Descrição de chapéu Financial Times carro elétrico

Vendas de veículos elétricos dão salto nos EUA

Incentivos fiscais, descontos e maior capacidade de produção elevam a demanda

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Claire Bushey
Chicago | Financial Times

As vendas de veículos elétricos nos Estados Unidos estão crescendo, atingindo o marco de 4 milhões ao final de junho, segundo dados e análises da consultoria Atlas Public Policy.

As vendas estão sendo impulsionadas por um conjunto de fatores, incluindo reduções nos preços de veículos da Tesla e Ford este ano, créditos fiscais de até US$ 7.500 (R$ 36 mil) para consumidores e aumento da capacidade manufatureira, segundo especialistas.

"Não há dúvida de que o bolo total de carros elétricos vem crescendo", comentou o fundador da Atlas, Nick Nigro.

"Mais pessoas que antes compravam veículos com motor de combustão estão comprando veículos elétricos (VEs). As vendas da Tesla estão aumentando, mas as vendas de todos os fabricantes também. Isso é sinal de um mercado forte."

Carros Tesla Model 3 em pátio da empresa em Fremont, Califórnia
Carros Tesla Model 3 em pátio da empresa em Fremont, Califórnia - Carlos Barria - 23.mai.2023/Reuters

Foram precisos quase oito anos para ser vendido o primeiro milhão de carros, caminhões e vans elétricos nos Estados Unidos, marco que foi atingido em 2018. O marco de 2 milhões levou outros 32 meses, e o terceiro milhão, 15 meses. O ritmo crescente elevou o total para 4 milhões em apenas dez meses depois disso.

Tesla, General Motors e Rivian todas anunciaram vendas fortes de VEs nos EUA no segundo trimestre, como fez a BYD na China. As vendas de VEs da Ford caíram 2% no segundo trimestre em relação ao ano passado, mas mesmo assim, no primeiro semestre deste ano foram 12% superiores ao mesmo período de 2022.

A Tesla compõe cerca de 61% do mercado, contra pouco mais de 4% no caso da GM.

Por enquanto, os carros e utilitários elétricos ainda estão sendo comprados apenas por primeiros usuários, e os veículos elétricos representam menos de 10% das vendas de veículos novos. A impressão de que eles são mainstream só existe em alguns bolsões do mercado americano, como na Califórnia, onde nos primeiros três meses deste ano quase um quarto dos veículos novos vendidos foram elétricos.

Alguns participantes da indústria automotiva querem desacelerar a transição para veículos elétricos. A Aliança para a Inovação Automotiva, associação comercial que abrange as maiores montadoras do país, disse que os padrões rígidos de emissões propostos para o país em abril assinalam "um movimento importante das metas de eletrificação do país". O sindicato nacional de trabalhadores no setor, United Auto Workers, disse na quinta-feira que os padrões de adoção dos VEs devem ser definidos em "níveis viáveis" e ser endurecidos "em um período mais longo".

Mas o aumento das vendas significa que mais pessoas provavelmente conhecem alguém que possui um veículo elétrico, disse Jessica Caldwell, diretora executiva de insights da Edmunds, "e com mais veículos elétricos transitando nas ruas, as pessoas vão ficar mais à vontade com eles".

Do mesmo modo que a indústria automotiva como um todo, as vendas de modelos elétricos vêm subindo porque a crise na cadeia de fornecimento diminuiu; as montadoras já não estão tendo tanta dificuldade em conseguir os componenes necessários para montar carros e caminhões.

Novos participantes na indústria, como a Rivian, também estão aumentando a produção à medida que superam os problemas de produção que complicaram sua fase inicial. A empresa californiana produziu quase 14 mil caminhões e picapes no segundo trimestre, superando a previsão de Wall Street em quase 3.000 unidades.

A Tesla anunciou recentemente que vai abrir sua rede de recarga de veículos elétricos Supercharger para os donos de carros e picapes produzidos pela Ford, GN e Rivian. A preocupação com a distância que um veículo elétrico consegue cobrir com uma carga elétrica é uma questão que deixa motoristas americanos inquietos, dada a disponibilidade limitada de pontos de recarga rápida públicos. A rede da Tesla de 12 mil pontos Supercharger representa cerca de 60% dos pontos de recarga rápida disponíveis para os motoristas de VEs nos Estados Unidos, segundo o analista Emmanuel Rosner, do Deutsche Bank.

Descontos oferecidos pela Tesla e a Ford contribuíram para a alta nas vendas. Entre abril e junho a Tesla entregou o recorde de 466 mil carros, depois de reduzir os preços de todos seus modelos em até US$ 13 mil nos EUA em janeiro. Isso levou a Ford a ofereceu seu Mustang Mach-E por entre US$ 46 mil e US$ 64 mil. A Tesla então reduziu seus preços outra vez em março, diminuindo o preço inicial do Model S em 5%, para US$ 90 mil, e do Model X mais barato em 9%, para cerca de US$ 100 mil.

Incentivos fiscais também estão elevando as vendas de veículos elétricos, mas não está claro em quanto. A Lei de Redução da Inflação, a grande lei de mudança climática e política industrial do presidente Joe Biden, oferece aos consumidores até US$ 7.500 em incentivos fiscais. Como destacou Caldwell, "quando há dinheiro de graça em jogo, o consumidor sempre se interessa".

Linha de produção da montadora de carros elétricos Lordstown Motors
Linha de produção da montadora de carros elétricos Lordstown Motors - Quinn Glabicki - 30.nov.2022/Reuters

Mas a lista de veículos que se qualificam para o crédito fiscal total é baseada em se o veículo é produzido na América do Norte e na origem dos materiais usados na bateria. Dos 68 modelos de VEs hoje à venda nos Estados Unidos, apenas dez têm direito ao crédito total. Três desses modelos são da Tesla, depois de a lei ter suspendido o limite para o recebimento do crédito depois de uma montadora ter vendido mais de 200 mil VEs, marco que a Tesla ultrapassou cinco anos atrás.

Os créditos fiscais beneficiam a demanda por VEs, disse Joe McCabe, executivo-chefe da AutoForecast Solutions. "Mas, francamente, estão ajudando a quem? À Tesla."

É o caso de Quinton Gaines, de Clearwater, Flórida. Sua família comprou seu Model Y no mês passado depois de tentar, sem sucesso, adquirir um Ford Mustang Mach-E. Gaines disse que quis comprar um carro elétrico porque a família queria um segundo carro e ele não podia justificar as emissões de carbono de um segundo veículo movido a gasolina.

Ele encomendou o Mach-E em novembro. Nenhuma revendedora local tinha VEs disponíveis, e a Ford garantia uma janela de seis meses para a entrega, disse Gaines. Mas quando o utilitário esportivo chegou, em junho, apresentou um defeito durante um test drive, perdendo potência em um cruzamento grande. Um policial chegou para ajudar, contou Gaines, e "a última coisa que ele me disse foi: ‘Talvez o senhor queira repensar a compra desse veículo’".

O Model Y foi o único veículo que ele encontrou no qual sentiu confiança para funcionar bem, que tinha direito ao crédito fiscal pleno e que poderia levar "quatro pessoas e um monte de cadeiras até a praia".

McCabe destacou que à medida que o mercado de veículos eletrônicos se desenvolve, as montadoras estão competindo por atenção e por clientes. "Nem todo o mundo pode vencer no espaço automotivo", ele disse, e no momento "o que se vê lá fora é o Velho Oeste".

Tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.