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Contas globais aumentam oferta de serviços para atrair novos clientes

Compras parceladas no exterior, contas em euro e cartão de crédito estão entre as estratégias

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São Paulo

Os gastos de brasileiros com cartões no exterior têm aumentado de maneira acelerada nos últimos meses, na esteira da gradativa retomada das viagens após a fase mais aguda da pandemia.

Dados da Abecs, associação que representa as empresas do setor de meios eletrônicos de pagamento, mostram que os gastos de brasileiros com cartões no exterior alcançaram US$ 2,72 bilhões (R$ 13,47 bilhões) no primeiro trimestre, alta de 53% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Quando comparado ao primeiro trimestre de 2019, período anterior à pandemia, o crescimento foi de 23,6%.

Consumidores carregam sacolas de compras em shopping na Pensilvânia, nos EUA
Consumidores carregam sacolas de compras em shopping na Pensilvânia, nos EUA - Mark Makela - 8.dez.2018/Reuters

Para fazer as compras com cartões em outros países, uma alternativa cada vez mais procurada pelos brasileiros são as contas digitais globais oferecidas por bancos e fintechs.

Ao longo dos últimos anos, vem aumentando de maneira importante a oferta dessas contas pelas novas empresas do setor financeiro. Uma das principais vantagens oferecidas que tem atraído cada vez mais interessados é a redução dos custos.

As contas globais têm como prática comum oferecer uma tributação reduzida de 1,1% de IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras) nas compras feitas no exterior, em comparação a alíquota de 5,38% para as compras internacionais com cartão de crédito emitido no Brasil. A alíquota reduzida ocorre porque a operação se configura como uma remessa para conta de mesma titularidade no exterior.

De modo a atrair novos clientes em meio a uma concorrência acirrada, que conta com a chegada de empresas como a britânica Revolut e investimentos de gigantes como JP Morgan e Itaú, bancos digitais e fintechs têm aumentado a oferta de serviços.

Nomad parcela compras em dólar em até nove vezes

Com uma base que soma cerca de 1,5 milhão de usuários, a fintech Nomad anunciou no dia 10 de maio o início do serviço de parcelamento de valores transacionados em dólar. O valor mínimo a ser parcelado é de US$ 100 (R$ 496,41), e as compras podem ser divididas em três, seis ou nove vezes, com taxa de parcelamento variável.

Embora o parcelamento seja comum no Brasil, é raro no exterior que empresas aceitem essa forma de pagamento. A startup financeira permite a compra parcelada a partir de cartões de créditos emitidos no Brasil. O estabelecimento no exterior recebe o valor à vista pelo cartão de débito da Nomad.

"Um diferencial é a taxa que usamos no câmbio. Fechamos pelo dólar comercial, que tem uma cotação menor que o turismo, utilizado pelos bancos e casas de câmbio", diz Caio Fasanella, diretor de investimentos da Nomad. A taxa cobrada do usuário tem uma margem de até 1% sobre a cotação de mercado. O usuário pode comprar o dólar no momento em que fechar a compra, seja ela em lojas físicas ou online.

"Se contar que, na fatura do cartão de crédito, os bancos cobram um spread de até 7% sobre o dólar turismo oficial, e a diferença no IOF, a economia para o consumidor pode chegar a 10%", afirma o executivo da Nomad.

Fasanella afirma ainda que, ao manter o dinheiro na conta internacional, o usuário já diversifica seus investimentos. "Ele já está colocando parte de seu patrimônio em dólar. A maioria dos nossos clientes tem esse perfil mais conservador. Mas a conta abre a possibilidade de investir em ativos americanos, como títulos do Tesouro e ações."

Após aporte do Itaú, Avenue planeja lançar contas em euro e libras esterlinas

Na Avenue, que oferece serviços bancários e de investimento para brasileiros no exterior por meio de uma conta em dólar, está nos planos também passar a oferecer contas digitais em euro e libras esterlinas.

Alexandre Artmann, diretor executivo de operações da empresa, afirma que os planos de expandir a oferta vieram na esteira do investimento feito pelo Itaú em 2022, que ampliou de maneira relevante a base de clientes de elevado patrimônio.

O executivo acrescenta que, além do cartão de débito já ofertado, também faz parte do planejamento estratégico do negócio o lançamento, no médio prazo, de um cartão de crédito no exterior, que permitirá aos clientes fazer compras parceladas.

