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Corretora de Warren Buffett está a US$ 2 bilhões de atingir maior valor da história

Berkshire Hathaway apoia títulos do Tesouro americano de curto prazo, apesar do clima político em Washington

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Eric Platt
Nova York | Financial Times

O caixa e os investimentos da Berkshire Hathaway em títulos do Tesouro de curto prazo subiram para US$ 147 bilhões no final do segundo trimestre, ressaltando a fé de Warren Buffett no epicentro dos mercados financeiros globais, apesar do clima político instável em Washington.

O amplo conglomerado –dono da ferrovia BNSF e da seguradora Geico– aumentou suas participações em quase US$ 17 bilhões no segundo trimestre, ficando logo abaixo do recorde histórico de US$ 149 bilhões estabelecido em 2021. Mais de US$ 120 bilhões dessa soma estão investidos em títulos de curto prazo do Tesouro americano.

O presidente-executivo da Berkshire Hathaway, Warren Buffett, em jogo de cartas em encontro anual da corretora, em Omaha, Nebraska. Buffet é um homem, calvo, de cabelos grisalhos. Veste paletó escuro, camisa branca e gravata vermelha, com ilustrações de bolinhas.
O presidente-executivo da Berkshire Hathaway, Warren Buffett, em jogo de cartas em encontro anual da corretora, em Omaha, Nebraska. Buffett é a quinta pessoa mais rica do mundo, segundo a lista da Forbes - Rick Wilking/Reuters

A divulgação ocorreu dias depois que a agência de classificação Fitch retirou os Estados Unidos de sua valorizada classificação AAA. Analistas citaram os repetidos impasses de Washington sobre o teto da dívida, o que levou os saldos de caixa do Tesouro a níveis perigosamente baixos.

Buffett, que lidera a Berkshire há mais de meio século, disse à CNBC na semana passada que a decisão da Fitch não mudaria a estratégia de investimentos da empresa e que ele não está preocupado com o mercado do dólar ou do Tesouro.

"A Berkshire comprou US$ 10 bilhões em títulos do Tesouro dos EUA na última segunda-feira", disse ele. "Compramos US$ 10 bilhões em títulos do Tesouro nesta segunda-feira. A única questão para a próxima segunda-feira é se vamos comprar US$ 10 bilhões em títulos de três ou seis meses."

A Berkshire há muito mantém dinheiro em títulos do Tesouro de curto prazo para dar à empresa a flexibilidade de pagar perdas catastróficas de seguros e ter reservas prontas para gastar em aquisições multibilionárias.

"Existem algumas coisas com as quais as pessoas não deveriam se preocupar", disse Buffett, de 92 anos. "Esta é uma."

Jim Shanahan, analista da Edward Jones, disse prever que Buffett continuará a investir dinheiro em títulos do Tesouro, dado o retorno relativamente alto oferecido.

"É preparar-se para uma cautela contínua no segundo semestre, enquanto persistirem algumas dessas evidências de desaceleração econômica e [o] impacto de taxas mais altas", disse ele. "Enquanto os preços das ações de empresas públicas e o preço das ações da própria Berkshire permanecerem elevados, não haverá muita atividade de investimento."

A Berkshire gastou US$ 1,4 bilhão em recompras de ações, bem menos do que no primeiro trimestre do ano, quando recomprou US$ 4,4 bilhões de suas ações. Ela continuou a perder ações: as vendas de US$ 12,6 bilhões superaram as compras de US$ 4,6 bilhões.

Os investidores devem esperar mais duas semanas até que a Berkshire relate mudanças individuais em suas participações, embora o registro de sábado indique que vendeu cerca de 9 milhões de ações da Chevron.

A Berkshire teve lucro de US$ 35,9 bilhões entre abril e junho, ante prejuízo de US$ 43,6 bilhões no mesmo período do ano anterior.

Os números são distorcidos por movimentos no valor de sua gigantesca carteira de ações de US$ 353 bilhões, que inclui participações na Apple, American Express e Bank of America. A Berkshire é obrigada pelas regras contábeis dos EUA a incluir essas mudanças em seus ganhos, mesmo que não tenha vendido as ações.

