Descrição de chapéu Selic juros Banco Central

BC reduz Selic em 0,5 ponto, a 12,75%, e reforça importância de cumprir meta fiscal

Copom faz segundo corte de juros consecutivo na mesma intensidade e leva taxa a menor patamar em 16 meses; decisão foi unânime

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Brasília

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central seguiu a estratégia anunciada no encontro anterior e reduziu nesta quarta-feira (20) a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 13,25% para 12,75% ao ano. Todos os nove integrantes votaram pelo corte.

O Copom voltou a mencionar a questão fiscal em seu comunicado, reforçando a importância de o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumprir as metas estabelecidas. No encontro de agosto, o risco fiscal tinha sido retirado do comunicado pela primeira vez em mais de três anos.

"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação [em direção às metas de inflação] e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas", disse.

Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil.
Integrantes do Copom reunidos na sede do BC; na foto, Roberto Campos Neto à frente (à esq.) e, ao fundo, Gabriel Galípolo (3º, à esq.) e Ailton Aquino (último, à direita) - Raphael Ribeiro - 2.ago.23/BC

A equipe econômica traçou como objetivo zerar o déficit primário já no ano que vem –meta considerada ambiciosa por economistas e vista com ceticismo até por membros do próprio governo, incluindo ministros, técnicos e congressistas.

O colegiado do BC antecipou que a prevê novos cortes de mesma intensidade –ou seja, de 0,5 ponto percentual– nas reuniões seguintes e disse que esse é o "ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário".

Esse foi o segundo corte consecutivo promovido pelo colegiado do BC, que levou os juros ao menor nível em 16 meses. Em maio de 2022, a Selic estava em 11,75% ao ano.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda , Dario Durigan, disse ter recebido a decisão do Copom "de maneira muito positiva" e afirmou que a sinalização dos próximos passos dá uma "tranquilidade grande" para o mercado financeiro.

"Esperamos seguir fazendo nosso esforço, harmonizando a política fiscal para que a política monetária siga nessa tendência. É uma tendência muito positiva para o país", disse.

A autoridade monetária iniciou o processo de flexibilização de juros em agosto, em uma decisão com placar apertado (5 a 4), na estreia dos primeiros diretores indicados pelo governo Lula –Gabriel Galípolo (Política Monetária) e Ailton Aquino (Fiscalização).

O ciclo de cortes começou depois de o Copom ter mantido a Selic parada no patamar de 13,75% por um ano, a contragosto do presidente Lula, que disparou uma série de críticas à atuação do BC e fez pressão pela redução dos juros.

A decisão do Copom veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que o corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica era a expectativa unânime entre os economistas consultados, com base na sinalização feita pelo próprio BC.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas

Copom

em comunicado sobre corte de 0,5 ponto na Selic

Diante de uma expectativa do mercado financeiro por uma aceleração do ritmo de cortes de juros no futuro, o Copom falou em "serenidade e moderação".

"A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial [em direção às metas], demanda serenidade e moderação na condução da política monetária", afirmou.

Segundo o colegiado do BC, a intensidade total do ciclo de flexibilização de juros dependerá de diferentes variáveis.

Ele cita a "evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto [margem que a atividade tem para crescer até atingir sua capacidade máxima] e do balanço de riscos".

Desde o último Copom, a inflação corrente mostrou uma dinâmica mais benigna, com melhora no desempenho de preços de serviços, que estão subindo mais lentamente.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acelerou para 0,23% em agosto, abaixo da mediana das previsões do mercado financeiro.

A principal pressão no mês passado veio da alta da energia elétrica, enquanto o grupo alimentação e bebidas mostrou nova trégua. Em 12 meses, a inflação acumulada acelerou para 4,61% até agosto.

No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação subiram. Para este ano, a estimativa saltou de 4,9% para 5% e, para 2024, passou de 3,4% para 3,5%. Para 2025, a estimativa é de 3,1%, ante 3% no encontro anterior.

Para Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, as projeções de inflação indicadas pelo BC mostram um quadro "confortável", especialmente para 2025.

"A projeção de 3,1% está virtualmente na meta [o centro da meta é 3%]. Daqui para frente, 2025 começa a ganhar cada vez mais peso na decisão do comitê", afirmou.

Segundo o economista, o colegiado deixou explícito que, neste momento, não pretende acelerar o ritmo de flexibilização de juros.

Gonçalves também ressaltou que, embora o Copom tenha trazido à discussão fiscal novamente para o comunicado, o tema não foi inserido como um fator que possa gerar pressão inflacionária.

"[O comitê] colocou um comentário sobre a importância de executar as metas fiscais, mas não de maneira imediata para a discussão de riscos para o cenário de inflação", disse.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, considerou que a questão fiscal tinha um peso muito maior nos alertas anteriores feitos pelo comitê, quando o arcabouço fiscal ainda não tinha sido aprovado e o teto de gastos era desrespeitado.

"Ele [Copom] não colocou o fiscal no balanço porque, para ele, já não é um risco tão relevante. É um risco que precisa ser monitorado, mas perdeu aquele peso que tinha antes. Bem ou mal, o governo tem conseguido de alguma forma dar sinais positivos", afirmou.

Ele também ressaltou que a unanimidade da decisão fortalece o posicionamento do colegiado e elimina a preocupação de que os diretores indicados por Lula poderiam forçar uma queda mais acentuada dos juros.

Agostini disse ainda que, ao falar em "serenidade", o colegiado do BC reafirma seu plano de voo para as próximas reuniões, com movimentos de redução de 0,5 ponto a cada encontro.

Quanto à percepção dos economistas sobre a inflação, o boletim Focus mostrou interrupção no processo de queda das expectativas desde a última anterior do Copom. A projeção para o IPCA deste ano passou de 4,84% em agosto para 4,86% na última segunda-feira (18).

Para a inflação do ano que vem, a expectativa oscilou marginalmente de 3,89% para 3,86% e, para 2025, se manteve estável em 3,5% –acima do centro da meta (3%).

O BC mira hoje o objetivo fixado para 2024 e já começa a olhar também para 2025, quando terá início o modelo de alvo contínuo após mudança no sistema de metas.

No próximo ano, a meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que ela será considerada cumprida se oscilar de 1,5% (piso) a 4,5% (teto).

O cenário doméstico também foi marcado pela resiliência da atividade econômica, que levou o Ministério da Fazenda a aumentar sua projeção de crescimento para o PIB (Produto Interno Bruto) em 2023, de 2,5% para 3,2%. Houve ainda alta nos preços do petróleo e depreciação da taxa de câmbio.

Em seu balanço de riscos para a inflação, o BC continuou com a avaliação de que permanecem fatores em ambas as direções. Entre os motivos que puxariam os preços para cima, mencionou a persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.

Na direção contrária, entre os ricos de baixa, o comitê citou uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O Copom volta a se reunir nos dias 31 de outubro e 1º de novembro para recalibrar o patamar da Selic.

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