Disputa entre Saj e Almanara por concorrência desleal no pão sírio irá à 2ª instância

Suposta venda de receita a concorrente motivou início da ação na Justiça

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São Paulo

Quem já se deliciou com a culinária árabe em algum dos restaurantes de famílias imigrantes que estão espalhados pelo Brasil sabe que o pão sírio faz parte de praticamente todos os cardápios.

Feito basicamente de farinha de trigo, sal, fermento, água e azeite, uma das maiores diferenças entre uma receita e outra está no modo de preparo.

É aí que entra a disputa judicial por concorrência desleal entre as redes de restaurantes árabe Saj e Almanara, que está indo agora para a segunda instância.

Um pão sírio inteiro ao lado de pedaços do pão fatiados, apoiados em cima de uma tábua de madeira
Pão sírio da rede de restaurantes de comida árabe Saj. - Leo Feltran/Divulgação

O processo corre na 1ª Vara Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem do Tribunal de Justiça de São Paulo e começou em abril de 2018. A ação foi movida pelo Saj, após os donos da empresa perceberem que o concorrente Almanara estava vendendo pães sírios muito parecidos com os que já eram comercializados pelo Saj.

Isso aconteceu em 2013 e 2014, segundo o advogado da parte requerente, Renato Spolidoro Rolim Rosa. Mas foi apenas em 2017 que o caso ganhou uma reviravolta e pôde parar na Justiça. Conforme relatou o advogado à Folha, um cozinheiro do Saj teria confessado que o Almanara pagou R$ 700 para que ele ensinasse a receita do pão sírio comercializado pelo concorrente.

Spolidoro destacou que o Saj não tem patente sobre a receita, portanto não é esse o objeto da apelação da empresa, mas sim a forma como o Almanara obteve a informação. "Concorrência deve ter limites. Passaram a vender o pão feito da mesma forma, mas mais barato", argumentou o advogado. "O Saj sempre teve o pão sírio como um diferencial, na forma de servir o produto", completou.

Na última terça (6), o Almanara entrou com um recurso na Justiça de São Paulo após perder na primeira instância. O Saj tem até 15 dias úteis para se manifestar.

Procurada pela Folha, a defesa do Almanara alegou que o Saj não tem provas suficientes de que o tal cozinheiro foi pago para ensinar a receita do pão sírio. "Esse funcionário que teria vendido a receita, foi arrolado como testemunha pelo Saj. Mas ele não compareceu na audiência e o Saj desistiu de ouvi-lo", informaram os advogados da rede. Segundo a defesa do Almanara, quem testemunhou foi um outro funcionário do Saj, que disse ter ouvido a história.

Spolidoro, advogado do Saj, disse que o cozinheiro prestou declaração em cartório em 2017, confessando que vendeu a receita ao Almanara. Ele foi demitido pouco depois de a história chegar aos ouvidos de seus superiores.

Além de alegar falta de provas, a defesa do Almanara também argumenta que não há proteção legal de uma receita como a do pão sírio, que existe há milênios. "Se essa receita não é protegida, não tem por que falar em concorrência desleal", afirmaram os advogados, que se dizem confiantes sobre uma virada no processo.

Eles lembraram que uma situação semelhante aconteceu com o Paris 6, que processou concorrentes por venderem uma sobremesa semelhante à da rede de bistrôs. O Paris 6 acabou perdendo na Justiça.

Ao dar vitória parcial para o Saj em primeira instância, o juiz Luiz Felipe Ferrari Bedendi reconheceu prática de concorrência desleal e condenou o Almanara ao pagamento de R$ 25 mil por danos morais, mais correção monetária, a contar desde a publicação da sentença, em maio deste ano.

O juiz também aplicou juros moratórios de 1% ao mês desde que o Saj tomou conhecimento da denúncia de venda da receita do pão ao concorrente, em julho de 2017.

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