Excluindo esses ganhos, um número reduzido de empresas da Berkshire registrou lucro operacional de US$ 10 bilhões, acima dos US$ 9,4 bilhões do ano anterior. Os resultados foram impulsionados pelos principais negócios de seguros da empresa, cujos lucros de subscrição subiram 74%, para US$ 1,2 bilhão, bem como por suas grandes participações em dinheiro e títulos do Tesouro.

A empresa, que usa os prêmios que recebe em apólices de seguro para financiar seus investimentos, se beneficiou da medida do Federal Reserve de aumentar as taxas de juros. A Berkshire divulgou que ganhou US$ 1,4 bilhão em receita de juros no trimestre e pouco mais de US$ 2,5 bilhões no primeiro semestre do ano.

"Nossa receita de investimentos será muito maior este ano do que no ano passado, e isso está embutido", disse Buffett na reunião anual da empresa em maio. Ele estimou que a carteira de títulos do Tesouro poderia render à companhia US$ 5 bilhões anualmente, já que as taxas de juros estão agora acima de 5%.

Os resultados de seguros da Berkshire se destacaram em um setor que tem lutado com custos mais altos para reparar ou substituir automóveis e com a série de tempestades catastróficas que causaram bilhões de dólares em danos materiais.

A Geico relatou um segundo trimestre consecutivo de lucros de subscrição, após mais de um ano de perdas. A unidade cortou gastos com publicidade, aumentou os prêmios de seguros e disse que reduziu significativamente o número de consumidores que estava assegurando.

Os investidores há muito consideram os resultados da companhia como um reflexo da economia americana em geral, dada a amplitude de suas participações. Os números de sábado mostraram sinais de desaceleração do crescimento dos EUA e o impacto de taxas de juros mais altas sobre consumidores e empresas.

A ferrovia BNSF, com mais de 51 mil km de trilhos, que vão de Oakland, na Califórnia, a Chicago, em Illinois, apresentou uma queda de 12% nas receitas. Os lucros caíram quase um quarto, para US$ 1,3 bilhão, e a empresa registrou menor demanda por transporte de carga.

A operadora de paradas de caminhões Pilot, da qual a Berkshire assumiu o controle acionário este ano, vendeu menos combustível do que no ano anterior –quando muitas empresas ainda enfrentavam problemas na cadeia de suprimentos– e a preços mais baixos, atingindo as receitas em 32%.

Suas empresas de corretagem imobiliária e materiais de construção relataram que as vendas caíram, por reflexo da atividade no setor imobiliário. A companhia culpou "aumentos significativos nas taxas de juros de hipotecas residenciais" pela redução da demanda.

Houve um ponto brilhante em uma unidade que tem atormentado a Berkshire: a fabricante de peças aeroespaciais Precision Castparts. Suas vendas se recuperaram 29% em relação ao ano anterior, para US$ 2,3 bilhões, à medida que as viagens aéreas globais aumentam e a demanda das companhias aéreas por novas aeronaves dispara.

A Berkshire foi forçada a fazer uma baixa contábil de US$ 9,8 bilhões na Precision Castparts durante o auge da pandemia; ela havia adquirido a empresa em 2016 por cerca de US$ 37 bilhões.

A empresa detalhou os prejuízos esperados com os incêndios florestais nos Estados Unidos. Sua concessionária de energia elétrica PacifiCorp enfrentou litígios sobre incêndios em 2020 que destruíram milhares de casas e queimaram mais de 200 mil hectares de terras no Oregon.

A Berkshire alertou que a unidade enfrenta "perdas prováveis" de US$ 1 bilhão, observando que pode "incorrer em perdas adicionais significativas" além desse valor. As vítimas do incêndio no Oregon pediram mais de US$ 7 bilhões em indenizações, e a empresa também se defende de reivindicações de moradores da Califórnia.

Tradução por Luiz Roberto M. Gonçalves

Erramos: o texto foi alterado

Título anterior deste texto grafou incorretamente como Buffet o sobrenome de Warren Buffett

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