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Campos Neto diz que parcelamento sem juros é 'muito importante'

Declarações ocorrem após presidente do Banco Central ter sugerido a possibilidade de criar uma tarifa para frear modalidade

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou nesta terça-feira (15) que estão em debate soluções para o rotativo do cartão de crédito. No entanto, ele não deu detalhes das medidas em análise.

Campos Neto se limitou a dizer que é preciso encontrar um reequilíbrio na equação e afirmou que a modalidade do parcelamento sem juros é "muito importante" para a economia e para o consumo.

As declarações foram dadas após ele ter dito a senadores na semana passada sobre a possibilidade de criar uma tarifa para frear o parcelamento sem juros e ter levado um "puxão de orelha" por ter antecipado o tema. Campos Neto participou de almoço da FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo).

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto - Marcelo Camargo - 02.ago.2023/Agência Brasil


"Se você simplesmente limita os juros do cartão, você tem um risco de ter os bancos retirando os cartões de circulação. Por outro lado, a função do parcelado sem juros é muito importante para a economia e para o consumo, então precisa achar uma equação que reequilibre", afirmou o chefe da autoridade monetária.

"O problema é que, se nada for feito, pode afetar a existência do produto. Não fazer nada pode ser muito ruim nesse nível, nesse estágio que estamos. Vou me limitar a falar isso, porque a gente está discutindo as soluções ainda", continuou Campos Neto.

Em audiência no Senado no último dia 10, Campos Neto afirmou que acabar com o rotativo do cartão de crédito pode ser a solução para os juros altos e para a inadimplência da modalidade.

"A gente cria algum tipo de tarifa para desincentivar esse parcelamento sem juros tão longo. Não é proibir o parcelamento sem juros, é simplesmente tentar fazer com que ele fique um pouco mais disciplinado, de uma forma bem faseada para não afetar o consumo", disse aos senadores na semana passada.

Em meio à busca por uma solução sobre o rotativo do cartão de crédito, que passa eventualmente pelo redesenho do parcelamento sem juros, o BC incluiu nesta segunda-feira (14) outros participantes do mercado no debate. Foram feitas reuniões com representantes do segmento de maquininhas de cartão de crédito e do varejo brasileiro.

Segundo Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), uma das ideias colocadas na mesa de discussão foi a redução da quantidade de parcelas sem juros de forma gradativa.

"Essa redução viria em um ou dois anos de forma gradativa para não abalar o mercado, para o mercado naturalmente se adaptar. Ao final, ficaria ainda com o prazo parcelado sem juros, de seis ou nove meses, dependendo de como o mercado vai se adaptar, para poder atender principalmente ao médio ou ao pequeno", afirmou.

"A gente é a favor dessa redução gradual, em um prazo longo para não ter uma redução da oferta de crédito e atrapalhar o mercado", acrescentou.

Ao lado de outros membros do varejo, o presidente do IDV se reuniu com o diretor Otávio Damaso (Regulação) e com Marcos Barbosa Pinto, secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda.

Segundo relatos de participantes ouvidos pela Folha, essa proposta é um dos caminhos possíveis na negociação. No entanto, há dúvida se representantes do varejo brasileiro de menor porte estariam de acordo com esse modelo.

A possibilidade de alteração nas compras parceladas no cartão de crédito vem sendo criticada por associações de defesa do consumidor e representantes de varejistas.

A Abranet (Associação Brasileira de Internet) defende que não há necessidade de "prejudicar" o parcelamento sem juros para reduzir as altas taxas do rotativo. "Somos a favor de o livre mercado atuar. Se algum banco emissor quiser limitar os seus clientes a comprarem em até nove vezes, que este banco informe o seu cliente e corra o risco deste cliente migrar para outro banco", diz a instituição em nota.

Já o encontro de segunda entre representantes do segmento de maquininhas de cartão de crédito e Campos Neto gerou frustração, segundo relatos. De acordo com um interlocutor, havia expectativa de que o debate avançasse mais, porém foi apenas um primeiro passo nas discussões.

Na reunião, o BC teria solicitado –sem estabelecer prazos– dados referentes às compras com parcelamento para estudar a melhor solução para a questão.

Na mira do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a taxa média de juros cobrada pelos bancos de pessoas físicas no rotativo do cartão de crédito em junho foi de 437,3% ao ano, segundo dados do BC. Naquele mês (último dado disponível), a inadimplência na modalidade ficou em 49,1%. O rotativo é a linha de crédito mais cara do mercado, recomendada por especialistas apenas em casos emergenciais.

O rotativo é acionado quando o cliente não paga o valor integral da fatura do cartão na data de vencimento. Desde 2017, os bancos são obrigados a transferir a dívida do rotativo do cartão de crédito para o parcelado, que possui juros mais baixos, após um mês.

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