Inflação ainda preocupa e vamos subir mais os juros se necessário, diz presidente do Fed

Em discurso em Jackson Hole, Powell destacou ainda há muitas incertezas na economia e reforçou que meta de inflação dos EUA 'é e continuará sendo 2%'

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Washington

Não espere nenhum corte dos juros nos Estados Unidos em um futuro próximo. Para o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, a inflação americana ainda não está sob controle, apesar do recuo nos últimos meses, e a autoridade monetária não hesitará em novos aumentos dos juros se achar necessário.

"Meu discurso neste ano vai ser mais longo, mas a mensagem é a mesma: nosso objetivo é fazer a inflação chegar a 2%", disse Powell nesta sexta-feira (25) em Jackson Hole, no simpósio anual conhecido por antecipar as tendências do setor financeiro.

O presidente do Fed, Jerome Powell, durante entrevista a jornalistas no final de julho - Elizabeth Frantz/Reuters

Ele também reforçou que sua postura é de cautela, e que a meta de inflação americana "é e continuará sendo 2%".

Para economistas e analistas, o presidente do Fed manteve uma postura "hawkish" —mais agressiva contra inflação e, portanto, favorável a juros mais altos. Atualmente, a taxa americana está no maior patamar em 22 anos.

"Embora a inflação tenha diminuído desde seu pico, ela ainda permanece muito alta. Estamos preparados para aumentar ainda mais as taxas de juros se for apropriado, e pretendemos manter a política monetária em um nível restritivo até que tenhamos confiança de que a inflação está diminuindo de forma sustentável em direção ao nosso objetivo", afirmou.

O mercado aguardava com atenção o que o banqueiro falaria. Com a recente desaceleração dos preços, a expectativa era de que pudesse ocorrer algum sinal de uma redução dos juros no ano que vem.

Com a sinalização de mais altas à frente, o dólar no Brasil passou a subir 0,26% frente ao real depois do discurso, invertendo a queda de 0,15% logo antes da fala do presidente do Fed. Nos EUA, a reação imediata foi de ligeira queda de 0,1% da S&P 500 e 0,3% da Nasdaq. A Dow subiu 0,1%.

Durante a maior parte do discurso, que durou cerca de 15 minutos, ele justificou por que ainda vê muita incerteza na economia.

"Ainda não podemos saber até que ponto esses dado recentes mais baixos vão se manter", alertou. Powell elencou fatores que geram preocupação, como o mercado de trabalho aquecido.

Apesar dos juros em alta, a taxa de desemprego americana segue historicamente baixa e não tem caído mesmo com a queda do número de abertura de vagas. Powell destacou essa situação como bem-vinda, "mas historicamente incomum, que parece refletir uma grande demanda excedente por mão de obra".

"Estamos navegando pelas estrelas sob céus nublados", disse.

O presidente do Fed ainda atribui essa falta de clareza ao impacto da Covid na economia, que bagunçou as cadeias produtivas globais e desequilibrou a oferta e a demanda, levando a uma disparada de preços no mundo todo.

No final de julho, o BC americano elevou os juros em 0,25 ponto percentual, para uma faixa de 5,25% a 5,50%, e deixou a porta aberta para novas altas. Desde março de 2022, quando a taxa estava próxima de zero, o Fed vem encarecendo o crédito na tentativa de desaquecer a economia e, assim, levar a inflação para dentro da meta, atualmente em 2%.

Mesmo diante de um intenso aperto monetário, a atividade econômica americana segue em expansão. Na última divulgação do PIB (Produto Interno Bruto), o resultado foi acima do esperado por economistas. Para Powell, isso também é motivo de preocupação.

Ele reconheceu o risco de uma política monetária restritiva acima do necessário prejudicar a economia, mas também alertou que uma que fique aquém abre caminho para uma dinâmica inflacionária perigosa.

Em todo o governo Biden, a economia nunca esteve tão bem. Após seguidos recordes de inflação no ano passado, a alta de preços está desacelerando. Ao mesmo tempo, o mercado de trabalho segue aquecido, e a renda do trabalho dos americanos finalmente tem finalmente registrado ganhos reais.

A conjunção dos dois fatores tem feito muitos analistas acreditarem que o Fed vai conseguir fazer o tão almejado "pouso suave", quando o efeito da alta dos juros pelo banco central é suficiente para segurar a inflação, mas sem gerar alta do desemprego e recessão.

Alcançar esse equilíbrio é um desafio para bancos centrais no mundo todo.

Não à toa, o tema de Jackson Hole neste ano são as mudanças estruturais na economia global –nas entrelinhas, estão a disparada da inflação na pandemia e a a alta dos juros em resposta, como ocorreu também no Brasil.

A premissa, segundo os organizadores, é que apesar do impacto imediato da Covid estar se dissipando, há efeitos duradouros da crise sanitária sobre os fluxos comerciais e financeiros globais.

"Da mesma forma, a resposta política à pandemia e suas consequências podem ter efeitos persistentes, à medida que as economias se ajustam às mudanças rápidas na postura da política monetária e a um aumento substancial na dívida soberana", diz o Fed de Kansas City, responsável pelo encontro.

Quando e em quanto baixar os juros é uma das principais dúvidas de economistas no mundo hoje. O principal temor é que um afrouxamento precoce da política monetária leve a inflação a disparar novamente –parte dos analistas acredita que voltar ao patamar das taxas pré-pandemia vai ser impossível, porque a alta de preços veio para ficar.

No Brasil, o Banco Central iniciou o ciclo de corte da Selic na última reunião, no início de agosto, com um corte de 0,5 p.p., para 13,25%.

Jackson Hole costuma ser palco de mensagens importantes do Fed. Nos anos 1980, o simpósio antecipou por exemplo uma alta histórica dos juros e, em 2007, alertou para problemas no setor imobiliário, que desembocariam em uma crise financeira mundial no ano seguinte.

A discussão neste ano ocorre entre os dias 24 e 26 de agosto. Pelo Brasil, vai participar o diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Abry Guillen.

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