Descrição de chapéu Agrofolha

Qualidade do café sobe, mas preços caem e falta mão de obra em MG

Produtores das regiões sul e sudoeste do estado dizem que encontrar tratorista por menos de R$ 5.000 é muito difícil

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Muzambinho (MG)

A expectativa nas lavouras de café de Minas Gerais vem se confirmando, para o bem e para o mal, nos últimos meses. A safra deste ano tem qualidade melhor que as últimas, mas também está marcada até aqui por preços muito abaixo dos já praticados em anos anteriores e pela dificuldade em encontrar mão de obra qualificada.

Depois de um inverno seco no ano passado, seguido de chuva, houve a abertura de florada do café de forma mais concentrada, o que fez com que a maturação dos grãos ocorresse de maneira mais uniforme em regiões como cerrado mineiro, sul de Minas e média mogiana paulista.

Lavoura de café em Muzambinho (MG), em região em que produtores reclamam dos baixos preços na atual safra
Lavoura de café em Muzambinho (MG), em região em que produtores reclamam dos baixos preços na atual safra - Joel Silva/Folhapress

O preço da saca de 60 quilos de café oscilava de R$ 900 a R$ 1.000 até o início de junho, mas com o avanço da safra os valores já estão inferiores a R$ 830, muito abaixo dos até R$ 1.600 encontrados na última temporada. A média ficou entre R$ 1.200 e R$ 1.300 por saca.

"Diante de outras commodities, não é o preço que a gente gostaria, mas ele caiu menos do que as outras. Já tivemos preços melhores e o que ocorre é que o custo de produção subiu muito, principalmente com mão de obra", disse Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), que reúne 18 mil cooperados e é a maior do país.

A atual safra, que até a última semana já havia atingido 42,68% da área da Cooxupé, está sendo colhida com qualidade superior às das últimas safras, mas abaixo do que os cafeicultores esperavam, segundo o presidente. Em alguns locais, como o sul mineiro e a região Mata de Minas, o índice já é de 50% de área colhida.

"Esperávamos que a safra fosse melhor. Ela está melhor que as últimas, mas pouco."

A preocupação com os preços recebidos e o custo em alta também é compartilhada por produtores como os irmãos Sérgio Henrique Rocha e Suzana Santos Passos, da fazenda São Domingos, em Muzambinho.

Eles cultivam, ao lado de outros irmãos e dos pais, 86 hectares de café, que resultam, em média, em 3.000 sacas anuais. "Acreditamos que a safra será boa, mas o preço preocupa", disse Rocha.

Suzana afirmou que é preciso que o produtor trabalhe muito o seu custo de produção, e não o do mercado, para conseguir fechar as contas.

"O preço de R$ 1.200 [safra passada] para nós não foi ruim. Chegamos a conseguir R$ 1.400 e teve alguém que vendeu lotes pequenos para um público muito específico, como cafeteria, por R$ 1.600. O nosso custo saberemos com a colheita, que consome quase 50% dos gastos", disse.

Os produtores têm encontrado dificuldades para contratar empregados para funções como tratoristas e até mesmo diaristas. Muito montanhosa, a região exige destreza de tratoristas e muito trabalho manual na colheita.

Para tratoristas, os valores relatados por produtores à Folha indicam que, por menos de R$ 5.000 mensais, é difícil encontrar um profissional. Já para diaristas, os valores oscilam entre R$ 250 e R$ 400.

"Nossa região é de mão de obra escassa e tem muito trabalho [fora do campo]. Tem cooperativa, exportadora, estamos ao lado de Juruaia, que é um polo de lingerie, e há muitas fábricas aqui em Muzambinho. Isso tudo dificulta encontrar", disse o agrônomo e produtor rural Reginaldo Emerson Dias Junior.

Ele afirmou, porém, que esse fato é bom para a cafeicultura, por significar que quem está na área realmente gosta do campo, e não está na atividade apenas para obter sua renda mensal. "Precisa remunerar porque, em caso contrário, o vizinho vem e leva o cara embora."

O presidente da Cooxupé disse que o cenário se dá, também, porque o Brasil hoje é uma potência no agronegócio e a cafeicultura da região de Guaxupé está muito próxima geograficamente de grandes centros do país.

Minas Gerais é o maior estado produtor de café do país e responde por 50% do total brasileiro. A safra mineira deve chegar a 27,5 milhões de sacas neste ano, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

A produção brasileira estimada inicialmente para 2023 é de 54,94 milhões de sacas, das quais 37,43 milhões de sacas da espécie arábica e 17,5 milhões de canéforas (robusta e conilon).

A produção mundial de café foi estimada em 172,8 milhões de sacas, conforme a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o que significa que o Brasil responderá por 31,8% da oferta global.

O jornalista viajou a convite do Sebrae

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