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Fintechs precisam provar que resultados sólidos se sustentam, dizem especialistas

Mercado está animado com as companhias brasileiras do segmento, que mostraram bom desempenho no primeiro trimestre

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São Paulo

As fintechs brasileiras surpreenderam positivamente o mercado no início deste ano, ao entregar resultados sólidos em um ambiente extremamente desafiador, de juros altos, inadimplência atingindo níveis recordes, mercado de crédito mais restrito e desafios de continuidade de inovação após o boom inicial do segmento.

Agora, especialistas olham com atenção para o futuro de companhias como Nubank, Inter, Stone e PagBank —antes chamada de PagSeguro— para entender se os bons resultados vão se sustentar ao longo deste e dos próximos anos.

Um dos pontos dos balanços das fintechs que surpreenderam o mercado é a base de clientes dessas empresas.

Pagamento com maquininha de cartão em estabelecimento na cidade de São Paulo (SP) - Karime Xavier / Folhapress

Enquanto os bancos mais tradicionais conseguem se proteger restringindo os empréstimos a clientes que possuem nota de crédito alta e, portanto, têm baixo risco de inadimplência, as fintechs ganharam forte participação de mercado abocanhando uma fatia da população que costuma ser mais vulnerável ao endividamento.

Um estudo divulgado recentemente pelo Banco Central mostra que, em três anos, aumentou em 30,9% o número de clientes de cartões de crédito no Brasil com saldo devedor.

Segundo o BC, esse crescimento pode ser explicado pela entrada de novos "players" no mercado nos últimos anos, "o que fez com que uma parcela significativa da população brasileira passasse a ter acesso a um ou mais cartões de crédito.

Mas mesmo com uma base de clientes mais frágil, de maneira geral, as fintechs estão conseguindo crescer no mercado entregando rentabilidade, e com baixo crescimento da inadimplência. "O ritmo de receita média por cliente tem crescido em um nível alto", afirma o analista de tecnologia e mídia do setor financeiro da XP, Bernardo Guttmann.

Por outro lado, o analista Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, chama atenção para o fato de o risco dessas fintechs ter aumentando junto com o crescimento da carteira de crédito. O Nubank e o PagBank, por exemplo, aumentaram em um ano mais de 70% da sua provisão para devedores duvidosos, ou seja, a reserva do banco para casos de os clientes não pagarem os valores devidos. Isso impactou o lucro das empresas.

Mas aí também há uma oportunidade de melhora. Assim que os riscos no mercado de crédito diminuírem, essas companhias podem incrementar o lucro, conforme elas precisam provisionar menos.

Outro ponto positivo dessas fintechs, segundo os especialistas, é a melhora na gestão de custo, além da reversão de prejuízos para lucros, o que, combinado com o crescimento na participação de mercado, criou um ambiente para surpresas positivas.

GANHOS LIMITADOS?

A questão é: depois de um avanço agressivo no mercado de crédito, com uma expansão grande da base de clientes, quais as soluções que essas fintechs levantarão para continuar expandindo?

"O grosso de ganhos com a tecnologia que essas empresas poderiam obter já veio. Agora, elas precisam competir, se estruturar dentro de seus setores e se monetizar", diz o diretor de gestão de recursos da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira.

Na visão de Silveira, após as fintechs conseguirem reverter prejuízo em lucro neste trimestre, agora elas precisam pensar em estratégias para construir um futuro mais sólido.

Para ele, a Cielo pode ser um bom exemplo para as demais fintechs, após a companhia avançar na área de antecipação de recebíveis, e conseguir crescer em rentabilidade nesse mercado.

Especialistas não esperam que bancos digitais alcancem bancões

Especialistas consultados pela Folha são mais céticos com relação aos bancos digitais, devido ao modelo de negócio dessas empresas.

Silveira explica que, como essas instituições não ganham receita com serviços e já houve um aumento expressivo no mercado de crédito, inclusive com uma base de clientes ainda duvidosa devido ao ciclo macroeconômico atual, na opinião dele, vai ser difícil que essas fintechs consigam crescer suficientemente para competir com os bancos tradicionais.

Nesse sentido, Queiroz chama atenção para o Nubank. O banco está em um período de forte crescimento e com rentabilidade em construção. Segundo o especialista, o crescimento implícito do Nubank está em 67% nos próximos dez anos. E aí há uma discussão no mercado. Se a instituição acelerar sua alavancagem, ou seja, o aumento da rentabilidade com base no endividamento, vai brigar de frente com os bancões, o que pode ser um problema.

"Eu não vejo o Nubank em patamar de igualdade para brigar com os tradicionais em serviços, em crédito e muito menos em seguridade", diz. O especialista vê uma perspectiva boa para o banco, embora espere um ambiente desafiador.

O caso do Inter é semelhante. Queiroz analisa que, por serem bancos digitais, eles terão que investir constantemente em tecnologia e marketing para se sobressair e encontrar soluções, o que vai sempre impactar na rentabilidade dessas empresas. "Não consigo ver esse modelo de banco atingindo rentabilidade de Bradesco, Itaú, Santander, Caixa e Banco do Brasil. Justamente pelo que eu disse e pela dificuldade de monetizar os clientes", aponta.

Com relação ao Inter, Bernardo Guttmann, da XP, chama atenção para o fato de o banco ter apresentado, na última teleconferência de resultados, um plano ambicioso para os próximos cinco anos. "Mas o crescimento de receita no primeiro trimestre foi pouco para a ambição da empresa", argumenta.

O especialista explica que o Neobanco está adotando uma estratégia diferente do Nubank, no sentido de buscar um caminho de monetização maior do que o crescimento de participação de mercado. Guttmann diz que agora é preciso observar o futuro dos dois bancos para entender se os números positivos do trimestre vão se sustentar.

Para Silveira, da Futura Investimentos, as plataformas de investimentos podem ser uma saída arrojada para essas empresas.

Segmento de maquininhas tem melhora, mas enfrentará desafios

Falando em Stone e PagBank, Queiroz diz que elas devem acelerar seu grau de alavancagem nos próximos trimestres, o que deve gerar aceleração de rentabilidade, caso elas consigam manter a dinâmica vista no início do ano, de aumento de receita bem maior do que o de despesas.

Isso acontece porque ambas as empresas estão conseguindo diversificar sua atuação, expandindo com força a base de clientes e crescendo mais em receita por conta da entrada no mercado de crédito.

Parte dessa estratégia se refletiu na mudança de nome do PagBank, antes chamado de PagSeguro. Segundo material de divulgação dos resultados do primeiro trimestre, a companhia decidiu convergir suas diversas marcas em uma só, adotando então o único nome de PagBank, antes apenas um braço da empresa, para simplificar sua comunicação.

No caso da Stone, a empresa conseguiu avançar ainda mais nesse sentido, segundo Queiroz, porque a empresa voltou a fazer atividade bancária, trabalhando em um novo modelo e forma de atuação.

Paralelamente, Queiroz chama atenção para o fato de o segmento de maquininhas de cartão ter melhorado, com ambas as empresas apostando em um ambiente mais prudente e conservador.

Ainda assim, Silveira enxerga desafios para as adquirentes. "Houve uma corrida dessas empresas para recuperar seus balanços após problemas no desempenho em trimestres anteriores", aponta.

O especialista acredita que, assim como aconteceu com os neobancos, após crescerem rapidamente e conseguirem reverter prejuízos, essas empresas ainda têm o desafio de continuar conseguindo entregar resultados em um ambiente complexo do ciclo econômico atual.

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