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Meta contínua de inflação é mais eficiente que o modelo atual, diz Campos Neto

Mudança no sistema é defendida por Haddad; CMN se reúne nesta quinta (29) para deliberação

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (29) que ter uma meta contínua para inflação é mais eficiente do que o modelo atual, que segue o ano-calendário fechado, e que esse aperfeiçoamento do sistema é "interessante".

O chefe da autoridade monetária citou as conclusões de um estudo feito por técnicos do BC sobre o assunto em 2017. Ele ponderou, contudo, que as evidências mostram que não há ganho de flexibilidade na política de juros quando há aumento no percentual da meta a ser perseguida devido ao impacto negativo sobre as expectativas de inflação.

O tema das metas de inflação será apreciado na tarde desta terça pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Quanto ao posicionamento do BC sobre eventuais mudanças, Campos Neto disse que mira o aperfeiçoamento do sistema, não o ganho de flexibilidade, mas que ainda não leu o texto do voto.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na apresentação do relatório trimestral de inflação - Pedro Ladeira/Folhapress

Na véspera do encontro do CMN, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) falou sobre a possibilidade de ser adotado um objetivo contínuo, modelo em que o BC precisa perseguir determinado alvo sem se vincular ao ano fechado, como ocorre hoje.

Na manhã desta quinta foi a vez do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defender que a meta de inflação não seja "fixa e eterna", mas um alvo flexível e adequado à realidade econômica do Brasil.

O chefe do Executivo ainda lembrou seu primeiro mandato, quando disse haver pressão para estabelecer uma meta de inflação de 3%, mas que ficava "muito difícil" cumpri-la. Então, acrescentou que a solução encontrada foi a de 4,5% com uma banda variável de dois pontos percentuais para cima e para baixo.

"Esse [modelo de meta móvel] é um ganho, é um aprimoramento, mas a gente precisa entender como vai ser feita a medição e como vai ser feita a justificação em relação àquilo", disse Campos Neto na apresentação do relatório trimestral de inflação.

"Se faz um sistema mais volátil, acaba sendo forçado a escrever um monte de cartas ou dar explicações contínuas, pode acabar tendo efeito contrário ao que queria, pode ter uma maior flexibilização", continuou.

Hoje, quando a inflação termina o ano fora do intervalo determinado, o presidente do BC precisa justificar os motivos em uma carta aberta endereçada ao ministro da Fazenda e detalhar como o problema deve ser resolvido.

Desde a criação do sistema de metas para a inflação no Brasil, em 1999, já foram escritas sete cartas —duas de autoria de Campos Neto.

Diogo Guillen, diretor de política econômica, acrescentou que mudanças no regime de inflação "não podem afetar a condução da política monetária" e defendeu que a credibilidade do sistema é um ponto crucial.

No modelo vigente, o CMN —formado pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e pelo presidente do BC— precisa decidir, até 30 de junho de cada ano, a meta de inflação que vai vigorar três anos à frente. Portanto, o colegiado deve definir nesta quinta o alvo central da política monetária para 2026.

"São duas decisões. A primeira é qual é a meta, é um voto, hoje vale para 2026, se for decidida que a meta é a mesma, pode dizer que vale a partir de hoje porque a meta é 3% e continua como 3%. A outra decisão é se vai ser ano fiscal ou se vai ser contínua. Tudo isso precisa de decreto, está sendo discutido. Não vi o texto, não sei os detalhes", afirmou Campos Neto.

Para 2024 e 2025, o objetivo já foi fixado em 3,25% e 3%, respectivamente, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

De acordo com relatos, integrantes do governo Lula buscam uma posição consensual para alterar o sistema de metas de inflação.

A indefinição em torno do tema é vista por economistas como parte da justificativa para o conservadorismo do BC na sua política de juros. O entendimento é que, uma vez que o assunto seja superado, o comportamento das expectativas de inflação deve ajudar a autoridade monetária a balizar o início dos cortes da Selic.

Questionado se manutenção da meta em 3% é crucial para manter a porta aberta para um possível corte de juros em agosto, Campos Neto disse que "o importante não é se a meta é A, B ou C, mas qual impacto isso tem na expectativa de inflação."

"Se falar que vai ter mudança de meta e expectativa vai piorar muito, isso afeta nosso trabalho de convergência. Se vai ter medida que vai fazer com que a expectativa caia, melhora a convergência e faz com que processo seja mais rápido", ressaltou.

Em meio a uma série de críticas, Campos Neto disse que se sentir pressionado "faz parte" de seu trabalho e que pretende seguir no cargo até o término de seu mandato, em dezembro de 2024.

Na terça-feira (27), a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aprovou um convite para que Campos Neto preste explicações, depois de um dos requerimentos ter sido apresentado pelo líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O chefe do BC disse ter se antecipado ao convite e ligado para o presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), se colocando à disposição para prestar esclarecimentos no Congresso após o ruído gerado pelas mensagens do comunicado e da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).

Enquanto o primeiro texto não dava sinais concretos sobre os próximos passos do colegiado, o segundo documento mostrou que a maioria vê corte de juros em agosto se inflação continuar em queda.

No último encontro, o Copom manteve, em decisão unânime, a Selic no patamar de 13,75% ao ano e deixou seus próximos passos condicionados aos dados.

O comunicado foi recebido negativamente pela equipe econômica, que interpretou o comunicado como um boicote ao governo Lula em meio à cobrança de corte de juros. A ata, por sua vez, foi vista de forma mais positiva pelo ministro da Fazenda.

Para Campos Neto, o último comunicado já tinha deixado a "porta aberta" para um corte da Selic na reunião de agosto. Ele ponderou que, apesar do ruído, houve pouco impacto sobre o preço do mercado e destacou que os dois instrumentos têm funções distintas.

"O comunicado tem a função de expressar uma opinião de consenso. A ata tem a função de explicar o que foi debatido na reunião. Se tiver opiniões distintas, explicar as opiniões", disse.

"Se for uma reunião muito dividida, como a última, e o grupo predominante for para um lado, a ata vai carregar mais para o lado que o grupo predominante foi. Poderia ter sido ao contrário", acrescentou.

Sobre um possível aperfeiçoamento na comunicação, o presidente do BC diz que foi discutido "se seria o caso" de realizar entrevistas a jornalistas depois das reuniões do colegiado.

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