Novo modelo de desoneração da cesta básica gera divergência

Reforma tributária propõe alíquota reduzida combinada com devolução de imposto

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São Paulo

A versão da reforma tributária apresentada nesta quinta (22) prevê uma nova forma de desoneração da cesta básica, com 1.380 itens que terão uma tributação equivalente a 50% da alíquota geral aplicada a bens e serviços.

Além da cobrança do imposto com alíquota reduzida, o projeto prevê devolver parte da arrecadação para a população na forma do que tem sido chamado pelo governo de "cashback do povo".

A devolução já é feita no Rio Grande do Sul e em outros países, com objetivo de transferir uma parcela maior dos benefícios para os mais pobres. Com isso, a desoneração seria total para essa parcela da população e parcial para os mais ricos.

Atualmente a desoneração é total, mas vários estudos mostram que parte do benefício não chega ao consumidor.

Com destaque para prateleira com óleo de soja em primeiro plano
Imagem de corredor de supermercado em Santo André (SP) - Rivaldo Gomes-23.abr.2021/Folhapress

Relatório do Ministério da Economia publicado em 2021 apontou também que a regra atual faz com que a maior parte do benefício seja capturado pelas faixas de maior renda.

Pelos cálculos da época, a devolução de 60% do valor arrecadado para os 50% mais pobres já ajudaria a reduzir a desigualdade no país, mesmo com um aumento de preços dos alimentos da cesta básica de 10%.

O atual Ministério da Fazenda fala em dar um "cashback" fixo para todos os brasileiros, acabando com o problema da transferência em valores maiores para a faixa de alta renda.

A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) é contra esse modelo e reivindica a desoneração total da cesta. A entidade vai realizar um estudo e levar os números ao relator da reforma para buscar alterar a proposta nesse ponto.

"Se você cria um instrumento de devolução sobre impostos para beneficiar uma determinada classe social, o instrumento para que se faça isso é a reforma tributária sobre a renda, não sobre produtos. Você acha justo ir ao supermercado e pagar mais impostos do que outra pessoa que está ao seu lado?", questiona João Galassi, presidente da Abras.

Galassi diz que o Rio Grande do Sul promove a devolução do imposto em conjunto com a política de desoneração do ICMS, algo que poderia ser adotado nos novos tributos sobre o consumo.

"Tributar alimentos para fazer uma devolução é uma incoerência total. Por que tributar algo que não deveria ser tributado para depois ser devolvido? Uma coisa não tem nada a ver com a outra."

Ainda não há definição de qual será a alíquota geral dos novos tributos, mas estima-se que ficaria em torno de 25% (percentual que há é pago hoje), considerando a soma das parcelas federal e de estados e municípios. Esse é o percentual médio estimado para manter a arrecadação no patamar atual.

Setor de serviços

A decisão do relator da proposta, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), em limitar os segmentos do setor de serviços que terão tratamento diferenciado, isenção ou alíquota reduzida também gerou críticas de entidades que entendem que haverá aumento de carga para algumas atividades.

A alíquota reduzida será aplicada a serviços de transporte público, saúde e educação, alimentos e produtos de higiene da cesta básica e atividades artísticas e culturais nacionais, entre outros. Alguns medicamentos terão alíquota de 50%. Outros, isenção total.

Haverá também regimes específicos para alguns setores, como serviços financeiros, operações com bens imóveis e planos de saúde.

Segundo Ribeiro, como 90% das empresas do setor estão no Simples Nacional, cuja adesão ao novo sistema é opcional, a maior parte dos serviços não será mais tributada por causa da reforma.

Sarina Manata, assessora técnica da FecomercioSP, afirma que a reforma vai onerar as demais empresas do setor, que atualmente têm uma alíquota de 5% de ISS e 3,65% de PIS/Cofins de tributos cumulativos (no caso do lucro presumido).

"Apesar de dizer que poderá haver alíquota reduzida, isso nos preocupa, pois ele limita essa redução a 50% e relaciona quais as atividades [terão essa diferenciação]", afirma. "90% das empresas estão no Simples, mas a grande maioria do que sobra está no lucro presumido."

A camara-e.net (Câmara Brasileira da Economia Digital) diz que apoia as questões centrais da reforma, mas também cita o risco de um aumento da tributação sobre o setor de serviços.

A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) afirma que a reforma tributária é essencial ao desenvolvimento econômico do país, mas não pode penalizar o setor de serviços.

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