Descrição de chapéu The New York Times

A missão quixotesca de Elon Musk para transformar o X em um 'app para tudo'

Dono do Twitter é o mais recente magnata do Vale do Silício a buscar um aplicativo completo, do tipo que pegou na Ásia, mas não em outros lugares.

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Ryan Mac
Los Angeles (EUA)

Quatro anos atrás, um bilionário executivo de tecnologia que liderava uma das mais importantes plataformas sociais do mundo apresentou uma visão para transformá-la num aplicativo que poderia fazer tudo. Em um manifesto online, ele escreveu que o aplicativo não seria apenas central para comunicações escritas, mas também teria áudio, vídeo, pagamentos, comércio e muito mais.

A ideia era semelhante à de um "aplicativo para tudo" adotada recentemente por Elon Musk, dono do Twitter. Mas o sonho era de Mark Zuckerberg, fundador e CEO da Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp. Em uma postagem de blog de 2019, Zuckerberg contou que transformaria o WhatsApp num aplicativo que poderia ser uma plataforma para vários "tipos de serviços privados".

Elon Musk com uma foto dele ao fundo, em Washington, DC - Olivier DOULIERY / AFP

No Vale do Silício, a busca por um aplicativo completo surgiu várias vezes, enquanto os líderes de tecnologia se esforçavam para expandir seus impérios digitais. Zuckerberg tentou. O mesmo aconteceu com Dara Khosrowshahi, CEO da Uber. Evan Spiegel, chefe do Snap, disse que também queria fazer isso.

No entanto, essas iniciativas falharam, com os executivos incapazes de replicar a mágica tão comum na Ásia com "superaplicativos" como WeChat, na China, Line, no Japão, e KakaoTalk, na Coreia do Sul. Em vez disso, as gigantes tecnológicas dos Estados Unidos se depararam com diferenças culturais, escrutínio regulatório e um sistema financeiro fragmentado que dificultava a criação desses aplicativos.

E agora Musk, que esta semana mudou o nome do Twitter para X, o apelido de seu aplicativo para tudo, está perseguindo o mesmo objetivo –e provavelmente enfrentará os mesmos desafios.

Nos EUA, as pessoas estão "acostumadas com apps de serviço único, o que torna a mudança para um app multisserviço um pouco desorientadora", disse Dan Prud'homme, professor-assistente de administração na Universidade Internacional da Flórida. "Até certo ponto, os clientes dos EUA não gostam de sentir que são dependentes demais de uma única empresa para suas necessidades diárias."

Musk está namorando um app para tudo desde pelo menos o ano passado. Semanas antes de fechar sua aquisição do Twitter, por US$ 44 bilhões, em outubro, ele tuitou que isso seria "um acelerador para a criação do X, o aplicativo para tudo".

Na segunda (24), ele tuitou sobre o "rebranding" do Twitter para X, escrevendo: "Nos próximos meses, adicionaremos comunicações abrangentes e a capacidade de conduzir todo o seu mundo financeiro. O nome Twitter não faz sentido nesse contexto, então devemos dar adeus ao passarinho".

No entanto, Musk disse pouco publicamente sobre como seria seu aplicativo para tudo, como funcionaria ou por que as pessoas gostariam de usá-lo. Em novembro, o Twitter encaminhou à Rede de Repressão a Crimes Financeiros do Departamento do Tesouro a documentação para se tornar um processador de pagamentos, e os funcionários estão construindo um serviço adequado.

Musk não respondeu a um pedido de comentário.

Seu plano enfrenta muitos questionadores. Ele "destruiu o Twitter" e prejudicou a forma como as pessoas usam a plataforma, disse Chris Messina, empresário de tecnologia e criador da hashtag. "Parece que ele vai construir uma sacola de diferentes funções e forçá-la à sua base de usuários."

Grande parte do desejo de criar um app para tudo tem origem na Ásia, onde esses aplicativos floresceram por mais de uma década. No Japão, as pessoas usam a Line, plataforma de mensagens dominante no país, para armazenar cartões de vacinação e comprar roupas. Na Coreia do Sul, o público recorre ao KakaoTalk, que começou como um serviço de mensagens, para enviar dinheiro e solicitar corridas de táxi.

Nenhum teve tanto sucesso quanto o WeChat, aplicativo de mensagens, rede social e pagamentos da Tencent usado por mais de 1 bilhão de pessoas, principalmente na China. O WeChat domina a internet móvel e é um balcão único para ler notícias, conversar com amigos, pedir pizza ou pagar o aluguel.

Muitos empresários do Vale do Silício há muito consideram o WeChat o padrão ouro em aplicativos móveis.

"Se você for à China, verá como tudo é mais fácil e dirá: 'Gostaria de ter isso para mim'", disse Ted Livingston, fundador da plataforma de mensagens Kik, apoiada pela Tencent. "O WeChat é efetivamente o sistema operacional da vida diária na China."

Em 2013, Spiegel, da Snap, também se referiu à Tencent como um modelo quando se trata de ganhar dinheiro. Em entrevista no ano passado para a Axios, ele falou com entusiasmo sobre o sucesso contínuo da Tencent com o WeChat e disse que a Snap também estava construindo um "superaplicativo do Snapchat". A Tencent investiu na Snap, mais recentemente em 2017.

Em 2019, após a oferta pública inicial da Uber, Khosrowshahi repetiu o mantra do super app. Ele disse que via seu aplicativo de transporte individual como a "Amazon do transporte" e queria que fosse o "sistema operacional para a vida cotidiana em uma cidade".

Nesse mesmo ano, Zuckerberg declarou ambições semelhantes para o WhatsApp. Desde então, Zuckerberg adicionou recursos de pagamento e comércio ao Facebook, Messenger, Instagram e WhatsApp, embora nenhum tenha se tornado um aplicativo completo.

Isso pode se resumir a diferentes ambientes regulatórios e culturais, disse Messina. Os gigantes da tecnologia dos EUA estão sob intenso escrutínio antitruste de reguladores de todo o mundo, mas as empresas de tecnologia chinesas que têm a bênção de Pequim floresceram, mesmo em meio à repressão ao poderio tecnológico.

Em novembro, Musk foi questionado em uma reunião geral no Twitter sobre sua ideia de aplicativo para tudo, disseram duas pessoas que compareceram ao evento. Um funcionário observou que havia diferenças fundamentais entre o Twitter e a Tencent, disseram as pessoas.

Musk respondeu que o interlocutor não sabia do que estava falando, e solicitou a próxima pergunta, disseram os dois participantes.

Musk não se conteve em suas previsões para X. "Se for bem feito", disse ele numa recente entrevista em podcast, X pode se tornar "metade do sistema financeiro global".

Linda Yaccarino, CEO do Twitter, também parece entusiasmada.

"X é o estado futuro de interatividade ilimitada –centrado em áudio, vídeo, mensagens, pagamentos/banco–, criando um mercado global para ideias, bens, serviços e oportunidades", ela tuitou no domingo (23). "Movido por IA, o X nos conectará de maneiras que apenas começamos a imaginar."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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