A Avenue soma hoje cerca de 700 mil clientes com uma base de patrimônio de US$ 2,5 bilhões (R$ 12,4 bilhões). A meta da empresa é, até o final de 2025, alcançar a marca de 1 milhão de clientes e US$ 10 bilhões (R$ 49,6 bilhões) em recursos.

"A demanda [dos clientes] está muito forte. No início teve muito boca a boca, e com o [investimento do] Itaú, a demanda explodiu de verdade, com um forte investimento em marketing", afirma Artmann.

O executivo diz que o cliente da Avenue tem um perfil parecido com o da área Personnalité do Itaú, que exige uma renda a partir de R$ 15 mil. São pessoas que fazem viagens recorrentes ao exterior e querem manter uma parcela do patrimônio em moeda forte, diz Artmann.

C6 lança contas globais em dólar e euro para clientes PJ

O banco digital C6 Bank, que oferece ao cliente pessoa física contas com saldo em dólar desde o final de 2019, e em euro desde dezembro de 2020, passou a oferecer a partir de fevereiro e abril deste ano, respectivamente, as contas nas duas moedas também para os clientes pessoa jurídica.

Com o serviço, as empresas podem pagar despesas e realizar transferências em dólar e euro no exterior, além de fazer operações de câmbio 24h, diz Maxnaun Gutierrez, executivo responsável pela área de produtos do C6 Bank.

O IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) é de 1,1% nos envios de remessa e de 0,38% nos retornos de remessa ao Brasil. As operações adotam câmbio comercial com spread de 2% e 2,5% para dólar e euro, respectivamente, sobre as transferências em horário comercial.

"A gente acredita que já tem uma oferta bem completa, tanto para pessoa física como para pessoa jurídica e também na parte de investimentos", afirma Gutierrez.

Ele diz que o objetivo da empresa desde o início das atividades é levar ao público geral a oferta de serviços que estava até então restrita apenas aos clientes de private banking.

Segundo Gutierrez, a principal demanda dos clientes que abrem a conta global no C6 ainda é para fazer viagens no exterior, mas ele nota um interesse crescente também pela parte de investimentos, em especial com a alta de juros conduzida nos últimos meses pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) que aumentou o retorno da renda fixa global.

O executivo afirma que, com a entrada do JP Morgan, que comprou 40% do C6 em 2021, o banco americano contribuiu com sua expertise para a oferta de produtos de investimento aos clientes, que podem comprar fundos de investimento do banco americano no exterior. Também há títulos de renda fixa em dólar emitidos pelo C6 fora do Brasil.

O C6 não abre quantos clientes têm contas globais no banco. Apenas que são 20 milhões de clientes, entre contas no Brasil e no exterior.

MP sobre tributação de investimentos no exterior será acompanhada de perto pelo setor

Os executivos dizem que a tramitação da MP (Medida Provisória) 1.171, apresentada pelo governo em maio, que trata da tributação de investimentos no exterior, será acompanhada com atenção.

Até então, investimentos realizados por pessoas físicas no exterior estavam sujeitos à tributação pela tabela progressiva, com alíquota de até 27,5%. Com a MP, caso aprovada, a alíquota máxima para a renda obtida com investimentos no exterior será de 22,5%.

No entanto, se antes a tributação só ocorria com a distribuição de lucros, agora haverá exigência de Imposto de Renda ao final de cada ano, tomando como base o total de lucros auferidos no período, explica Diogo Olm Ferreira, advogado tributarista do VBSO Advogados.

"Apesar da redução de alíquotas, existe potencial para aumento de tributação. Afinal, o imposto que antes era devido somente quando os lucros fossem distribuídos, agora deverá ser pago anualmente", diz o especialista.

Artmann, da Avenue, diz que é cedo para fazer uma avaliação do impacto da MP, uma vez que ela ainda pode passar por alterações no Congresso até sua aprovação final.

De todo modo, ele diz que se trata de medida que já vinha no radar do setor. "Já tinham tentado aprovar essa medida durante a gestão do [Paulo] Guedes ainda com o [ex-presidente Jair] Bolsonaro. Já era algo que achávamos que ia acontecer em algum momento", afirma.

Ele acrescenta que a única preocupação é que a medida seja bem planejada, sem deixar espaço para arbitragens ou interpretações equivocadas. "A maior preocupação é que todo mundo entenda as regras do jogo."

Gutierrez, do C6, diz que um ponto de atenção sobre a MP diz respeito a uma eventual tributação que passaria a incidir sobre os ganhos decorrentes da valorização do dólar. Mas que "o que temos por enquanto são hipóteses que ainda não foram discutidas profundamente".

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