Descrição de chapéu América Latina China

México ultrapassa China e se torna maior parceiro comercial dos EUA

Tendência de 'nearshoring' favorece país fronteiriço, com destaque ao setor automotivo

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Washington

Em meio ao aumento de tensões com Pequim e à contínua dificuldade na cadeia global de suprimentos após a pandemia e a Guerra da Ucrânia, o México ultrapassou a China e se tornou o maior parceiro comercial dos Estados Unidos, mostram dados do primeiro quadrimestre deste ano.

Ao todo, o total do comércio entre os dois países chegou a US$ 263 bilhões (R$ 1,2 trilhões), segundo dados compilados pelo Federal Reserve de Dallas, uma das 12 unidades que compõem o sistema do Federal Reserve, o banco central dos EUA.

Ao todo, o total de exportações do México para os EUA foi de US$ 157 bilhões (R$ 743 bi) e de importações foi de US$ 107 bilhões (R$ 506 bi).

Anúncio de chegada de fábrica da Tesla em Nuevo Leon, na fronteira do México com os Estados Unidos - Julio Cesar Aguilar/AFP

No mesmo período, para efeitos de comparação, o volume de trocas entre Brasil e EUA foi de US$ 26,3 bilhões (R$ 123 bi), 56% disso em exportações dos americanos.

Assim, a participação do México chegou a 15,4% do total do comércio internacional americano, ultrapassando a China, que havia assumido o posto de maior parceira dos EUA em 2014, posição que começou a perder a partir de 2019, após a guerra comercial iniciada no governo Donald Trump.

Segundo o Fed de Dallas, cerca de dois terços dos produtos chineses exportados aos EUA são hoje tarifados, em uma média de 19,3% do valor total, muito acima da média dos países membros da Organização Mundial do Comércio, que é de 9%. Do outro lado, a China impôs tarifas ainda maiores sobre as importações americanas, de 21,2%.

Mas o volume de comércio com Pequim está longe de ser desprezível: nos primeiros quatro meses do ano, a China ocupou 12% do total do comércio internacional feito pelos EUA, atrás apenas de México e Canadá —que têm acordo de livre comércio com os americanos.

Mais do que decisões tomadas pelo México, o que vai definir se o país se consolidará no longo prazo como maior parceiro comercial dos americanos é a postura dos EUA em relação à China, diz Luis Torres, economista sênior do Fed com passagem também pelo banco central mexicano.

"Como bom economista, a resposta sobre o futuro das relações comerciais entre México e Estados Unidos é ‘depende’. A imposição de tarifas é o principal fator. Além disso, há os riscos à cadeia global de suprimentos, tensões geopolíticas, a questão de Taiwan. Se essas tensões permanecerem, acredito que o México pode definitivamente se consolidar nessa posição", afirma à Folha.

Isso, no entanto, não isenta o país de tomar medidas para aproveitar o momento proveitoso, defende, incluindo reformas em infraestruturas, como pontes, estradas e ferrovias, e investimentos em educação. O México terá eleições presidenciais no ano que vem e o tema deve estar na pauta, para acelerar o crescimento econômico do país. O Banxico (banco central mexicano) projeta um crescimento para o PIB de 2,3% neste ano.

Em meio à incerteza global, o país é o que mais tem se beneficiado do chamado "nearshoring", tendência de trazer fornecedores para países próximos geograficamente, da qual especialistas afirmam que os países da América Latina, incluindo o Brasil, podem se beneficiar.

O aumento da importância do continente para suprir as cadeias de produção americanas já está no foco do governo americano, que considera a redução da dependência da China tema de segurança nacional.

"A oportunidade está aqui e eles [governos da região] precisam tirar vantagem disso. É um casamento de conveniência, a América Latina está bem posicionada", disse José W. Fernández, subsecretário de Crescimento Econômico, Energia e Ambiente, em fórum da Americas Society que discutiu o assunto no fim de julho.

O México entra na cadeia de produção americana sobretudo na indústria automotiva, que corresponde a 24,5% das exportações, e de eletrônicos (22,4%). Regiões na fronteira com os EUA tendem a ser ainda mais beneficiadas, como Ciudad Juárez, ligada ao Texas por pontes que cruzam o Rio Grande.

A cidade tem mais de 300 fábricas, que empregam 300 mil trabalhadores em indústrias de ponta. A Tesla, do bilionário Elon Musk, pretende abrir uma fábrica no estado de Nuevo Leon, também na fronteira, no ano que vem.

Empresas de outros países também estão de olho no potencial industrial do país. Em fevereiro, a BMW anunciou que vai investir US$ 866 milhões na criação de uma fábrica de baterias de alta voltagem para carros a partir do ano que vem no estado de San Luis Potosi, prevendo que a planta comece a operar em 2027.

Os americanos fizeram um gesto importante para melhorar as relações comerciais com a China neste mês ao enviar a secretária do Tesouro, Janet Yellen, para se encontrar com suas contrapartes em Pequim. Mas enquanto as tensões permanecem, os chineses também investem no México para acessar de maneira mais fácil o mercado americano. Só no ano passado, o México recebeu US$ 282 milhões em investimentos diretos dos chineses, segundo a Secretaria de Economia do país.

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