familiarizadas com as conversas, os valores referentes à agora admitida fraude se mantêm em torno de R$ 20 bilhões, e, por isso, as negociações entre bancos e credores para cobrar a dívida e, ao mesmo tempo, permitir que a empresa continue com suas operações, não devem ser afetadas.

Pessoas caminham em frente de loja da Americanas em Brasília
Pessoas caminham em frente de loja da Americanas em Brasília - Ueslei Marcelino - 12.jan.2023/Reuters

No comunicado divulgado pela varejista na terça-feira (13), a Americanas revelou que havia fraude na suposta contratação de bônus junto à indústria –uma prática comum no varejo, quando fabricantes dão descontos para grandes encomendas, que o documento apontou como "contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC)".

Por esse instrumento, o nome do fabricante aparecia em campanhas de varejistas, que por isso recebem um desconto na compra dos produtos. Mas, no caso da Americanas, esses descontos nunca foram concedidos de fato.

"Esses lançamentos [de VPC], feitos durante um significativo período, atingiram, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022", diz o relatório.

Segundo negociadores que acompanham as conversas, em reunião entre bancos credores e executivos da empresa após a divulgação das novas informações, o objetivo foi mais entender a estrutura arquitetada, e não alterar os valores que vinham sendo negociados.

Um profissional de um dos bancos que acompanha as conversas diz que os termos gerais do acordo em negociação permanecem os mesmos dos noticiados recentemente, com um aporte R$ 12 bilhões do trio de bilionários brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, donos da empresa de private equity 3G.

Em fato relevante divulgado no início de abril, a empresa afirma que a mais recente proposta apresentada aos credores financeiros indica um aumento de capital de curto prazo, em dinheiro, no valor de R$ 10 bilhões, acompanhado de dois aumentos de capital adicionais de até R$ 1 bilhão cada um, em datas futuras a serem acordadas.

Segundo a fonte consultada, a perda de crédito "substancial" a ser assumida pelos bancos, e o prazo de pagamento das dívidas, é um ponto ainda a ser concluído para permitir a conclusão das negociações.

A expectativa dos envolvidos nas conversas é que os termos do acordo sejam finalizados nas próximas semanas.

Uma conclusão formal, contudo, deve demorar mais tempo, sendo necessário o cumprimento de trâmites como a aprovação do plano pelo administrador judicial e na assembleia de credores. A republicação do balanço pela Americana também é uma etapa prévia a ser cumprida para que seja possível encerrar o processo.

Em conversa com jornalistas entre o final de abril e o início de maio para comentar os resultados do primeiro trimestre, os presidentes dos grandes bancos afirmaram ter a expectativa de que o acordo entre as partes fosse finalizado em meados de junho.

A Americanas informou por meio de nota que "vem mantendo conversas com seus credores e segue empenhada em manter negociações construtivas em busca de uma solução que permita a continuidade de suas atividades. Assim que um acordo esteja inteiramente negociado com os credores, a Companhia divulgará ao mercado todo seu conteúdo."

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