Descrição de chapéu Financial Times Facebook Meta

Em reação a projeto de lei, Facebook bloqueia notícias no Canadá

Meta, controladora da rede social, tenta impedir que grupos online sejam obrigados a pagar a editoras e emissoras por conteúdo

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Hannah Murphy
Fethiye | Financial Times

A Meta vai bloquear as notícias para alguns usuários no Canadá, na tentativa de impedir o governo do país de aprovar um projeto de lei que forçaria os grupos de comunicação online a pagar a editores e emissoras para transmitir seu conteúdo.

A empresa controladora do Facebook e do Instagram disse nesta sexta-feira (2) que iniciaria testes em ambas as plataformas, limitando "uma pequena porcentagem" de usuários no Canadá de visualizar, postar ou compartilhar notícias.

A medida é uma demonstração de poder enquanto o governo de Ottawa se prepara para aprovar uma Lei de Notícias Online, que forçaria grandes grupos de tecnologia a negociar acordos com editoras e emissoras de mídia canadenses de forma privada ou por meio de negociação coletiva. A lei obrigaria plataformas de internet como Facebook e Google a entrar em arbitragem se um acordo não for alcançado.

Imagem mostra as logos do Facebook e da Meta sobre o teclado de um laptop.
Logos do Facebook e da Meta - Dado Ruvic - 22.mai.23/Reuters

As tensões entre a Meta e o governo canadense já aumentaram depois que o presidente de assuntos globais da empresa, Nick Clegg, ameaçou em maio bloquear totalmente as notícias na região se a lei for aprovada, o que é esperado para o final do mês.

A Meta disse na sexta que o teste permitirá que ela se prepare para essa eventualidade. "Os testes randomizados nos ajudarão a construir uma solução de produto eficaz para acabar com a disponibilidade de notícias no Canadá", escreveu a Meta, acrescentando que os testes serão executados durante várias semanas, a partir dos próximos dias.

"Fizemos nossa escolha", acrescentou. "Embora esses testes de produtos sejam temporários, pretendemos encerrar a disponibilidade de conteúdo de notícias no Canadá permanentemente após a aprovação do Projeto de Lei C-18."

"O fato de o Facebook ainda se recusar a trabalhar com os canadenses mostra como eles [do Facebook] são profundamente irresponsáveis e distantes", escreveu Pablo Rodriguez, ministro do legado canadense, no Twitter na sexta. "Mais uma vez, esta é uma medida decepcionante da ‘big tech’, e os canadenses não serão intimidados por essas táticas."

A decisão da Meta segue um movimento semelhante do Google no início deste ano, quando desativou as notícias em seu mecanismo de busca durante algumas semanas para uma pequena parcela –menos de 4%– dos usuários canadenses. O primeiro-ministro Justin Trudeau classificou a decisão como um "erro terrível" do Google.

"Eles estão jogando, francamente", disse Paul Deegan, executivo-chefe da associação comercial News Media Canada, sobre as táticas do Google.

A Meta enfrentou uma reação negativa no início de 2021, quando decretou um blecaute temporário de notícias em resposta a um projeto de lei semelhante na Austrália, causando polêmica, pois as páginas de certas organizações governamentais de saúde e serviços de emergência também foram bloqueadas.

O projeto de lei do Canadá foi apresentado pelos legisladores como uma forma de nivelar o campo de jogo entre os grandes gigantes da tecnologia e a indústria de mídia digital em encolhimento, dando mais poder especialmente aos pequenos players locais de notícias.

A Meta afirma que seus aplicativos geram engajamento para os editores de notícias, e não o contrário. Ele argumenta que, no Canadá, o feed do Facebook enviou mais de 1,9 bilhão de cliques nos 12 meses até abril de 2022, um "marketing gratuito" no valor de mais de US$ 230 milhões.

Em maio, Clegg desistiu de uma audiência no Comitê de Patrimônio do Parlamento canadense, afirmando que originalmente se chamava "A resposta das empresas do setor de tecnologia da informação ao Projeto de Lei C-18", mas foi alterado no último minuto para "Uso atual e contínuo de táticas de intimidação e subversão das gigantes da tecnologia para fugir da regulamentação no Canadá e em todo o mundo".

A empresa sugeriu emendas ao projeto de lei, inclusive uma que retiraria de seu escopo o compartilhamento de hiperlinks. Os hiperlinks respondem por cerca de 90% das notícias publicadas na Meta, o que significa que o impacto da legislação seria bastante diluído se a emenda fosse aprovada.

"Para alguém que tem acesso pago rígido, você pode chegar ao ponto de estar esvaziando a lei", disse Deegan. "Atualmente ela é razoável, justa e equilibrada."

Jason Kint, executivo-chefe da Digital Content Next, alertou que qualquer blecaute de notícias poderia prejudicar os negócios de publicidade da Meta.

"Para uma empresa que há anos se apresenta como preocupada com a integridade da informação e a desinformação, e os danos que a ameaçam, eles literalmente bloquearão as notícias confiáveis do feed e o deixarão para o conteúdo gerado pelo usuário", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto Gonçalves

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