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Presidente do BC Europeu alerta sobre riscos de inflação a longo prazo

Christine Lagarde, ex-FMI, diz que choques na economia global podem sustentar preços altos

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Martin Arnold Colby Smith
Frankfurt e Jackson Hole (EUA) | Financial Times

A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, alertou que as recentes turbulências na economia global ameaçam causar mudanças duradouras, o que manteria as pressões inflacionárias em nível alto e complicaria o papel dos formuladores de políticas monetárias.

Em fala durante a conferência anual do Fed (banco central dos EUA) em Jackson Hole, Wyoming, na sexta-feira (26), Lagarde disse que os banqueiros centrais devem estar "extremamente atentos para que uma maior volatilidade nos preços relativos não se infiltre na inflação de médio prazo através dos salários repetidamente 'perseguindo' os preços".

"Se a oferta global se tornar menos elástica, incluindo no mercado de trabalho, e a competição global for reduzida, devemos esperar que os preços assumam um papel maior no ajuste", disse Lagarde, que presidiu o FMI (Fundo Monetário Internacional) antes de estar no cargo atual.

Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, compareceu à audiência da Comissão de Assuntos Econômicos do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Bélgica. Lagarde é uma mulher de cabelos brancos e curtos. Tem pele bronzeada e veste roupa branca e brincos azuis.
Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, compareceu à audiência da Comissão de Assuntos Econômicos do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Bélgica - Kenzo Tribouillard/AFP

"Se também enfrentarmos choques maiores e mais frequentes —como choques energéticos e geopolíticos— poderíamos ver empresas repassando consistentemente aumentos de custos", acrescentou.

Os comentários de Lagarde vêm após alertas de Jay Powell, presidente do banco central dos EUA. Ele afirmou que o Fed ainda não havia vencido a inflação e pode precisar implementar novos aumentos de taxa, embora com cautela.

Os banqueiros centrais, especialmente em economias avançadas, vivem momentos críticos em suas respectivas batalhas contra a inflação. O crescimento dos preços ao consumidor diminuiu em relação aos picos recentes após a pandemia, mas ainda permanece bem acima do nível de 2% almejado por muitos.

Juntamente com as preocupações sobre uma iminente desaceleração econômica e condições financeiras mais restritas, aumentou a divergência de opiniões sobre como calibrar a política monetária para garantir que a inflação diminua sem danos desnecessários para empresas e consumidores.

O BCE deixou a porta aberta para uma pausa no aperto da política em sua próxima reunião em 14 de setembro, após elevar sua taxa de depósito de referência nove vezes consecutivas, de menos 0,5% para 3,75%.

Pesquisas recentes indicam que a zona do euro caminha para uma nova desaceleração, levando os investidores a protegerem suas apostas sobre o BCE elevar as taxas novamente no próximo mês. Grande parte disso, porém, depende da inflação e se ela continua a cair, sobretudo após a exclusão dos preços voláteis de energia e alimentos.

Lagarde, no entanto, deu poucos sinais de qual caminho estava inclinada a seguir. Apenas repetiu a necessidade de definir as taxas em níveis "suficientemente restritivos pelo tempo necessário" para trazer a inflação de volta à meta de forma oportuna.

A economia alemã encolheu ou estagnou por três trimestres consecutivos devido a uma queda em seu vasto setor manufatureiro, enquanto a interrupção do comércio global afetou sua força tradicional nas exportações. Essa apatia na maior economia da Europa levantou dúvidas sobre a capacidade do BCE de continuar a sequência de elevação nas taxas de juros.

Mas Lagarde disse em coletiva à imprensa que a economia alemã não está "quebrada" e que "eles estão consertando". Citou também como o país construiu instalações de gás natural liquefeito para substituir o gás russo em apenas seis meses.

Ela disse que os responsáveis pela definição das taxas precisavam de clareza, flexibilidade e humildade para lidar com a incerteza causada pelos múltiplos choques na economia global, o que inclui a pandemia de coronavírus e a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia.

A inflação na zona do euro caiu pela metade em relação ao pico de 10,6% do ano passado, e economistas consultados pela agência Reuters preveem que ela diminua de 5,3% em julho para 5% em agosto, quando novos dados de preços forem divulgados na próxima semana.

No entanto, um aumento no turismo europeu neste verão pode manter a inflação de serviços alta. Isso complicaria as coisas para o BCE, que afirmou que a inflação subjacente –da qual os serviços são um grande impulsionador– precisa cair de forma sustentável antes de parar d e elevar as taxas.

Questionada sobre o progresso mais lento na Europa em comparação com os Estados Unidos em termos de redução da inflação, Lagarde observou que os aumentos das taxas do BCE no ano passado começaram mais tarde do que os do Fed. Ela também observou que a dependência da Europa do petróleo russo e a proximidade da guerra na Ucrânia criaram desafios únicos para o banco central no que diz respeito ao controle das pressões inflacionárias.

Lagarde acrescentou que estava "bastante confiante" de que, até o final do ano, os números da inflação "serão significativamente diferentes do que temos no momento."

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